, no Conselhão, volta a defender negociação, mas disse da independência e autonomia dos três poderes no Brasil; Lula disse, sobre terras raras, que o Brasil vai preparar um “política nacional para o setor”
Lula novamente criticou o clã Bolsonaro e seus apoiadores pela atuação contra o Brasil
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(Brasília-DF, 05/08/2025) A principal agenda pública do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta terça-feira, 05, aqui na Capital Federal, foi a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o conhecido “Conselhão”. Ele depois almoçou com os governadores do Consórcio Nordeste para tratar das propostas de compensação ao tarifaço de Donald Trump.
Lula, em discurso, voltou a afirmar que a independência e autonomia dos três poderes no Brasil são inegociáveis. A soberania nacional, composta também por esses valores, será defendida sem descanso, segundo Lula.
Lula se referia ao processo de negociação e resistência ao tarifaço imposto por Donald Trump a produtos nacionais de exportação e a penalidades aplicadas pelo governo estadunidense a autoridades do Judiciário.
“Proteger a nossa soberania é um objetivo que está acima de todos os partidos e de todas as tendências. O Governo não transigirá e não vacilará em seu dever de preservá-la", disse Lula.
O encontro reúne representantes de todos os setores empresariais, de representantes sindicais, de organizações da sociedade civil, da classe artística e das universidades, entre outros segmentos sociais.
O presidente afirmou, entre comentários de improviso e a leitura do discurso previamente preparado, que uma das reais motivações do presidente estadunidense Donald Trump não é sequer política, mas, num patamar abaixo, é simplesmente eleitoral.
Lula novamente criticou o clã Bolsonaro e seus apoiadores pela atuação contra o Brasil, inflando Trump a boicotar a economia brasileira. Sem citar diretamente essas pessoas, Lula afirmou:
"Em nenhum tarifaço aplicado a outros países, houve tentativa de ingerência sobre a independência dos poderes do País. Essa interferência contou com o auxílio de verdadeiros traidores da pátria, que aqui tentaram e defendem publicamente ações contra o Brasil. Vários setores da economia são afetados pela covardia dos que se associaram a interesses alheios ao da nossa nação", disse.
Minerais críticos e terras raras
Ainda sobre o tarifaço, Lula destacou que "o Brasil nunca saiu da mesa de diálogo", e relembrou os esforços diplomáticos de seu Governo junto aos Estados Unidos desde que a ameaça global de tarifaço trumpista rondava a casa de 10%¨. Afirmou também que ele próprio tem se envolvido com a expansão dos mercados para o Brasil, tendo participado de 15 seminários empresariais internacionais e liderado uma equipe que abriu 398 novos mercados para produtos nacionais.
Sobre as terras raras e minerais críticos, objeto de cobiça de outros países por causa de sua utilidade para a produção de componentes de alta tecnologia, Lula disse que o Conselho Nacional de Política Mineral está preparando uma política nacional para o setor. Segundo o presidente, o objetivo dessa política é garantir que a exploração dessas riquezas fique sob controle do Brasil e seja revertida também para o desenvolvimento econômico e social do próprio País.
"Durante séculos, a exploração de riquezas minerais [no Brasil] gerou riquezas para poucos e deixou rastro de miséria para muitos", disse. "Estamos construindo uma política nacional que vai garantir que a exploração desses recursos traga ganhos ao povo brasileiro", completou, após enumerar que o Brasil tem grandes reservas de minerais críticos, como o nióbio.
Veja o discurso, lido, de Lula no Conselhão:
“Entre a última reunião deste Conselho em dezembro passado e o nosso encontro de hoje, nós vivemos uma situação paradoxal. O Brasil nunca esteve tão bem, enquanto o mundo poucas vezes enfrentou situações tão delicadas. Nosso país celebra sucessivos recordes em matéria social e econômica.
É com muito orgulho, e pode ter certeza que é com muito orgulho, que eu comunico a vocês – o que já foi comunicada umas dez vezes aqui – que a ONU disse outra vez que o Brasil estava fora do Mapa da Fome. Isso só foi possível porque implementamos políticas públicas que colocam as pessoas no centro da ação de governo.
Estamos inserindo os pobres no orçamento e, cada vez mais, colocando os ricos no imposto de renda. Temos o menor índice de extrema pobreza e desemprego da nossa história. A massa salarial é maior da série histórica.
A economia não crescia acima de 3% desde 2011. Aprovamos uma reforma tributária que vai simplificar processos, reduzir custos e oferecer maior previsibilidade e eficiência aos negócios. A inflação de alimentos é menos da metade do que foi no mesmo período do governo anterior. A agricultura brasileira se supera a cada ano. A safra atual ultrapassará 330 milhões de toneladas de grãos.
O investimento público e privado em infraestrutura atingiu a marca inédita de 260 bilhões de reais. Nossos portos movimentaram 1 bilhão e 300 milhões de toneladas, maior volume de todos os tempos. Em 2 anos e meio, as vendas de veículos automotivos atingiram o recorde de 14,2 milhões de unidades.
Depois de tantos anos de desindustrialização, a Nova Indústria Brasil – organizada pelo companheiro Alckmin [Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços] produziu o maior crescimento do setor nos últimos 14 anos.
Pela primeira vez, 94% dos formandos do Ensino Médio na rede pública se inscreveram no ENEM. Isso graças ao Pé-de-Meia. Batemos recorde de transplantes e cirurgias eletivas do SUS.
Essas conquistas nos credenciam a enfrentar as turbulências da economia global.
Bem, meus queridos, eu quero dizer para vocês que nós estamos vivendo um momento muito delicado. O multilateralismo e o livre-comércio passam por um dos períodos mais críticos em décadas.
O dia 30 de julho de 2025 passará para a história das relações entre o Brasil e os Estados Unidos como um marco lastimável. Não há precedentes nos mais de 200 anos de relações bilaterais de uma ação arbitrária como a que sofremos. Nossa democracia está sendo questionada. Nossa soberania está sendo atacada. Nossa economia está sendo agredida.
Este é um desafio que nós não pedimos e nós não desejamos.
Em nenhum tarifaço aplicado a outros países, houve tentativa de ingerência sobre a independência dos Poderes do país. Essa interferência em temas internos contou com o auxílio de verdadeiros traidores da pátria que arquitetaram e defenderam publicamente ações contra o Brasil lá nos Estados Unidos.
Vários setores da economia são afetados pela covardia dos que se associaram a interesses alheios aos da nossa nação. Proteger a nossa soberania é um objetivo que está acima de todos os partidos, de todas as tendências. O Governo não transigirá e não vacilará em seu dever de preservá-la.
Não há justificativa para as medidas unilaterais contra o nosso país.
O superávit dos Estados Unidos é robusto: foram 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos. 74% das importações originárias dos Estados Unidos entram no Brasil sem pagar imposto. O Alckmin já falou: oito dos dez principais produtos importados dos Estados Unidos pelo Brasil têm tarifa zero, incluindo petróleo, aeronaves, gás natural e carvão. A alíquota média efetivamente cobrada dos produtos norte-americanos no Brasil é de apenas 2,7%.
As alegações sobre o PIX, a regulação de plataformas digitais e o desmatamento são descabidas. O PIX é um patrimônio nacional e referência internacional de infraestrutura pública digital. Não podemos ser penalizados por desenvolver um sistema gratuito e eficiente.
No Brasil, a liberdade de expressão não é carta branca para a criminalidade. Sejam nacionais ou estrangeiras, todas as empresas precisam respeitar a lei brasileira. É nosso dever proteger famílias e crianças contra aqueles que se utilizam das redes digitais para promover golpes e fraudes, explorar a pornografia infantil ou espalhar o ódio e a desinformação.
Também combatemos de forma incisiva os ilícitos ambientais. Nos primeiros dois anos de mandato, reduzimos pela metade o desmatamento na Amazônia e em 32% em todo o país. Estamos comprometidos a zerar o desmatamento até 2030. Nosso compromisso com o multilateralismo, o meio ambiente e o planeta se reflete na realização da COP 30, em Belém, etapa fundamental no enfrentamento à mudança do clima.
Queridos companheiros e companheiras, o Brasil nunca saiu da mesa do diálogo. A única explicação que eu tenho é que interesses políticos, especialmente político-eleitorais, não podem contaminar as relações comerciais.
Desde 6 de março, quando meu querido vice-presidente teve sua primeira reunião com o Representante Comercial e o Secretário de Comércio dos Estados Unidos, demonstramos repetidamente interesse em dialogar sobre barreiras comerciais tarifárias e não-tarifárias. Foram mais de 10 reuniões em diferentes níveis, envolvendo inclusive o companheiro Fernando Haddad [ministro da Fazenda] e Mauro Vieira [ministro das Relações Exteriores].
Nós não podemos aceitar que o povo brasileiro seja punido. Diante do tarifaço, o compromisso do Governo é com os brasileiros. Vamos colocar em execução um plano de contingência para mitigar esse ataque injusto e aliviar seus prejuízos econômicos e sociais.
Vamos proteger os trabalhadores e as empresas brasileiras que sejam afetadas pelas medidas.
Vamos recorrer a todas as medidas cabíveis, a começar pela OMC, para defender os nossos interesses. Aliás, o governo já vinha atuando para fortalecer nosso comércio exterior e gerar novas oportunidades para empresas nacionais desde antes da mudança de governo nos Estados Unidos.
Desde 2023, o Brasil voltou ao mundo. Um mundo que sentia a nossa falta.
Resgatamos uma política externa consistente com as melhores tradições de nossa diplomacia universalista, que refez laços com países e povos de todas as regiões, credos e origens. Investimos em promoção comercial para levar nossos bens e serviços para os quatro cantos do mundo.
Participei de 15 seminários empresariais realizados no exterior, à margem de visitas que fiz a países europeus, asiáticos, africanos e latino-americanos. Abrimos 398 novos mercados para os nossos produtos agrícolas. Assinamos o Acordo MERCOSUL-Singapura, o primeiro acordo de livre-comércio do bloco em mais de dez anos.
Concluímos com a União Europeia as negociações do primeiro acordo birregional do mundo, que reúne um PIB conjunto de 22 trilhões de dólares, além de 718 milhões de pessoas. Estamos empenhados para que este acordo seja assinado neste ano e entre em vigor o quanto antes.
Em 2025, concluímos as negociações entre o MERCOSUL e a EFTA [Associação Europeia de Livre Comércio], grupo que reúne países de renda per capita elevada, como Suíça e Noruega. Na condição de presidência de turno do MERCOSUL, neste semestre, vamos avançar em negociações com Emirados Árabes Unidos, México e Canadá.
Em outubro, retornarei à Ásia para participar da Cúpula da ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático], bloco de 10 países, 680 milhões de habitantes e PIB agregado de 4 trilhões de dólares.
Depois de ter ido ao Japão, ao Vietnã e à China, visitarei ainda este ano a Malásia e a Indonésia.
Minhas amigas e meus amigos, parcerias sólidas se constroem com base em benefícios mútuos. Durante séculos, a exploração mineral gerou riqueza para poucos e deixou rastros de destruição e miséria para muitos. A transição para uma economia de baixo carbono depende de minerais estratégicos utilizados na produção de baterias elétricas, turbinas eólicas e painéis solares.
Contamos com a maior reserva mundial de nióbio, a segunda de níquel, grafita e terras raras e a terceira de manganês e bauxita. Estamos construindo uma política nacional que vai garantir que a exploração desses recursos traga ganhos ao povo brasileiro.
Queridas amigas e meus amigos, seguiremos mantendo relações econômicas, políticas e culturais com todos os países. Não seremos dependentes de ninguém nem tomaremos parte em outra Guerra Fria.
Este Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável é a cara do povo brasileiro que constrói a nossa prosperidade. A prosperidade verdadeira só existe se for compartilhada e só se fará com ampla e efetiva participação de organizações da sociedade civil. Com a participação de trabalhadores e de empresários, das mulheres, de povos indígenas e comunidades tradicionais, do povo negro, de governadores e prefeitos e da academia.
Nosso horizonte é o de seguir batendo recordes de indicadores de bem-estar e desenvolvimento. Criando um país justo, inclusivo, sustentável, criativo, democrático e soberano para todos os brasileiros e brasileiras. Um país que quer contribuir com voz ativa e construtiva para a solução dos grandes problemas que afetam a humanidade. Que defenda um mundo de paz, mais solidário e menos desigual, livre da pobreza, da fome e da crise climática.
Muito obrigado, e viva ao povo brasileiro, e que Deus nos abençoe.”
(da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)