Vergonha nordestina
A coluna de Genésio Junior é publicada todos os domingos neste espaço
(Brasília-DF) As imagens das médicas brancas cearenses vaiando um médico negro cubano e a declaração de uma jornalista potiguar, no facebook, fazendo comentário preconceituoso contra as médicas pardas e negras que estavam chegando ao Nordeste ,são uma demonstração categórica de que a crítica que se faz aos deputados que acabaram liberando o deputado-presidiário Natan Donadon( sem partido-RO) merecem ser vistas com um olhar comparado, nada imediato.
Antes de chegarmos lá, é importante destacar a vergonha nordestina dos eventos que revelam quão despreparada é nossa elite, que não reflete sobre seus erros do passado.
O Ceará quer ser conhecido como a Terra da Luz, lá no Rio Grande do Norte se gosta da expressão da Terra do Sol. O Ceará sempre foi referência histórica brasileira, pois foi a primeira província brasileira a impedir o desembarque de negros em suas terras e, na prática, acabando com o comércio negreiro e a própria escravidão. Tem-se uma cidade histórica, lá, chamada Redenção por conta disso.
O Rio Grande do Norte foi um dos estados brasileiros que sofreu mais invasões no Nordeste. Um estado que sofreu com o preconceito que lhe foi imposto. Primeiro, com a grande base americana que criou um país dentro de um estado pobre e periférico na década de 40. A Força Aérea Americana, formada, tradicionalmente, por jovens da elite americana, que estudava na região de Boston, Massachusttes, ao chegarem na região de Natal, impuseram a força social desta pujança. Ficaram famosos os galeguinhos, filhos desses americanos com as brasileiras. Naquela época, a invasão americana gerou um pavor nas famílias potiguares.
Depois veio a invasão da Petrobras. Os engenheiros da Petrobras no início dos anos 70 ganhavam em cruzeiros os mesmos valores em dólares e libras dos que trabalhavam na Exxon Petroleum ou na British Petroleum(BP) que atuavam no Mar do Norte. As classes média e rica potiguar foram tragadas por jovens engenheiros de famílias, sem nome, do Brasil rico - de Rio e SP, especialmente. Segundo alguns, essas invasões no Rio Grande do Norte explicam a famosa sisudez e timidez dos potiguares.
Cearenses e potiguares(esses representado pelo disparate de uma jovem jornalista que deveria vir da classe que é um farol da sociedade) com suas ações de preconceito e xenofobia humilharam suas histórias e seus percursos. É bom que destaquemos que essa gente, em regra, têm as melhores oportunidades que são oferecidas pela Sociedade e o Estado. As universidades públicas oferecem os melhores cursos de medicina e comunicação do Brasil, os cursos de medicina são povoados por jovens brancos, poucos são os pardos e os negros quase inexistem.
O Nordeste foi a região do Brasil onde mais gente das classes emergentes tiveram acesso ao consumo, e a algum avanço, nos últimos dez anos. As classes mais favorecidas, neste episódio do Mais Médicos(a melhor sacada deste Governo Dilma até agora), deram uma demonstração de como têm dificuldades para lidar com esse novo status dos emergentes.
Bem, quando vimos o episódio em que os deputados mantiveram o mandato de Natan Donadon constatamos, com alguma clareza, dado os descontos, pois a maioria(não a absoluta) votou pela cassação - que temos um parlamento que, infelizmente é parte de nossa face.
Envergonhemo-nos, todos!
Eis o mistério da fé
Por Genésio Araújo Jr, é jornalista