O fator Barbosa
Caso Barbosa volte a ser derrotado, pelo que ele chama de maioria de ocasião, estaria aberto o caminho para outra declaração dura
(Brasília-DF) O grande fato da semana pré-carnavalesca foi a decisão do pleno do Supremo Tribunal Federal(STF) entendendo que não houve crime de quadrilha na ação penal 470, mais conhecida como processo do mensalão.
A decisão ganhou contornos mais veementes face a postura do presidente da Casa, ministro Joaquim Barbosa, que dentro de seu estilo desabrido e veemente disse que se montou uma maioria de ocasião que iria impor uma sanha reformadora em tudo de bom que vem sendo feito no Supremo desde meados de 2012. Ele deu sinais de que tudo era um ardil perpetrado pela Presidenta Dilma ao nomear os ministro Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso. As declarações beiraram o irresponsável, e os petistas adoraram.
A partir do dia 13 de março, o Supremo voltará a julgar novos embargos infringentes mas dessa vez sobre os casos de lavagem de dinheiro na mesma ação penal 470. Caso Barbosa volte a ser derrotado, pelo que ele chama de maioria de ocasião, estaria aberto o caminho para outra declaração dura.
Há exatos oito meses, quando estava prestes a deixar a Procuradoria Geral da República, encontrei o cearense Roberto Gurgel num dos almoços da confraria dos cearenses, que tenho a honra de participar sendo o mais humilde dos cearenses ilustres que se encontram, eventualmente, em Brasília. Também tenho a honra de ser diretor da mais importante associação de piauienses de Brasília. Naquela oportunidade, o questionava sobre o que ele achava do futuro de Barbosa, se ele estava pronto para ser comandado pelo ministro Ricardo Lewandowski, atual vice presidente do STF, e que no início do ano que vem será o novo Presidente. Barbosa e Lewandowski foram os protagonistas dos grandes embates do julgamento da ação penal 470, o mensalão, agora mensalão do PT, após o início do julgamento do caso dos tucanos de Minas.
Na oportunidade, Gurgel, um grande parceiro de Barbosa naquele fase do julgamento da AP 470, antes dos recursos, disse que tinha o sentimento de que Barbosa deixaria o Supremo ao final de seu mandato no comando do Supremo. Em tese, Barbosa teria uns 12 para 13 anos de Supremo até chegar aos 70 anos. Gurgel falou de uma impressão e não uma certeza, mas a proximidade dos dois me dava, quase, a certeza de que isso ocorreria. Se sabe nos meios do Supremo que Barbosa gosta do enfrentamento, ele vem do Ministério Público, enquanto Lewandowski era, e é, da reação. Muitos acreditam que Lawandowski não seria perseguidor, ao contrário de Barbosa, mais próprio ao desafio.
Barbosa está criando, e está sendo criado, as condições de sua saída antecipada, tanto do comando do Supremo como da própria Casa da Justiça. Não dá para dizer, categoricamente, que isso se dará.
Barbosa teria queimado as caravelas com Dilma Rousseff ao mais que insinuar que ela lhe preparou um prato feito com a chegada dos novéis no Supremo. Os próximos dias serão reveladores de todo esse momento, porém muitos já acreditam que Barbosa deve ir para a luta política. O território deve ser esse.
Um dos nomes mais equilibrados da oposição, o senador Aloísio Nunes Ferreira(PSDB-SP), deu entrevista ao “Estadão” nesse final de semana dizendo que existe um mal-estar com o Governo Dilma mas que nenhum projeto político conseguido bem captá-lo, representa-lo.
“É que esse mal-estar ainda não se materializou na forma de um projeto político preciso. Você tem um descontentamento que o mundo político ainda não conseguiu expressar. Esse é o desafio de Aécio.”, disse Aloísio falando da missão de seu candidato. Barbosa seria esse “materializador”? Boa pergunta!
Eis o mistério da fé
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
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