EUA X BRASIL: Senadores, depois de negociação que garantiu votações de novos embaixadores, fizeram acordo e vão ouvir Ernesto Araújo sobre visita de Mike Pompeo
Senadores aprovaram nota de repúdio e ainda podem aprovar censura a Pompeo
( Publicada originalmente às 11 h 00 do dia 21/09/2020)
(Brasília-DF, 22/09/2020) O final de semana foi “ tenso”, pois senadores da Comissão de Relações Exteriores do Senado(CRE) anunciaram que poderiam não votar as indicações do Ministério das Relações Exteriores(MRE) para várias representatações do Brasil no mundo, inclusive nos EUA, face a polêmica visita do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, a Roraima, com apoio do MRE, oportunidade em que foi dito a intenção de tirar o presidente Nicolás Maduro com apoio do Brasil à beira da eleição presidencial nos EUA.
Mas, numa articulação política comandada pelo senador Nelsinho Trad(PSD-MT) , presidente da CRE, foi aprovado requerimento para que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, compareá ao Senado na quinta-feira ,24, às 10h, para explicar a visita como convidado. Senadores também aprovaram uma nota de repúdio aos ataques de Pompeo à Venezuela.
Como foi
O autor da proposta para barar tudo foi do senador Telmário Mota (Pros-RR), que, após as ponderações de senadores, aceitou transformar o adiamento das sabatinas em um convite ao ministro Ernesto Araújo e em uma nota de repúdio à visita de Pompeo.
“Na hora do pico da crise migratória, os Estados Unidos não ajudaram. Agora que resolvemos, chega o "seu" Pompeo e oferece uma migalha de 30 milhões de dólares. E de lá detona dizendo que vai derrubar o [presidente da Venezuela Nicolás] Maduro. O Brasil não é colônia dos Estados Unidos. Isso fere a nossa soberania “, criticou Telmário.
O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) afirmou que as preocupações de Telmário são legítimas, no entanto salientou, antes da decisão por converter o requerimento em um convite, que existiam outros meios de discutir a visita de Pompeo a Roraima.
Senador FBC defendeu o Governo
“Precisamos ter nossos representantes posicionados para que a gente possa defender os nossos mercados e os empregos para milhares de brasileiros. As preocupações do senador Telmário podem ser amparadas por esta comissão. Existem outros remédios, outros caminhos para que possamos aprofundar e debater essa questão da relação do Brasil com a Venezuela e com os Estados Unidos.”, disse.
A visita de Mike Pompeo, segundo o líder do governo, foi apenas a etapa de um périplo mais amplo pela América do Sul.
“A passagem teve por objetivo reafirmar a parceria estratégica entre os dois países “, apontou Bezerra.
O senador Chico Rodrigues (DEM-RR) disse que as palavras de Pompeo não tiveram o apoio do governo brasileiro.
“Em nenhum momento, no meu entender, teve o apoio do governo brasileiro. Ele reverberou as palavras por decisão pessoal, o que não pode se transformar em um grande conflito diplomático “, apontou.
O senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) também criticou a visita e apontou que o povo de Roraima não concorda com as palavras de Pompeo.
“Parece um recado claro para o mundo e à Venezuela. Eles querem um palanque. O povo de Roraima não concorda com Pompeo”, afirmou criticou o senador.
Senador Jaques Wagner queria nota mais dura
Censura
O senador Jaques Wagner (PT-BA), autor de um pedido de “moção de censura” à visita de Pompeo, disse que o governo brasileiro permitiu o uso do solo nacional para que os Estados Unidos ameaçassem um país vizinho.
“Ele fez questão de ir bem pertinho, na fronteira do Brasil com a Venezuela, e usar o solo nacional para bravatas. Não somos nem concessão, nem base militar dos Estados Unidos no Brasil”, criticou.
O senador Humberto Costa (PT-PE) defendeu a transformação de convite em convocação, o que obrigaria a vinda do chanceler.
“Eu preferiria que votássemos a convocação. O fato de ele ter aceitado o convite não quer dizer que ele irá comparecer. Acho importante que esse cidadão compareça porque ele está levando o Brasil a uma posição de pária, de vergonha para a nossa população em razão da condução que ele dá à política de relações exteriores”, apontou.
O presidente da CRE, Nelsinho Trad (PSD-MS) destacou que o chanceler sempre tem atendido aos convites da comissão.
O senador Antonio Anastasia (PSD-MG) disse que a visita de Pompeo não foi “feliz”, mas ele disse não acreditar que a suspensão das sabatinas fossem a solução mais adequada.
“ Não há nenhuma simpatia de minha parte ao regime venezuelano. O que não podemos concordar é exatamente com a palavra pública do secretário de Estado que dá a entender a queda de um governo do país vizinho. Acho que de fato o que houve na melhor das hipóteses um infelicidade absoluta.”, disse.
A senadora Kátia Abreu(PSD-TO) fez duras colocações sobre o assunto.
“Independentemente de quem governa ou não governa a Venezuela, independentemente do mérito do que está acontecendo lá, nós temos acordos internacionais e regras rígidas impostas pela nossa Constituição quanto à intromissão na vida de outro país. Ficou muito clara para todos nós a interferência desse cidadão americano no Brasil para se aproveitar da situação em um período eleitoral nos Estados Unidos, usando o Território brasileiro, o Governo brasileiro para fazer favorecimento ao candidato Trump, candidato a Presidente nos Estados Unidos. Isso é inadmissível para todos nós, e ele precisa vir, sim. Ele não tem Senadores no Itamaraty; os Senadores estão no Congresso Nacional. Então, ele tem que vir até aqui para se justificar, para explicar aos Senadores, que aprovam os diplomatas para todas as embaixadas do Brasil, o que foi que ele fez e o que aconteceu em Roraima. Ele precisa se justificar.”, disse.
( da redação com informações de assessoria. Edição: Genésio Araújo Jr)