31 de julho de 2025
Brasil e Economia

INFLACÃO: Campos Neto explica a saída de investimentos no Brasil, tanto em renda fixa, ações e investimento direto

Veja considerações finais do Relatório Trimestral de Inflação do BC, divulgados, hoje

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( Publicada originalmente às 15h 30 do dia 24/09/2020) 

(Brasília-DF, 25/09/2020)  O Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na fala aos jornalistas ao final da manhã desta quinta-feira, 24, falou sobre a saída de investimentos estrangeiros no Brasil, ao contrário do que disse o presidente Jair Bolsonaro em sua fala na abertura da 75ª assembleia Geral das Nações Unidas(ONU).  Ele disse sobre a saída de investimentos estrangeiros em renda fixa é explicada pela redução dos juros no país. “À medida que os juros vão reduzindo no Brasil e existe uma percepção que o risco aumentou por um tema fiscal ou pela própria crise que a pandemia geral, há saída de renda fixa. Parte disso está explicada pelo menor retorno que o foi o processo de queda de juros”, afirmou.

Campos Neto lembrou que houve também saída de investimentos em ações. “A gente vem descrevendo esse processo, que foi mais do que equilibrado pela de entrada dos [investidores] locais”, afirmou. Segundo ele, há uma retomada desses investimentos em países emergentes, mas o “Brasil tem recebido dessa retomada uma parcela menor do que saiu”.

Quanto aos investimentos diretos no país (IDP), os que vão para o setor produtivo, Campos Neto afirmou que deverá haver redução da entrada de recursos por influência da crise gerada pela pandemia. “Em anos de grande crise tende a ter uma queda do IDP”, lembrou, acrescentando que também houve redução do IDP em 2009, ano de crise. Mas disse que deve haver retomada desses recursos nos próximos anos.

Para este ano, o BC reduziu a projeção para o IDP de US$ 55 bilhões para US$ 50 bilhões. Em 2021, o BC espera recuperação nas entradas líquidas de IDP, em linha com crescimento do PIB no ano, atingindo US$ 65,2 bilhões (4,3% PIB).

Veja os destaques finais do Relatório Trimestral de Inflação extraído pela Política Real:

Condicionantes de câmbio nas projeções do Banco Central do Brasil e a paridade do poder de compra

As projeções de inflação do Banco Central do Brasil (BCB) são condicionais a trajetórias exógenas de determinadas variáveis. Essas trajetórias compõem o cenário prospectivo da economia e são oriundas de modelos satélites, de julgamentos do Comitê de Política Monetária (Copom) ou de regras simples que sejam convenientes do ponto de vista de análise econômica.

A taxa de câmbio é uma das variáveis-chave na construção das projeções de inflação. No Relatório de Inflação, o BCB publica cenários condicionais à trajetória de taxa de câmbio constante e à trajetória oriunda da pesquisa Focus. Em comunicados e atas, o BCB tem focado recentemente nos cenários nos quais a taxa de câmbio permanece constante ao longo de todo o horizonte de projeção.

A hipótese de trajetória de taxa de câmbio constante tem como qualidades a simplicidade e a consonância com evidências que apontam para as dificuldades em se prever a taxa de câmbio. Entretanto, essa hipótese não considera os potenciais efeitos do diferencial entre as inflações doméstica e externa sobre o câmbio. Na literatura econômica, a relação entre câmbio e diferencial de inflação é usualmente considerada por meio da teoria da paridade do poder de compra (PPC). Na sua versão em diferenças, a variação da taxa de câmbio deve ser dada pela diferença entre as inflações doméstica e externa. Dado que a inflação no Brasil tende a ser superior à externa, a adoção de hipótese de trajetória de câmbio de acordo com a PPC evitaria a utilização de trajetória de apreciação real do câmbio, apreciação essa que eventualmente levaria a uma subestimação das projeções de inflação. Essa hipótese também confere coerência entre as projeções e as condições teóricas de longo prazo da modelagem da curva de Phillips de preços livres.

Desse modo, visando aprimorar a formulação das projeções condicionais, o Copom decidiu que passará a utilizar cenário em que a taxa de câmbio evolui segundo a PPC, em substituição aos cenários de trajetória de câmbio constante. Considerando facilidade no processo de formulação das projeções e simplicidade de comunicação, o diferencial de inflação considerado será a diferença, a cada ano, entre a meta para a inflação no Brasil e a inflação externa de longo prazo, considerada aqui como de 2% a.a., em linha com a meta para a inflação da maioria dos países desenvolvidos.

Para que haja maior consistência interna entre os condicionantes, assumir-se-á, nesse cenário, que a trajetória de preços em dólares das commodities, incluindo o petróleo, a partir de determinado ponto do horizonte de projeção, crescerá à mesma taxa de inflação externa de longo prazo. A definição do período a partir do qual essa hipótese será utilizada dependerá de julgamento do Copom. Ressalta-se que os valores utilizados para a taxa de câmbio e o preço de commodities não representam, de forma alguma, uma avaliação do Copom sobre suas trajetórias futuras. Constituem apenas hipóteses de trabalho e a divulgação dos seus valores está em linha com a transparência da comunicação da política monetária.

Observando a experiência internacional, há uma elevada diversidade de hipóteses acerca do comportamento da taxa de câmbio consideradas por diferentes bancos centrais em suas projeções de inflação. Vários adotam cenários de câmbio baseados em modelos, julgamentos ou teorias – como, por exemplo, os da África do Sul, Chile, Noruega e Suécia –, enquanto outros adotam a suposição de câmbio constante, como os casos da Austrália, Canadá e Banco Central Europeu. A PPC é utilizada, por exemplo, pelos bancos centrais da Colômbia e Filipinas, embora conjugada com a teoria da paridade descoberta da taxa de juros . A publicação  ou não da trajetória de câmbio utilizada também varia entre os bancos centrais. Cabe notar que os países desenvolvidos usualmente apresentam um menor diferencial de inflação em relação aos Estados Unidos. Assim, a trajetória de câmbio constante, quando utilizada por esses países, tende a ser próxima à hipótese de que o câmbio varie segundo a PPC.

O Gráfico 1 ilustra a mudança de hipótese para a taxa de câmbio. Enquanto a trajetória de câmbio constante permanece em um valor fixo ao longo do horizonte de projeção, o novo cenário mostra uma curva positivamente inclinada. Por exemplo, para 2021, como a meta para a inflação é de 3,75%, a variação da taxa de câmbio considerada no cenário é de 1,75% no ano.

Considerações finais

A adoção de trajetória de câmbio variando segundo a teoria da paridade do poder de compra, em substituição ao cenário de câmbio constante, constitui-se um aprimoramento no processo de elaboração das projeções de inflação do BCB. O novo procedimento traz maior consistência entre os condicionantes utilizados, aumenta a coerência entre as projeções e as condições teóricas de longo prazo empregadas na modelagem e evita uma potencial subestimação das projeções de inflação para horizontes mais longos. A alteração da hipótese faz parte dos esforços continuados do BCB de modernizar seus processos e de aprimorar sua comunicação com a sociedade.

Além disso, o Relatório de Inflação também não mais apresentará, de forma rotineira, projeções baseadas em trajetória de câmbio extraída da pesquisa Focus. O BCB vem trabalhando em medidas para aumentar a efetividade de sua comunicação com a sociedade, tornando-a mais clara e relevante. Nesse sentido, passará a publicar, como regra, apenas um cenário central de projeções de inflação, evitando assim sobrecarregar os documentos de divulgação do Copom com comparação mecânica de cenários. Esse procedimento é usual na experiência internacional de bancos centrais e permitirá aprofundar o foco na análise econômica das projeções, tornando o documento mais simples e efetivo.

A partir do Relatório de dezembro deste ano, o cenário que utilizará como condicionantes a taxa de câmbio seguindo trajetória baseada na PPC e a taxa Selic extraída da pesquisa Focus será o único publicado de forma sistemática pela Instituição. Isso não exclui a possibilidade de publicação de cenários alternativos, considerando diferentes hipóteses para a taxa de câmbio e outras variáveis relevantes, a exemplo dos que foram publicados no Relatório anterior, quando foram apresentadas projeções de inflação condicionadas a trajetórias alternativas de preço de petróleo e de grau de incerteza econômica.

( da redação com informações de assessoria. Edição: Genésio Araújo Jr)