31 de julho de 2025
Brasil e Poder

BRASIL X EUA: Petistas rebatem Ernesto Araújo: “no seu governo é que o Brasil virou pária internacional”, provocou o ministro à fala de Jaques Wagner; “respeite para ser respeitado”, pediu Rogério Carvalho

Responsável pelas Relações Exteriores do governo brasileiro, o ministro respondeu as questões levantadas pelos senadores petistas num tom agressivo, acusando os senadores de terem elevado o tom primeiro

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( Publicada originalmente às 14h 59 do dia 24/09/2020) 

(Brasília-DF, 25/09/2.020) A audiência pública da comissão de Relações Internacionais do Senado Federal(CRE) que ouviu nesta quinta-feira, 24, o ministro das Relações Exteriores do governo brasileiro, Ernesto Araújo, sobre a vinda ao território brasileiro do secretário de Estado dos Estados Unidos (EUA), Mike Pompeo, teve seu momento de maior enfrentamento quando o integrante da gestão do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) foi perguntado pelos senadores do Partido dos Trabalhadores (PT).

Ao elevar o tom contra os petistas, o ministro teve sua fala interrompida pelo líder da legenda naquela Casa legislativa, Rogério Carvalho (PT-SE), que levantou uma questão de ordem. A intervenção do petista sergipano aconteceu quando Araújo afirmava ao senador Jaques Wagner (PT-BA) que foi durante os governos dos ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, “que o Brasil virou pária internacional”. Foi aí que Rogério Carvalho argumentou sua questão de ordem: “respeite para ser respeitado”.

O ministro respondia, segundo ele, as provocações feitas pelo senador baiano que afirmara que o atual governo brasileiro tinha virado “motivos de chacotas da imprensa internacional” e que por conta do comportamento da atual gestão federal “nós temos tido muitas reprimendas, muitos puxões de orelha dos investidores internacionais, inclusive em Davos [na Suíça], que dizem: ‘desse jeito, nós não vamos investir no Brasil, com as bravatas ditas por alguns do governo’”.

Ernesto Araújo enfrentou o petistas

“Bastante esclarecedora a exposição do ministro. Ficou claro para todos nós que a iniciativa dessa visita ao Brasil não foi um convite do nosso país. Foi uma iniciativa do próprio chefe de Estado americano, se assemelhando muito a instruções que são dadas a subalternos. A mim parece que nós vivemos um episódio vergonhoso para a diplomacia do Brasil, que gerou surpresa e indignação. Todos os ministros de Relações Exteriores, desde o governo Itamar até o governo Temer se colocaram contra a forma como isso foi feito, a começar pela escolha do local”, falou o senador Humberto Costa (PT-PE).

“Por que essa visita de interação não aconteceu em Brasília, e ela aconteceu lá em Roraima? Em nome dos direitos humanos? Que direitos humanos o Brasil defende, tendo ficado calado diante do golpe de Estado na Bolívia e de massacres de camponeses? Onde está a política de direitos humanos do Brasil que hoje se alinha às repúblicas mais atrasadas, em defesa da discriminação contra mulheres, contra grupos de gays, de lésbicas, como o Brasil tem se posicionado na Comissão de Direitos Humanos da ONU?”, complementou o petista pernambucano.

“Quando o senhor fala de corrupção, o senhor precisa explicar a corrupção na família do presidente [Bolsonaro]. Se é esse o nível que quer trazer para o debate aqui, [então] precisa explicar a corrupção na família do presidente. Aí a gente começa a discutir corrupção, porque o Fernando Pimentel foi inocentado, o Vaccari foi inocentado, o Paulo Ferreira foi inocentado, o Delúbio Soares foi inocentado e o Genoíno foi inocentado. Então, se quer falar de corrupção, vamos começar pela família do presidente. Por uma questão de respeito. Ou a gente faz o debate de alto nível ou a gente vai começar o debate por aí”, completou o líder petista.

Resposta do ministro

“Eu vi claramente, em vários países sul-americanos, como o Brasil era considerado um país que exportou corrupção. Vi isso no Peru, vi isso na Colômbia, inclusive durante minha atividade anterior no Departamento de Assuntos Interamericanos do Itamaraty. Ficou bastante clara qual era a imagem que o Brasil passava na América do Sul e ao redor do mundo. Instruções dadas a subordinados, como dizia o senador Humberto Costa, acho que era o que muitas vezes acontecia entre o presidente Hugo Chávez e o então presidente Lula. Bom, acho que já esclareci a questão de documentos. Foi a preparação normal de qualquer visita. São documentos do Itamaraty, enfim, que preparam nossas posições”, continuou na sua assertiva o ministro.

Senador Rogério Carvalho se irriou com Ernesto Araújo 

Mais respostas

Responsável pelas Relações Exteriores do governo brasileiro, o ministro respondeu as questões levantadas pelos senadores petistas num tom agressivo, acusando os senadores de terem elevado o tom contra ele primeiro.

“Benefícios para o Brasil? Acho que muitos benefícios estão vindo, acordos comerciais que não conseguiam ser negociados em 20 anos, acordos tecnológicos, enfim, sem nenhuma perspectiva ideológica, porque se fala muito que somos a favor dos Estados Unidos e contra a China. Ora, o comércio com a China cresceu, em alguns produtos, em até 30% neste ano. Fala-se em Israel e países árabes. O nosso comércio com os países árabes, em 2019, cresceu 10% em comparação com 2018. Então, são benefícios muito concretos e que desmentem completamente essa perspectiva ideológica”, observou.

“E só para concluir, em relação à questão de ordem, quem foi chamado de pária foi o nosso governo, e de maneira totalmente inverídica e nenhum apoio aos fatos. Então, o respeito tem que se dar à pessoa. Eu não elevei a voz, como o senador Rogério elevou para mim. Então, não faltei com o respeito com ninguém aqui. Eu que fui chamado de pária, o senhor é que me chamou de pária. [interrupção do microfone] É o nosso governo! Mas num tom agressivo e com a voz elevada que eu não usei aqui com o senhor nem com ninguém. Então, eu também gostaria de ter esse respeito no tom de voz que é usado em relação a mim”, completou.

“Bem, de toda forma, também respeito aos fatos, porque claro que toda avaliação às vezes é subjetiva nesse tipo de fala, mas não há absolutamente nenhum elemento objetivo que embase esse tipo de afirmação de que o Brasil está perdendo prestígio, ou de que nós não somos recebidos, ou de que o Brasil é pária. Não existe absolutamente nunca, nas alegações de pessoas que não gostam do que a gente está fazendo, não há absolutamente nenhum fato objetivo que seja citado, para citar essas alegações”, finalizou.

(por Humberto Azevedo, especial para a Agência Política Real, com edição de Genésio Jr.)