A vitória da política fastfood
Durante anos podíamos dizer isso ou aquilo e as coisas se repetiam, mesmo a contragosto deste ou daquele.
(Brasília-DF) Uma das melhores coisas, que dão verdadeiro conforto, aos analistas da cena política, e me incluo neste rol, é podermos contar com paradigmas para que possamos entregar avaliações consistentes.
Durante anos podíamos dizer isso ou aquilo e as coisas se repetiam, mesmo a contragosto deste ou daquele. Virou lugar comum dizer que os presidentes da República seriam eleitos se tivessem maioria no Nordeste, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Seguidas eleições foram resolvidas assim, pois a presença de lideranças paulistas fortes nos pleitos acabavam anulando a força do grande eleitorado bandeirante.
Era comum dizer: se a economia estivesse bem as outras variáveis da vida política brasileira, como as denúncias de corrupção(lacerdismo) ou contradições dos candidatos ou projetos de poder não seriam determinantes.
Esta eleição presidencial já virou um grande case político que servirá de farol para iluminar os caminhos democráticos nacionais, especialmente se não houver mudanças no nosso modelo eleitoral.
Um governo sem sucesso econômico pode ser reeleito. Uma oposição rastaquera com um candidato mais ou menos pode ganhar o pleito. A que se deve isso? Não é fácil engendrar alguma resposta.
Poderíamos dizer muita coisa no campo político. O mal jeito da Presidenta da República, porém não podemos descontar sua bela origem de resistência à ditadura e seu gosto pela briga que anima as mulheres na vida pública. O candidato da oposição é nitidamente superficial, abusa dos bons ícones democráticos porém não dá para negar sua argúcia política que esgrima bem velhos problemas regionais e nacionais.
Faz tempo que avalio - apesar de nos últimos dias ter deixado de lado, face a intensa guerrilha política - que existe um ingrediente único nesta disputa e que os dois principais candidatos, no lugar de trazerem certezas, encheram o butim das dúvidas. Trato aqui do que se argumentou dizer de Nova Classe Média.
As Classes A e B estão nitidamente com Aécio Neves, as classes D e E estão seduzidas por Dilma Rousseff e a Classe C, onde está 56% do eleitorado nacional, estaria cheia de dúvidas, dividida.
Em tese, este eleitorado que passou a ter mais direitos trabalhistas, passou a ter acesso a universidade, ganhos de renda, acesso a casa própria entre outras garantias deveria ser suscetível aos ganhos dos anos do PT no poder, mais precisamente dos Anos Lula e alguma coisa do período Dilma, porém isso não se estabelece.
Este eleitorado tem claras dúvidas se Dilma Rousseff e o governo que está aí têm condições de manter as conquistas em ritmo de cruzeiro. Basta ver São Paulo, onde só na capital do Estado, 67,62% do eleitorado votou contra o Governo(Aécio e Marina). Em Campinas, a segunda maior cidade do Estado, a Presidenta ficou em terceiro e 68,06% do eleitorado votou em Aécio(PSDB) e Marina(PSB).
Este eleitorado não tem valores clássicos de classe média, aqueles fundados desde o Terceiro Estado no Século 18, definidos nos brocados vitorianos do Século 19 e amalgamados com o New Deal do Século 20. Não é a classe média da posteridade, do conservadorismo e do moralismo. Essa classe que está cheia de dúvidas, ou dividida, não se preocupa com o amanhã mas com o hoje e as compras de fim de ano.
É incrível, mas o vitorioso de domingo deverá ser aquele que alimentou esta política fastfood.
Boa semana a todos.
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
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