Lula, em declaração conjunta, disse que A África é a região do mundo que menos emite gases do efeito estufa, mas uma das que mais sofrem as consequências perversas do aquecimento global; veja a íntegra da declaração de Lula
Quando o presidente Tinubu e eu nos encontramos à margem da Cúpula da União Africana, em 2024, decidimos que essa situação precisava mudar
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(Brasília-DF, 25/08/2025) O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o encontro com o presidente da Nigéria, fez uma fala, declaração conjunta, em que destacou que “a África é a região do mundo que menos emite gases do efeito estufa, mas uma das que mais sofrem as consequências perversas do aquecimento global.”, disse.
Veja a íntegra da declaração:
Excelentíssimo presidente da República Federal da Nigéria, Bola Tinubu. Ministros e ministras que acompanham o presidente da Nigéria. Ministros brasileiros que acompanham este encontro com a Nigéria.
Meus amigos e minhas amigas,
Esta é a terceira viagem do presidente Tinubu ao Brasil em menos de um ano.
Ele veio ao Rio de Janeiro para as Cúpulas do G20 e do BRICS.
Hoje eu tenho a honra de recebê-lo para uma visita muito especial.
A última vez que um chefe de Estado nigeriano esteve em Brasília foi em 2009.
Por anos, a Nigéria foi nosso maior parceiro comercial na África.
Mas, na última década, o intercâmbio diminuiu drasticamente.
De 10 bilhões de dólares em 2014, passamos a 2 bilhões de dólares, em 2024.
Não foi por acaso. Nos últimos governos, o Brasil se distanciou da África.
Duas das maiores economias da América Latina e da África devem ter um intercâmbio muito maior.
Quando o presidente Tinubu e eu nos encontramos à margem da Cúpula da União Africana, em 2024, decidimos que essa situação precisava mudar.
Nos últimos meses, nossas equipes mantiveram contatos intensos.
O ministro Mauro Vieira esteve em Abuja em março.
O vice-presidente Geraldo Alckmin foi à Nigéria em junho, para reunião de Mecanismo de Diálogo Estratégico bilateral.
Dois ministros nigerianos participaram do II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, que organizamos aqui em Brasília, em maio.
Hoje acolhemos expressiva delegação de ministros, parlamentares e empresários nigerianos.
Nesse período, já assinamos vários acordos sobre defesa, agricultura e pecuária, segurança, produção audiovisual, comércio e investimentos, turismo e energia.
Hoje estamos firmando mais cinco acordos, nas áreas cultural, de serviços aéreos, de ciência e tecnologia e de diálogo político.
Neste momento em que ressurgem o protecionismo e o unilateralismo, Nigéria e Brasil reafirmam sua aposta no livre comércio e na integração produtiva.
Seguimos empenhados na construção de um mundo de paz e livre de imposições hegemônicas.
São muitas as possibilidades de sinergias dos dois maiores países de população negra do mundo.
A agricultura e a pecuária, petróleo e gás, fertilizantes, aeronaves e maquinaria, entre outros, representam avenidas amplas de cooperação.
Aumentar as conexões diretas entre Nigéria e Brasil é outro passo essencial para aprofundar os laços entre nossas sociedades.
Aprovamos o início de um voo direto, a ser operado pela maior companhia aérea nigeriana, a Air Peace, entre Lagos e São Paulo.
Incentivar que nigerianos e brasileiros possam vivenciar o imenso patrimônio cultural e histórico que compartilhamos é chave para desenvolvermos ainda mais a parceria bilateral.
Com seus 230 milhões de habitantes, e seu imenso e rico território, a Nigéria é um parceiro do BRICS e um importante ator nos debates sobre a reforma das instituições de governança global.
A Nigéria possui todas as credenciais para se tornar membro pleno do G20. Compartilhamos posições muito parecidas a respeito do papel do Sul Global em uma ordem multipolar.
Nossas regiões precisam estar adequadamente representadas em um Conselho de Segurança das Nações Unidas reformado.
Reafirmamos nosso compromisso com o multilateralismo com a Organização Mundial do Comércio, dirigida pela economista nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala.
A preocupação com o combate ao crime organizado, o terrorismo e ao tráfico internacional de drogas também esteve no centro de nossa reunião de hoje.
Uma das consequências perversas da globalização é a articulação de grupos criminosos para além das fronteiras nacionais.
Nenhum país isoladamente conseguirá debelar a criminalidade transnacional.
A criminalidade está evoluindo a uma velocidade sem precedentes, exigindo ações multilaterais urgentes e coordenadas.
Foi esta a mensagem que transmiti aos países que integram a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, na última sexta-feira, em Bogotá.
A Nigéria foi um dos primeiros países a apoiar a vitoriosa candidatura do Brasil para a Secretaria-Geral da INTERPOL.
Ainda neste semestre, o Brasil vai designar um adido da Polícia Federal para atuar em Abuja, para aprofundar a coordenação entre nossos países.
Fortalecer a segurança pública também significa proteger a natureza.
Expus ao presidente Tinubu que meu compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030 passa por atuar na repressão a todo tipo de ilícito ambiental.
A Nigéria também compartilha da urgência com que precisamos combater a mudança do clima e preservar a saúde do planeta.
A África é a região do mundo que menos emite gases do efeito estufa, mas uma das que mais sofrem as consequências perversas do aquecimento global.
Espero contar com expressiva participação de países africanos na COP30.
Os instrumentos internacionais hoje existentes são insuficientes para recompensar de forma eficaz a proteção das florestas, sua biodiversidade e os povos que vivem, cuidam e dependem desses biomas.
Por essa razão, convidei o presidente Tinubu a apoiar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que o Brasil pretende lançar durante a COP30, para remunerar países detentores de florestas tropicais.
Meu caro presidente Tinubu, meus caros companheiros e companheiras que vieram da Nigéria para esse pequeno encontro com o governo brasileiro.
É importante que a gente diga, aos olhos da imprensa brasileira e da imprensa nigeriana, que o Brasil tem uma preocupação muito particular e peculiar com a nossa relação com a África e com todo o continente africano.
O Brasil tem noção do que significa a nossa história, a nossa cultura, o nosso jeito de ser, a nossa cor, a nossa alegria, a nossa música, com 350 anos de escravidão a que o povo negro africano foi submetido aqui no Brasil.
E a única forma da gente pagar não pode ser mensurada em dinheiro, tem que ser mensurada em solidariedade, tem que ser mensurada em alinhamento político, econômico e cultural, porque o Brasil tem que ajudar a África transferindo tecnologia, transferindo conhecimento, tudo aquilo que a gente aprendeu aqui no Brasil e que deu certo. Sobretudo na área agrícola, o Brasil tem obrigação de ajudar o continente africano a ter o mesmo desenvolvimento que nós tivemos aqui.
Nós já pensamos nisso muito tempo. E isso depois não andou, mas, agora, presidente Tinubu, pode estar certo que essa sua vinda ao Brasil, hoje, significa, definitivamente, a volta do Brasil ao continente africano.
Não como um país que quer ter relação hegemônica com ninguém, mas um país que quer ter uma relação solidária, fraterna, igualitária, pensando no crescimento do povo africano e pensando no crescimento do povo brasileiro.
Por isso, esteja certo que hoje é um dia muito importante para mim, muito importante para o meu país e, pode ter certeza, vai ser um dia muito importante para a história da Nigéria.
Muito obrigado.
( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)