Não se empolguem com o pior
A Campanha das Diretas revela que nosso esforço merece uma dose maior de paciência
(Brasília-DF) No último, sábado 24 de janeiro, se comemorou os 30 anos do início da Campanha das Diretas.
Muito vem se falando nos últimos dias sobre este momento marcante para a nossa história. Quem tem menos de 30 anos não tem muita dimensão daqueles dias. Quem vive hoje reclamando do nosso modelo, do ritmo das coisas, da democracia capenga e acha que tudo se desmonta no ar, pois as pessoas em nada se importam com a política e quando o fazem é só para desmerecer a forma rotineira como se lida com os instrumentos do poder, deveria se ater com o que tivemos.
Não tem essa de fazer rolezinhos e reclamar que a polícia não deixa entrar em shoppings centers. Os tempos eram outros. Naquele ano, se a memória não me falta, participei do comício na Praça José de Alencar, pois morava em Fortaleza, capital do Ceará.
Os eventos no Nordeste, conseguiram levar milhares de pessoas às praças. Todos bem maiores que os eventos de junho de 2013, liliputianos se comparados com aqueles. As grandes capitais, naturalmente, conseguiram atrair as estrelas do movimento. Ceará, Pernambuco e Bahia chegaram a ter mais de um comício, com eventos em Recife e Olinda, mas tiveram grandes eventos em Natal, Maceió, Aracaju, João Pessoa e um menor em Teresina. Na verdade, naqueles idos, todas as cidades queriam participar das verdadeiras “quermesses políticas”. Eram quase saraus políticos, se podemos chamar assim. Era muito jovem naqueles idos, mas sabia que estava participando de um momento histórico.
Viam-se nas praças todos os tipos de gentes políticas - liberais, democratas cristãos, conservadores, socialistas, comunistas, anarquistas. Todos tinham compromisso com a política, mas nem todos com a democracia. Hoje, o nosso grande dilema não é mais aquela frase do senador alagoano, conservador liberal, Teotônio Vilela, conhecido como o “ Menestrel das Alagoas” , por conta da música de Milton Nascimento – que temos o desafio da “ democracia e da erradicação da miséria”.
O grande dilema da democracia são os ajustes nela. Não sabemos o que colocar no seu lugar. Estamos insatisfeitos com o que temos, mas já tivemos mais problemas. Os que convivem com a democracia a mais tempo, também não sabem o que fazer com ela! Um dos maiores problemas é acharmos que os erros dos agentes públicos e políticos são suficientes para jogarmos o que conquistamos no lixo. Acreditar que os mecanismos de democracia direta e semi direta seriam um achado é um grande risco. A precariedade de decisões imediatas para questões mediatas e longevas não pode ser aceita como um remédio. É voluntarismo acharmos isso. Melhorar a democracia, essa conquista que começamos a ter naqueles eventos de 1984, não é tarefa fácil. Não se esqueça que o Brasil não tem tradição democrática. O mais longo período democrático é este que estamos vivendo.
Dos BRICS, o Brasil é o que melhor sabe lidar com isso. A Índia é uma democracia estranha, baseada em castas e em uma longa oligarquia. China, Rússia e África do Sul mal sabem do que se trata. Recomendo não se empolgarem com o pior. Vamos em frente.
Bem, para finalizar: E Dilma em Davos, heim!?
Eis o mistério da fé.
Por Genésio Araújo Junior, é jornalista
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