31 de julho de 2025
OPINIÃO

Os corruptos e democratas do Brasil

Se determinados setores da sociedade se enfronharem no Brasil e falarem para o Brasil profundo, o mesmismo de se satisfazer com o que se tem, mesmo medíocre, não se sustentará.

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(Brasília-DF) Neste final de semana foram divulgada duas pesquisas uma da Datafolha e outra do Ibope. Calma, não eram eleitorais, apesar do clima ainda estar contaminado pelo rescaldo de outubro.

Uma, da Datafolha, revelou que 68% dos brasileiros consultados colocam culpa em Dilma Rousseff pela corrupção na Petrobras, porém isso não influencia o nível de aprovação que ela tem com seu governo. 42% dos consultados consideram o governo “bom “ou “ótimo”, enquanto 33% consideram o governo “regular” e 24% consideram a atual administração “ruim” ou “péssima”.

A outra pesquisa, Ibope, avalia a satisfação do brasileiro com a democracia. 39% dos brasileiros estão “muito satisfeitos” ou “satisfeitos” com a democracia. O melhor nível em 20 anos. Só 22% da população estaria “pouco satisfeita” com a democracia. Só 20% da população defende que um governo autocrático “é preferível”.  Porém, se juntamos os “pouco satisfeitos” com os “nada satisfeitos” chegamos a 52% da população.  É bom destacar que 46% da população diz que “a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo”. A pesquisa anual feita pelo Ibope avaliou regiões e apontou que o nordestino é o mais satisfeito com a democracia, 50%, enquanto o cidadão do Sudeste é o menos satisfeito, 32%.

Esses números mexem com nossas convicções, o que restam delas, é bom que se diga. Primeiro, vamos dar crédito aos números. Segundo, fica evidente que  a sociedade brasileira aceita governos corruptos quando eles minimamente lhe entregam algo? Terceiro, os nordestinos, mesmo sendo os que menos têm, são os que melhorem entendem a democracia do novo século?

As respostas sobre estes questionamentos podem agradar vários públicos numa país claramente dividido, mas para quem vem acompanhando de perto a realidade nordestina e vem conversando ao longo de anos com economistas, políticos e sociólogos que tratam de Brasil e Nordeste fica cada vez mais crível entender que a tolerância do brasileiro com a corrupção é tanto mais pontual, circunstancial ou/e histórica. O rouba mas faz não é suficiente.  O nordestino ao reconhecer uma maior satisfação com a democracia é muito mais pelo fato das oportunidades conseguidas, que vêm num crescente desde o Plano Real e se consolidaram com os melhores anos do fortalecimento dos programas sociais nos Anos Lula. Dilma deu uma sequência, também, com programas como o seguro safra e sua variante voltada para os anos de seca, que vêm desde 2011.

Fica cada vez mais evidente que o fato da corrupção estar associada aos poderosos em geral, sejam os atuais ou os do passado, aliado ao fato de que certas camadas da sociedade não conseguem  apresentar alternativas claras ao que está posto  nos levam a crer que a avaliação do brasileiro sobre a corrupção e a democracia  são indicativos claros de que as coisas podem e devem mudar. Não existe aí uma complexo de Gabriela, como costumo dizer, “eu nasci assim, vou viver assim, vou morrer assim”.  

Se determinados setores da sociedade se enfronharem no Brasil e falarem para o Brasil profundo, o mesmismo de se satisfazer com o que se tem, mesmo medíocre, não se sustentará. Não tenham medo do futuro da democracia, a sociedade ainda não evoluiu o suficiente para coisa melhor!

Eis o mistério da fé.

Por Genésio Araújo Jr, jornalista

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