O futebol será o aborto de 2010?
A conta foi salgada, com a construção de alguns estádios mas no geral antecipamos algo que tinha que ser feito.
(Brasília-DF) Acabou a Copa do Mundo do Brasil, descontado o nosso amargor face ao resultado nas quatro linhas, foi um evento muito importante para o país.
É evidente que a imagem do Brasil para o resto do Planeta ganha outras nuanças. O próprio brasileiro passou a se ver diversamente. O caráter internacional do evento, no mínimo, obriga-nos a ver que temos que nos comunicar melhor com o resto do Planeta. Ser grande e moderno é saber se comunicar, multiplamente.
A conta foi salgada, com a construção de alguns estádios mas no geral antecipamos algo que tinha que ser feito.
Bem, agora é a hora da política. A Copa vai permear as discussões. A Presidenta e alguns de seus ministros colocaram em questão um possível intervencionismo no esporte que é um patrimônio cultural brasileiro. A oposição foi logo questionando se era necessário uma futebras. Outros já pedem uma CPI do Futebol, ou da CBF.
Em 2010, as principais discussões nacionais daquela campanha presidencial, que acabou elegendo a Presidenta Dilma, foram dominadas pela polêmica religiosa sobre o aborto. Dilma teve que ficar se explicando e Serra foi torpedeado quando se soube que sua mulher afirmara que tinha feito um aborto em sua vida. Na verdade, foi algo exagerado.
Pergunta-se: será que a discussão sobre o futuro do futebol terá a mesma dimensão que a discussão sobre o aborto teve em 2010? É difícil dizer, mas a tentativa de se criar uma CPI poderá prolongar o assunto durante todo este mês de julho, especialmente se as próximas pesquisas mostrarem que a gordura que a Presidenta ganhou nos dias de euforia da Copa foi perdida na mesma medida, ou um pouco mais. Naquele 2010, o Brasil chegou ao final daquele ano crescendo 7,5% do PIB, a economia bombava passado pouco tempo após o auge da crise econômica de 2008/2009.
De fato, o momento é outro. A onda do futebol levou nosso amor próprio ao chão. Logo após o fatídico “8 de julho de 2014” as pessoas, abusando de um verdadeiro hedge, bem brasileiro, riam de si próprio. Os argentinos se impressionavam com isso. Ele disseram, ao serem questionados sobre a forma afável dos brasileiros, que se o que tivesse acontecido conosco fosse com eles, todos entrariam em depressão pois os argentinos são passionais. No Brasil, a galhofa pós “8 de julho de 2014 “ logo irá se transformar em crítica ácida. Os políticos sabem que isso é perigoso.
Naquele 2010, os analistas observaram que superado o momento “aborto” quem acabou ganhando foram os que fazem a micropolítica e o avalanche de apoios partidários em torno da Presidenta Dilma fizeram a diferença para a candidata de Lula.
Não é fácil fazer comparações, mas avaliar o que foi e o que poderá ser não é um desperdício neste momento em que poucos têm argumentos para medir como será o início da campanha eleitoral.
A inflação deu uma parada mas a questão dos juros e da recessão iminente vão temperar o nós-contra-eles que deverá ser colocado em baila. Discussões sobre intervir ou não intervir, ajustar, liberar são tão ou mais perigosas que o direito à vida, exposto na discussão sobre o aborto, por incrível que possa parecer.
Lá era a metafísica, que se resolvia com a letra da lei e da Constituição. Agora, será bem diferente. Será a dialética permeada com as dúvidas sobre o futuro.
Por Genésio Araújo Jr, é jornalista
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