REPERCUSSÃO: Após fala de Bolsonaro na ONU, Lula faz discurso em que defende plano de reconstrução do Brasil anunciado pelo PT
Elaborada pela Fundação Perseu Abramo, documento de 210 páginas é divido em três partes: diagnóstico, medidas emergenciais e propostas para o futuro para transformar o país
( Publicada originalmente às 18h09 do dia 22/09/2020)
(Brasília-DF, 23/09/2.020) Após a fala realizada pelo presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido), feita na manhã desta terça-feira, 22, durante a abertura da 75ª assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista ao veículo Meteoro Brasil, fez um discurso de dez páginas em que defendeu o “Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil” anunciado nessa segunda-feira, 21, pela direção nacional do Partido dos Trabalhadores (PT).
Elaborada pela Fundação Perseu Abramo, responsável pela formulação de políticas públicas da legenda, o documento de 210 páginas é divido em três partes em que diagnostica os atuais problemas econômicos e sociais, defende a adoção de medidas emergenciais e propõe uma série de iniciativas para transformar o futuro do país. O programa petista quer urgência para a retomada de “obras e investimentos públicos”, ampliação das famílias atendidas pelo Bolsa Família, além de um valor maior que o atualmente pago pelo programa assistencial que tem como intuito garantir o enfrentamento à miséria.
“As únicas palavras sensatas do discurso de Jair Bolsonaro hoje na ONU foram as primeiras: o mundo precisa mesmo conhecer a verdade. Mas na boca de uma pessoa que não tem compromisso com a verdade até esta frase soa falsa. O que se esperava ouvir hoje de um presidente são coisas simples, que estão indicadas no Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, apresentado ontem pelo Partido dos Trabalhadores”, iniciou o ex-presidente.
“O Brasil se envergonha de ter tido, ao longo desta gravíssima pandemia, um governo que ignorou a ciência e desprezou a vida, o que resultou em mais de 136 mil mortes e milhões de contaminados pela Covid. Queremos anunciar que, a partir deste momento, vamos realizar testes em massa na população para conhecer as verdadeiras dimensões da pandemia e enfrentá-la. Vamos recompor o Orçamento da Saúde para ter hospitais, médicos, enfermeiros e remédios; investir o que for necessário para salvar vidas”, continua.
Manutenção dos R$ 600,00
Como forma de combater os efeitos na economia da pandemia do novo coronavírus, Lula fala da necessidade de manter o pagamento do auxílio emergencial no valor de R$ 600,00 até o crescimento econômico começar a dar sinais. O governo Bolsonaro reduziu o benefício pela metade atendendo apenas aqueles que começaram a receber em abril.
Lula falou também da necessidade de se utilizar os bancos públicos para socorrer as pequenas empresas. Assim como pediu desculpas pelo atual governo federal ter feito propaganda de medicamento que não tem a devida comprovação científica para enfrentar uma determinada doença.
“Vamos manter o auxílio emergencial de R$ 600 e instituir o Mais Bolsa Família, para que este valor seja pago mensalmente a todas as famílias vulneráveis. Os bancos públicos abrirão imediatamente crédito para as pequenas empresas. Retomaremos já as obras paradas para reativar a economia e gerar empregos. O governo brasileiro nunca mais fará propaganda enganosa de remédios sem comprovação científica nem voltará a desmoralizar medidas coletivas de prevenção”, complementou.
Desmatamento zero
Lula falou, ainda, da necessidade do governo federal decretar “desmatamento zero” na amazônia e usar o contingente da Aeronáutica, do Exército e da Marinha para atuar no combate aos focos de incêndio registrados no pantanal, um dos maiores cartões-postais do país.
“A partir de hoje, estamos decretando o desmatamento zero da amazônia. Três anos de proibição total de queimadas e derrubadas, para que a natureza tenha tempo de se recuperar da destruição. Convocamos as Forças Armadas para combater o incêndio do pantanal, a começar pelos quatro mil hoje deslocados para fazer provocação militar irresponsável em nossa fronteira com a Venezuela”, ensinou o ex-presidente.
Defesa dos povos indígenas
Lula defendeu também uma convivência pacífica entre o agronegócio com as comunidades indígenas, assim como pediu que a ciência fosse ouvida para apaziguar esta relação e permitir respeito aos povos originais, ao meio ambiente e uma agricultura mais avançada.
“Os povos indígenas são irmãos da natureza e guardiões do meio ambiente. Terão prioridade nas ações emergenciais de saúde. Seu território e suas culturas voltarão a ser respeitados, com a retomada das demarcações de reservas e terras indígenas. Os cientistas e os agricultores brasileiros desenvolveram a mais avançada tecnologia para o cultivo de grãos e produção de proteína animal. Este conhecimento, a partir de hoje, voltará a ser utilizado em benefício da segurança alimentar do planeta e do povo brasileiro, de maneira social e ambientalmente sustentável”, acrescentou.
Alimentos sem veneno
O ex-presidente falou, ainda, da necessidade da agricultura produzir alimentos sem a incidência de venenos (inseticidas) e mais orgânicos (naturais) para conseguir conquistar uma fatia maior no cada vez mais exigente padrão de consumo estabelecido pelos países mais ricos e mais desenvolvidos do planeta.
“A partir de hoje está proibido em nosso território o uso indiscriminado de insumos e sementes que representam risco à saúde humana. Não é preciso destruir para botar comida na mesa. É preciso, sim, entregar terra, tecnologia e financiamento a centenas de milhares de famílias que trabalham no campo para alimentar as cidades. Estamos criando hoje um banco de terras públicas para retomar a reforma agrária no Brasil. E reativando o financiamento da agricultura familiar”, reforçou.
“É desta forma, garantindo segurança alimentar para nossa população e produzindo com abundância, respeito ao meio ambiente e à saúde humana, que o Brasil quer contribuir para saciar a fome no mundo. Esta assembleia foi criada, ao final da mais devastadora guerra de todos os tempos, para construir a paz, promover a educação, a saúde, o trabalho digno, a produção de alimentos e o equilíbrio nas relações econômicas”, finalizou.
(por Humberto Azevedo, especial para a Agência Política Real, com edição de Genésio Jr.)