Irritação!
O brasileiro adora duelar a cena pública com a cena privada.
(Brasília-DF) O mundo político está em polvorosa, para usar um termo sonoro e antigo. Agitação sempre foi a marca da política brasileira, tanto nos anos democráticos como nos anos de ditadura. O brasileiro adora duelar a cena pública com a cena privada.
A agenda promete. A semana já começou no domingo, quando a Presidenta Dilma decidiu receber a cúpula do PMDB, o maior parceiro do PT no comando do país desde 2011. Temos pouco mais de 90 dias para o início da Copa do Mundo, no Brasil, e uma agenda intensa pela frente.
Para o leitor ter uma ideia existem no Congresso 1.052 projetos de autoria do Governo Federal e 151 em urgência constitucional. Muitos deles podem deixar o Governo e a economia apavorados. De fato, existe um acordo para que não se aprovem medidas de grande impacto econômico nas contas públicas, mas neste momento chamo atenção do leitor para alguns detalhes impressionantes do momento que vivemos.
Este governo, goste-se ou não, vem mantendo o pais nos trilhos. Tivemos um crescimento em 2013 da ordem de 2,3% do PIB, nosso superávit primário ainda é um dos maiores do mundo, nosso déficit em transações correntes é crescente mas não é dos piores do mundo, nosso nível de desemprego é um dos menores do mundo, o endividamento caiu, a renda não cresce como antes, mas cresce, o Estado brasileiro criou várias redes de proteção e não é só na área social – a nossa crise na geração de energia momentânea, pelas águas, tem sua rede de proteção. O nosso Estado é cada vez mais sofisticado, e mesmo com a nossa crise federativa vemos experiências nos estados cada vez mais meritórias.
No Nordeste, onde os problemas parecem sempre ser mais sérios, temos o Ceará com projetos hídricos muito bem urdidos assim como avanço no ensino para a qualificação. Em Pernambuco, o crescimento é sem parar, especialmente com o ensino integral e a tecnologia. A microeconomia avança na Bahia que inova na energia eólica. O Maranhão mesmo desigual foi adiante, o mesmo se viu na difícil Alagoas. Enfim, apesar do Sul ter sido a região do Brasil que mais cresceu acima da média nacional em 2013, o Nordeste continua crescendo acima da média nacional.
No Carnaval, mesmo com todo mundo reclamando dos preços, os hotéis nunca lucraram tanto e as empresas áreas venderam quase tudo que ofereceram, mas por que apesar disso tudo existe um evidente nível de irritação nas pessoas?! Não precisa se voltar para as pesquisas que apontam que as pessoas estão abertas às novidades. É notória a irritação geral.
Uma das marcas da sociedade brasileira sempre foi simular grandes conflagrações e depois fazer acordos, daí um pilares da teoria do “brasileiro cordial” de Sérgio Buarque de Holanda. Um país continental como o nosso, que nunca teve uma grande guerra pra lhe impor feridas e catarses não poderia ter gerado fórmula mais inusitada. Nos dias que correm, vemos que as pessoas estão intolerantes com a violência e ondas da cultura de eu-posso-e-eu-faço além do vandalismo que faz toda manifestação terminar com a queima de algum bem público impressionam.
Existe uma clara fratura entre o que querem os que tocam a economia e a maioria da população, mas todos parecem unidos na irritação.
Todos sabem que apesar dos estranhamentos entre o que foram os Anos Lula - em que foi montado um acordão entre plutocracia e populacho que deixou a classe média tradicional isolada, e o que temos hoje, o Governo não é tão mal. A plutocracia quer mudanças, mas o populacho quer que fique do jeito que está. A tradicional classe média continua mostrando asco enquanto que a chamada nova classe média, de fato, não sabe, ainda, o que fazer.
Todos unidos pela irritação. No que isso vai dar!?
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
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