31 de julho de 2025
ECONOMIA

IFI estima crescimento em 1,7% do PIB e inflação em 4,3%; estimativas são piores as que são feitas pelo Governo Federal

Para alcançar o centro da meta estipulada no PLOA, a IFI calcula que seria necessário um esforço fiscal adicional de R$ 79,3 bilhões, ou 0,55% do PIB

Por Politica Real com agências
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Os números não vão deixar o governo em paz Foto: portal Gov.br

(Brasília-DF, 18/09/2025) Às véspera da votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias( LDO), a Instituição Fiscal Independente (IFI) divulgou nesta quinta-feira ,18, o Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) de setembro com estimativas que apontam para um crescimento do produto interno bruto (PIB) de 1,7% e uma inflação de 4,3% no ano que vem, em contraste com os números do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026 (PLN 15/2025), que prevê alta de 2,4% no PIB e inflação de 3,6%.

As divergências entre os cenários, segundo a IFI, elevam o grau de incerteza sobre a capacidade do governo de cumprir a meta de superávit primário de 0,25% do PIB (equivalente a R$ 34,3 bilhões) estabelecida para o próximo ano. De acordo com o relatório, o resultado efetivo esperado é um déficit primário de R$ 103 bilhões (0,7% do PIB). Mesmo considerando os abatimentos legais previstos (R$ 57,8 bilhões), o saldo ainda seria negativo em R$ 45 bilhões, o que colocaria o governo fora da margem de tolerância fixada pelo novo arcabouço fiscal.

“Só essa diferença entre as projeções de crescimento do PIB, de 1,7% pela IFI contra 2,4% do governo, já afeta significativamente algumas estimativas do orçamento, em particular as de receita”,  afirmou o diretor da IFI, Alexandre Andrade, em entrevista à Agência Senado, TV Senado e Rádio Senado.

Com essas projeções na Lei Orçamentária, Andrade alerta que o governo já começaria o ano precisando rever os seus gastos.

“A lei orçamentária seria aprovada com parâmetros um pouco irreais, não condizentes com o cenário macroeconômico, o que obrigaria o governo a revisar tanto as projeções de arrecadação quanto as de despesas. Ao longo da execução, o Poder Executivo teria, por exemplo, que realizar contenção de gastos, como bloqueios orçamentários”,  apontou.

Mais

Para alcançar o centro da meta estipulada no PLOA, a IFI calcula que seria necessário um esforço fiscal adicional de R$ 79,3 bilhões, ou 0,55% do PIB. Em termos estruturais, a instituição também ressalta que, para estabilizar a relação entre dívida pública e PIB no médio e longo prazo, seria necessário um superávit primário de 2,1% do PIB — patamar muito distante do atual.

O relatório atribui o menor dinamismo da economia no próximo ano a uma combinação de fatores, como a política monetária contracionista conduzida pelo Banco Central (com foco em reduzir a inflação), a desaceleração da demanda interna e a moderação do crédito. Apesar da desaceleração em relação a anos anteriores, a economia ainda está operando acima de seu potencial, com o mercado de trabalho aquecido, avalia a IFI.

Incertezas

Outro ponto de atenção destacado pela IFI são as receitas projetadas no PLOA, muitas das quais dependem de aprovação legislativa e não têm realização garantida. Entre elas estão a Medida Provisória (MP) 1.303/2025, que trata da tributação de aplicações financeiras antes isentas, do aumento de tributos sobre fintechs e casas de apostas (bets) e da limitação do uso de créditos tributários. Também estão na lista o Projeto de Lei Complementar (PLP) 182/2025, que revisa benefícios fiscais, e o PL 1.087/2025, que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para pessoas físicas, com promessas de compensações fiscais.

“As receitas esperadas dependerão do grau de desidratação das propostas originais enviadas pelo governo”, alerta o relatório. 

Pelo lado das despesas, a instituição vê otimismo excessivo nas estimativas para os gastos previdenciários e assistenciais, especialmente no que se refere à inflação de 2025 — que impacta o reajuste dos benefícios — e ao número de beneficiários previstos nos programas sociais.

Emendas de comissão

O PLOA, observa a IFI, não incluiu uma reserva para as emendas parlamentares de comissão. Elas não são impositivas e o governo optou por não destinar espaço no Orçamento para essa despesa, estimada em cerca de R$ 12 bilhões. 

“Muito provavelmente durante a tramitação da proposta no Congresso, os parlamentares vão promover alterações no texto para acomodar essas emendas. Isso vai obrigar que os parlamentares façam algum tipo de readequação na proposta orçamentária “, disse Andrade.

Diagnóstico

No relatório, o diretor-executivo da IFI, Marcus Pestana, e o diretor, Alexandre Andrade, fazem um diagnóstico sobre a trajetória fiscal do país. Embora não enxerguem uma crise aguda como a vivida pela Argentina, os economistas destacam que o quadro brasileiro vem se deteriorando de forma “lenta, gradual e progressiva”.

“As mudanças de metas e a exclusão de determinadas despesas da apuração do limite de gastos e das metas fiscais comprometem o papel do arcabouço de sinalizador da solidez da política fiscal”, afirmam os diretores.

( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)