Lula, ao destacar que o G20 é responsável por 77% das emissões globais, diz que o grupo deve assumir protagonismo para transição energética e o abandono progressivo da dependência de combustíveis fósseis
Mais cedo, na primeira sessão do G20 neste sábado, Lula defendeu que é hora de declarar a desigualdade de uma emergência global.
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(Brasília-DF, 22/11/2025). Neste sábado,22, durante a Cúpula do G20, em em Joanesburgo, na África do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que o grupo assuma o protagonismo na elaboração de um Mapa do Caminho para a transição energética e o abandono progressivo da dependência de combustíveis fósseis.
Lula, em seu discurso na Sessão II do evento, Lula destacou que o G20, responsável por 77% das emissões globais, seria essencial para que essa estratégia, proposta pelo Brasil na COP30, em Belém (PA), ganhe escala e se concretize.
"Só haverá transição justa se o G20 liderar o caminho. É do G20 que um novo modelo de economia deve emergir. O grupo é ator-chave na elaboração de um mapa do caminho para afastar o mundo dos combustíveis fósseis. A COP30 mostrou que o mundo precisa enfrentar esse debate", afirmou Lula, ao classificar a mudança do clima como "desafio de planejamento econômico" e não apenas questão ambiental.
O presidente brasileiro destacou que a transição energética e a resiliência climática exigem inversão nas prioridades de financiamento. "É inconcebível que não sejamos capazes de mobilizar 1 trilhão e 300 bilhões de dólares em financiamento climático, enquanto o dobro desse montante é consumido por despesas militares", comparou.
Para ele, a construção de resiliência climática, que envolve, entre outros, a adaptação de infraestruturas como rodovias e linhas de transmissão, deve ser tratada com prioridade, mas com atenção aos desdobramentos humanos.
“Um mundo resiliente não se faz apenas com infraestrutura. Quando alguém é atingido por um evento extremo, são as políticas públicas que o ajudam a se reerguer. Contudo, cerca de metade da população mundial não conta com proteção social. Quase 700 milhões ainda sofrem com a fome. Construir resiliência não é gasto, é investimento".
Ao alinhar a pauta ambiental à social, Lula reiterou o compromisso do Brasil em garantir que a transição energética proteja as populações mais vulneráveis e que historicamente menos contribuíram para a crise global.
“Vai contra nosso sentido mais elementar de justiça permitir que as maiores vítimas da crise climática sejam aquelas que menos contribuíram para causá-la", reforçou, ao listar propostas trabalhadas durante a COP30, em Belém, que envolvem o fortalecimento da proteção, o apoio a pequenos produtores e a garantia de vida sustentável a comunidades que vivem nas florestas, inclusive por meio do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, lançado pelo Brasil durante o evento na capital paraense.
Ao concluir, o presidente cobrou dos colegas do G20 ações no presente e citou o líder sul-africano Nelson Mandela para um convite à ousadia. "O G20 pode proteger cadeias alimentares por meio de medidas como compras públicas e seguros rurais. Também pode remunerar quem preserva as florestas por meio do Fundo Florestas Tropicais para Sempre. Como nos ensinou Mandela, tudo parece impossível até que seja feito. A hora de fazer é agora."
Antes
Mais cedo, na primeira sessão do G20 neste sábado, Lula defendeu que é hora de declarar a desigualdade de uma emergência global. Ele propôs mecanismos inovadores, como a troca de dívida por desenvolvimento e ação climática e a taxação dos super-ricos. O presidente também teve uma reunião bilateral como chanceler da Alemanha, Friedrich Merz.
Veja a íntegra da fala:
Esta oportuna sessão ocorre no mesmo tempo em que estamos por duas palavras de concluirmos as negociações da COP30 no Brasil.
No ano em que o planeta ultrapassou pela primeira vez – e talvez de forma permanente – o limite de um grau e meio acima dos níveis pré-industriais, a comunidade internacional tinha diante de si uma escolha: continuar ou desistir.
Optamos pela primeira alternativa.
Na COP da verdade, a ciência prevaleceu.
O multilateralismo venceu.
Reafirmamos nosso compromisso com o Acordo de Paris.
Saímos de Belém com um quadro renovado de Contribuições Nacionalmente Determinadas.
Mobilizamos a sociedade civil, a academia, o setor privado, os povos indígenas e os movimentos sociais, para fazer da COP30 a COP com a segunda maior participação da história.
Entramos agora numa nova etapa, que exigirá esforço simultâneo em duas frentes:
» Acelerar as ações de enfrentamento da mudança clima
» Nos preparar para uma nova realidade climática
O G20 cumpre papel central em ambas.
O grupo responde por 77% das emissões globais.
É do G20 que um novo modelo de economia deve emergir.
O grupo é um ator-chave na elaboração de um mapa do caminho para afastar o mundo dos combustíveis fósseis.
A COP30 mostrou que o mundo precisa enfrentar esse debate.
A semente dessa proposta foi plantada e irá frutificar mais cedo ou mais tarde.
A mudança do clima não é uma simples questão de política ambiental.
É, sobretudo, um desafio de planejamento econômico.
As prioridades estão invertidas.
É inconcebível que não sejamos capazes de mobilizar 1 trilhão e 300 bilhões de dólares em financiamento climático, enquanto o dobro desse montante é consumido por despesas militares.
Fortalecer a capacidade de prevenção e resposta a desastres é uma questão de vida ou morte.
Sistemas de alerta precoce não bastam.
O clima vai colocar à prova nossas pontes, rodovias, edifícios e linhas de transmissão.
Vai exigir formas mais eficientes de gerir a água, cultivar alimentos e produzir energia.
Vai obrigar milhares de pessoas e de negócios a buscarem áreas mais seguras para viver e empreender.
Os “Princípios Voluntários para Investir em Redução de Risco de Desastres”, aprovados sob a liderança sul-africana do G20, enfatizam a necessidade de financiamento de longo prazo.
Construir resiliência não é gasto, é investimento.
Para cada dólar investido em adaptação, ganham-se quatro dólares em prejuízos evitados e outros benefícios sociais e econômicos.
Mas um mundo resiliente não se faz apenas com infraestrutura.
Quando alguém é atingido por um evento extremo, são as políticas públicas do Estado que o ajudam a se reerguer.
Contudo, cerca de metade da população mundial não conta com proteção social.
Quase 700 milhões de pessoas ainda sofrem com a fome.
Vai contra nosso sentido mais elementar de justiça permitir que as maiores vítimas da crise climática sejam aquelas que menos contribuíram para causá-la.
O Brasil lançou, na COP30, a Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas.
Nela, reforçamos três compromissos:
» Fortalecer a proteção social
» Apoiar pequenos produtores
» E garantir alternativas de vida sustentáveis para comunidades que vivem nas florestas
O G20 pode proteger cadeias alimentares por meio de medidas como compras públicas e seguros rurais.
Também pode remunerar quem preserva as florestas por meio do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, lançado na COP30.
Só haverá transição justa se o G20 liderar o caminho.
Como nos ensinou Nelson Mandela, tudo parece impossível até que seja feito.
A hora de fazer é agora.
Muito obrigado.
( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)