Luis Barroso se despede do comando do STF e disse que “ninguém é bom demais, ninguém é bom em tudo. E, sobretudo, ninguém é bom sozinho”
Barroso recebeu cumprimentos do decano da Corte, da OAB, da PGR e da AGU
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(Brasília-DF, 25/09/2025). Na tarde desta quinta-feira, 25, no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) o ministro Luís Roberto Barroso participou de sua última sessão do Plenário como presidente Corte. Na segunda-feira ,29, ele passará o cargo ao ministro Edson Fachin. Barroso, ao encerrar a sessão, destacou a importância e a força do trabalho conjunto e agradeceu aos demais ministros e aos servidores do Supremo.
“Ninguém é bom demais, ninguém é bom em tudo. E, sobretudo, ninguém é bom sozinho. E quem vive num colegiado sabe bem disso. Na verdade, nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos. E acho que foi isso que deu ao Supremo a força para fazer a importante resistência que conseguimos fazer, ao lado da sociedade civil, da imprensa e de múltiplos segmentos da sociedade”, afirmou.
Barroso entende ser necessário que o país viva um novo recomeço, um novo tempo de esperanças para conseguir a pacificação almejada pela sociedade. No entanto, segundo ele, isso não significa que as pessoas devam abrir mão das suas convicções, dos seus pontos de vista e da sua ideologia.
“Pacificação tem a ver com civilidade, com a capacidade de respeitar o outro na sua diferença e compreender que quem pensa diferente de mim não é meu inimigo, é meu parceiro na construção de uma sociedade aberta, de uma sociedade plural”, enfatizou.
Barroso salientou que a Constituição de 1988 desenhou um modelo em que o STF é chamado a decidir diversas questões que em outros países são definidas pelos outros Poderes. Em seu entendimento, esse arranjo institucional, com toda sua complexidade, proporcionou ao país 37 anos de democracia e estabilidade institucional. “Nesse período, não houve desaparecidos, ninguém foi torturado, ninguém foi aposentado compulsoriamente. Todos os meios de comunicação, impressos ou digitais, manifestam-se livremente”, pontuou.
Ainda segundo o presidente, apesar do desgaste de decidir as questões mais divisivas da sociedade brasileira, o STF cumpriu bem o seu papel de preservar o Estado de Direito e de promover os direitos fundamentais.
Firmeza inabalável
O decano do STF, ministro Gilmar Mendes, afirmou que o período de Barroso na Presidência será registrado como um dos mais complexos da trajetória da Corte e, consequentemente, da democracia brasileira. Ele destacou que coube ao presidente conduzir o Tribunal em meio a uma “ofensiva sem precedentes com o objetivo de desacreditar a Justiça brasileira” e de submeter a soberania nacional às conveniências ideológicas de outras nações.
A seu ver, Barroso soube responder às investidas com “firmeza inabalável”, mas também com elegância, cordialidade e urbanidade, mostrando ser possível defender a Constituição e o Tribunal com rigor, mas sem abrir mão do respeito e do diálogo institucional.
O decano destacou que essa gestão ficará marcada pelo fato de que, pela primeira vez na história do Brasil, um ex-chefe de Estado e militares de alta patente foram condenados por tentativa de golpe de Estado. Ele disse que se trata de um evento muito raro também em termos mundiais, e que, até então, apenas outros nove ex-chefes de Estado haviam sido condenados por golpe de Estado após a Segunda Guerra Mundial
Mendes lembrou ainda que, sob direção de Barroso, o STF avançou em pautas de enorme relevância social. “A proteção ao meio ambiente, a defesa da igualdade de gênero, a proteção das minorias, sempre sob a égide da dignidade da pessoa humana, foram itens recorrentes na pauta de julgamentos”, ressaltou.
Por fim, o decano enfatizou que Barroso manteve firme sua fé no direito como instrumento de emancipação humana e de transformação social, “uma convicção que vem desde seus primeiros escritos e permeou toda a sua vida, inspirando seus alunos, leitores e admiradores”.
Atuação diligente
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, cumprimentou Barroso por sua atuação, que classificou como diligente e operosa, para viabilizar o julgamento dos processos criminais dos réus dos crimes contra o Estado Democrático de Direito. Gonet afirmou que o apoio do presidente foi essencial para que a justiça fosse feita, “com segurança e propriedade e com a agilidade que o constituinte preconizou”.
OAB
Em nome do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcos Vinícius Furtado Coelho afirmou que, em tempos de ruídos democráticos, Barroso foi uma voz serena e firme em meio a tensões institucionais e, quando necessário, foi escudo da República, resguardando a soberania do país e a independência da jurisdição.
AGU
O advogado-geral da União, Jorge Messias, agradeceu ao presidente pela coragem com que enfrentou as diversas crises durante seu período na Presidência do STF. “Mas a coragem apenas, não bastou. Foi necessário também a lealdade à pátria, lealdade que só os verdadeiros patriotas puderam demonstrar nesse período”, disse.
( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)