31 de julho de 2025

Francisco e a Política.

A coluna de Genésio Junior é publicada todos os domingos neste espaço

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( Brasília-DF) A Jornada Mundial da Juventude(JMJ) terminou neste domingo porém é inquestionável que seus efeitos sobre a vida pública e religiosa brasileira e mundial serão bem longos.

Brinca-se em Brasília, de poucos políticos e muitos jornalistas, que se o Papa Francisco passasse mais uma semana no Brasil iria aparecer alguém falando em desempregar todos os políticos para colocarem-no no lugar. Um exagero, porém a queda generalizada das expectativas da população com os governantes, como se viu na pesquisa CNI-Ibope divulgada na última semana, dá combustível para isso.

O destaque para tanta repercussão ganha novas luzes a partir do discurso, em espanhol, do Papa Francisco no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

As falas de Francisco à classe política, e aos agentes proeminentes da Sociedade no evento do sábado, são combustíveis para verdadeiras bulas.

Primeira parte: “O futuro exige hoje a tarefa de reabilitar a política, que é uma das formas mais altas da caridade...”.  Ele lembra as bases da cultura greco-romana, com Platão( e depois com Santo Agostinho) de que a mais alta atividade humana é a política pois o homem deixa o privado e se dá a vida pública.  Ele, com generosidade, mostra aos jovens que não há outro caminho que não seja pela política, goste-se ou não dos políticos.

Segunda parte: “ ...O futuro nos exige também uma visão humanista da economia e uma política que logre cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evite o elitismo e erradique a pobreza....”.   Ele deixa claro que a cultura da competição que gerou o neoliberalismo e a crise econômica que vem desde 2008 sejam encarados pelo lado do homem e não da vantagem. No Brasil, se montou uma política de recomposição de renda criticada pelas elites.  A pobreza deve ser combatida e os programas sociais devem ser de gerações para o fim da pobreza.

Terceira parte:  “....Que a ninguém falte o necessário e se assegure a todos dignidade, fraternidade e solidariedade".  Nada mais gauche e contraditoriamente, para alguns, progressista, pois a Igreja é conservadora em vários de seus entendimentos. Para muitos ser solidário numa sociedade competitiva e de poucas oportunidades na crise do emprego no planeta é não socorrer na dúvida dos incautos, ou dos que buscam a inteligência, e não só do pão.

O Papa falou mais, muito mais. Cada frase dele na língua dos reis da Idade dos Descobrimentos era um flash. As celebridades adoram as luzes das luzes super-claras das câmeras e celulares. As falas de Francisco no Teatro Municipal foram célebres. Não eram blablablá de políticos, nem para agnósticos e incréus. Terão repercussão para um planeta de poucos líderes respeitáveis e que precisam agradar diversos grupos de pressão.  

A pesquisa CNI-Ibope mostrou que as pessoas querem os serviços públicos, mas não querem pagar mais por isso. No modelo respeitável de Francisco, em que prega o “  diálogo, diálogo e diálogo”(olha aí outra bula!)  este é um grande desafio que não combina com suas boas referências. É verdade, que isso tem haver com o intenso mal humor de nossa sociedade com as ações dos políticos e do Estado.

Um desafio impressionante!

Eis o mistério da fé.

Por Genésio Araújo Jr

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