31 de julho de 2025
Brasil e Poder

NAÇÕES UNIDAS: Discurso de Bolsonaro na ONU é alvo de protestos nas redes sociais e de ambientalistas

Pronunciamento do presidente foi alvo também do governador Dino que ridicularizou a fala de Bolsonaro em culpar a imprensa pela "disseminação" do pânico com relação a pandemia e defender que as queimadas são "consequências inevitáveis da alta temperatura

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( Publicada oiginalmente às 12h 00 do dia 22/09/2020) 

(Brasília-DF, 23/09/2.020) O discurso realizado na manhã desta terça-feira, 22, pelo presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) na abertura da 75ª assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU) foi alvo de vários protestos nas redes sociais tanto de brasileiros, quanto de cidadãos estrangeiros.

Na ocasião, todos denunciavam, ao mesmo tempo em que o presidente lia o seu discurso e apresentava sua versão para o enfrentamento a pandemia e também das queimadas que devastou boa parte do território do pantanal, considerado um dos cartões-postais do Brasil.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), acusou o pronunciamento de Bolsonaro de ser uma "deslealdade absurda e inédita para um chefe de Estado". Já a organização Observatório do Clima apontou para as inúmeras "mentiras" propagadas por Bolsonaro.

"Bolsonaro começa seu discurso na ONU culpando o Judiciário, os governadores e a imprensa pelas dificuldades econômicas do Brasil. Deslealdade absurda e inédita para um Chefe de Estado. Chave interpretativa do discurso de Bolsonaro na ONU: vilões [são os] governadores, a imprensa, o judiciário, os caboclos, os indígenas, as [Organizações Não Governamentais] ONGs, uma conspiração internacional etc. [Já os] heróis [são ele] e Trump. Discurso impatriótico, não convence e enfraquece ainda mais o Brasil no mundo", lamentou o governador maranhense

"Não há qualquer evidência de ligação entre ONGs e cientistas que denunciam o desmatamento e interesses comerciais. Ao contrário, protecionistas europeus torcem por desmatamento. Não há queimadas naturais na Amazônia. Elas são causadas por desmatamento ou práticas agropecuárias. Em todo o ano de 2019 o governo Bolsonaro regularizou apenas seis propriedades rurais, contra média anual de 3.190 no período 2009-2018", comentou a associação Observatório do Clima.

"O Brasil tem 30% do território em agropecuária. O número está na média mundial.

Análise do Mapbiomas mostra que pelo menos 9% dessa vegetação é secundária - ou seja, são áreas que já foram desmatadas e voltaram a crescer. Não estão, portanto, protegidas nem preservadas", completou a entidade formada por 26 ONGs que atuam na preservação ambiental.

Discurso

Bolsonaro afirmou que uma "parcela da imprensa" do país atuou de maneira politizada e levou a população a se desinformar sobre os dados da pandemia do novo coronavírus (covid-19). Ele afirmou, ainda, que a mesma "parcela da imprensa" brasileira contribuiu na disseminação do pânico junto a sociedade.

O Covid-19 já matou até esta segunda-feira, 22, 137.272 brasileiros, de acordo com dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Em todo o mundo, o total de óbitos registrados pela doença é 965.642 pessoas conforme o balanço de informações levantado pela universidade norte-americana Johns Hopkins. O assunto é o principal tema tratado pela assembleia da ONU, que abordará também ações conjuntas para que os países possam atuar na preservação da natureza.

"Como aconteceu em grande parte do mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a população. Sob o lema 'fique em casa' e 'a economia a gente vê depois', quase trouxeram o caos social ao país. Nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior. Concedeu auxílio emergencial em parcelas que somam aproximadamente mil dólares para 65 milhões de pessoas, o maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores do mundo", destacou.

"[Além de destinar] mais de cem bilhões de dólares para ações de saúde, socorro a pequenas e microempresas, assim como compensou a perda de arrecadação dos estados e municípios; [assistir] a mais de 200 mil famílias indígenas com produtos alimentícios e prevenção à Covid; [estimular] o tratamento precoce da doença; 400 milhões de dólares para pesquisa, desenvolvimento e produção da vacina de Oxford no Brasil; Não faltaram, nos hospitais, os meios para atender aos pacientes de Covid", complementou.

Meio ambiente

Na oportunidade, Bolsonaro falou ainda que as queimadas que devastaram boa parte de um dos cartões-postais do país, o pantanal, foram "consequências inevitáveis da alta temperatura local" e que o país vem sendo vítima de uma campanha internacional onde é propagado inúmeras "desinformações sobre o nosso meio ambiente". O presidente brasileiro afirmou também, que em 2.019 o país "foi vítima de um criminoso derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando severos danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e turismo".

"No Brasil, apesar da crise mundial, a produção rural não parou. O homem do campo trabalhou como nunca, produziu, como sempre, alimentos para mais de um bilhão de pessoas. O Brasil contribuiu para que o mundo continuasse alimentado. Nossos caminhoneiros, marítimos, portuários e aeroviários mantiveram ativo todo o fluxo logístico para distribuição interna e exportação. Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental do planeta. Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a amazônia e o pantanal. A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil. Somos líderes em conservação de florestas tropicais. Temos a matriz energética mais limpa e diversificada do mundo. Mesmo sendo uma das 10 maiores economias do mundo, somos responsáveis por apenas 3% da emissão de carbono", registrou.

"Garantimos a segurança alimentar a um sexto da população mundial, mesmo preservando 66% de nossa vegetação nativa e usando apenas 27% do nosso território para a pecuária e agricultura. Números que nenhum outro país possui. O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos. E, por isso, há tanto interesse em propagar desinformações sobre o nosso meio ambiente. Estamos abertos para o mundo naquilo que melhor temos para oferecer, nossos produtos do campo. Nunca exportamos tanto. O mundo cada vez mais depende do Brasil para se alimentar. Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas", continuou.

"Os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação. Mantenho minha política de tolerância zero com o crime ambiental. Juntamente com o Congresso Nacional, buscamos a regularização fundiária, visando identificar os autores desses crimes. Lembro que a Região Amazônica é maior que toda a Europa Ocidental. Daí a dificuldade em combater, não só os focos de incêndio, mas também a extração ilegal de madeira e a biopirataria. Por isso, estamos ampliando e aperfeiçoando o emprego de tecnologias e aprimorando as operações interagências, contando, inclusive, com a participação das Forças Armadas. O nosso Pantanal, com área maior que muitos países europeus, assim como a Califórnia, sofre dos mesmos problemas. As grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição. A nossa preocupação com o meio ambiente vai além das nossas florestas. Nosso Programa Nacional de Combate ao Lixo no Mar, um dos primeiros a serem lançados no mundo, cria uma estratégia para os nossos 8.500 quilômetros de costa. Nessa linha, o Brasil se esforçou na COP25 em Madri para regulamentar os artigos do Acordo de Paris que permitiriam o estabelecimento efetivo do mercado de carbono internacional. Infelizmente, fomos vencidos pelo protecionismo", emendou.

(por Humberto Azevedo, especial para a Agência Política Real, com edição de Genésio Jr.)