31 de julho de 2025
COP30

Lula, na íntegra da fala, diz que os cientistas já cumpriram seu papel e que agora é a hora dos líderes

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Por Politica Real com agências
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Lula e a foto de família da Cúpula dos Líderes Foto: Ricardo Stuckert

(Brasília-DF, 07/11/2025) O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta sexta-feira, 7, em sua fala lida sobre “transição energética”

“Os cientistas já cumpriram seu papel. Nesta COP, os negociadores devem buscar o entendimento. E nós, os líderes, devemos decidir se o século XXI será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente.”

 

Veja a íntegra da fala:

 

 

As decisões que tomarmos com relação ao setor energético definirão nosso sucesso ou nosso fracasso na batalha contra a mudança do clima. 

 

Foram necessárias 28 COPs do clima para nos comprometermos, em Dubai, com uma transição energética justa, ordenada e equitativa.

 

A Terra não comporta mais o modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis que vigorou nos últimos 200 anos.

 

75% das emissões de gases do efeito estufa têm origem na produção e no consumo de energia.

 

Não podemos nos omitir ou intimidar diante da magnitude desse dado.

 

Já sabemos que não é preciso desligar máquinas e motores, nem fechar fábricas ao redor do mundo de um dia para o outro.

 

A ciência e a tecnologia nos permitem evoluir de forma segura para um modelo centrado nas energias limpas.

 

Essa transformação já está em curso.

 

O uso de renováveis triplicou nos últimos dez anos.

 

No primeiro semestre de 2025, a energia renovável se tornou a maior fonte individual de geração de eletricidade no mundo, ultrapassando o carvão.

 

Em muitas regiões, as energias solar e eólica já são mais baratas do que a gerada por combustíveis fosseis.

 

O preço das baterias caiu 90%.

 

O Brasil não tem medo de discutir a transição energética.

 

Somos líderes nessa área há décadas.

 

Ainda nos anos 1970, fomos o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis.

 

90% da matriz elétrica nacional provém de fontes limpas.

 

Também somos pioneiros no desenvolvimento de motores flexíveis e o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis.

 

Nossa gasolina tem 30% de etanol em sua composição e nosso diesel conta com 15% de biodiesel.

 

O etanol é uma alternativa eficaz e imediatamente disponível para adoção nos setores mais desafiadores, como a indústria e os transportes.

 

É lamentável que pressões e ameaças tenham levado a Organização Marítima Internacional a adiar esse passo.

 

A transição energética representa um novo paradigma de desenvolvimento e uma grande oportunidade para promover transformações estruturais na sociedade e na economia.

 

Em 2023, o setor foi responsável por 10% do crescimento do PIB global e empregou 35 milhões de pessoas.

 

É impossível discutir a transição energética sem falar dos minerais críticos, essenciais para a confecção de baterias, painéis solares e sistemas de energia.

 

Para gerar emprego e renda e gozar de segurança energética, os países em desenvolvimento precisam participar de todas as etapas dessa cadeia global de valor.

 

Senhoras e senhores,

 

Apesar dos avanços, 2024 registrou novo recorde de emissões de carbono do setor energético, o maior índice desde 1957.

 

Os incentivos financeiros muitas vezes vão no sentido contrário ao da sustentabilidade.

 

No ano passado, os 65 maiores bancos do mundo se comprometeram a conceder 869 bilhões de dólares para o setor de petróleo e gás.

 

Desde a adoção do Acordo de Paris a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global diminuiu apenas de 83% para 80%.

 

O conflito na Ucrânia reverteu anos de esforços para redução de emissões de gases de efeito estufa e levou à reabertura de minas de carvão.

 

Gastar com armas o dobro do que destinamos à ação climática é pavimentar o caminho para o apocalipse climático.

 

Não haverá segurança energética em um mundo conflagrado.

 

É fundamental combater todas as formas de pobreza energética.

 

2 bilhões de pessoas não têm acesso a combustíveis adequados para cozinhar.

 

660 milhões de pessoas dependem de lamparinas ou de geradores a diesel nas periferias das grandes cidades e nas comunidades rurais da América Latina, da África e da Ásia.

 

200 milhões de crianças frequentam escolas sem acesso à luz elétrica.

 

Sem energia, também não há conexão digital, hospitais funcionando ou agricultura moderna.

 

Sem equacionar a injustiça de dívidas externas impagáveis e sem abandonar condicionalidades que discriminam os países em desenvolvimento, andaremos em círculos.

 

Um processo justo, ordenado e equitativo de afastamento dos combustíveis fósseis demanda o acesso a tecnologias e financiamento para os países do Sul Global.

 

Há espaço para explorar mecanismos inovadores de troca de dívida por financiamento de iniciativas de mitigação climática e transição energética.

 

Direcionar parte dos lucros com a exploração de petróleo para transição energética permanece um caminho válido para os países em desenvolvimento.

 

O Brasil estabelecerá um Fundo dessa natureza para financiar o enfrentamento da mudança do clima e promover justiça climática.

 

O mundo precisa de um mapa do caminho claro para acabar com essa dependência dos combustíveis fósseis.

 

É tempo de diversificar nossas matrizes energéticas, ampliar as fontes renováveis e acelerar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis.

 

Isso requer alguns compromissos centrais:

 

Em primeiro lugar: implementar o acordo de Dubai de triplicar a energia renovável e de dobrar a eficiência energética até 2030.

 

Em segundo lugar: colocar a eliminação da pobreza energética no centro do debate e incluir metas de cocção limpa e de acesso à eletricidade nos planos climáticos nacionais.

 

Em terceiro lugar: aderir ao Compromisso de Belém para quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035 e acelerar a descarbonização dos setores mais desafiadores.

 

Os cientistas já cumpriram seu papel.

 

Nesta COP, os negociadores devem buscar o entendimento.

 

E nós, os líderes, devemos decidir se o século XXI será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente.

 

Muito obrigado.

 

( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)