31 de julho de 2025
Brasil e Poder

Bolsonaro pede desculpas a Alexandre de Moraes, diz que teve conhecimento da minuta do golpe, mas disse que “de minha parte, por parte de comandantes militares, nunca se falou em golpe. Golpe é uma coisa abominável”

O pedido de desculpas aconteceu após Moraes questioná-lo sobre o tema.

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( Publicada originalmente às 15h 30 do dia 10/06/2025) 

(Brasília-DF, 11/06/2025). O destaque da tarde desta terça-feira, 10, no segundo dia de interrogatório dos acusados do “núcleo 1” ou “núcleo crucial” da Ação Penal (AP) 2668, que apura tentativa de golpe de Estado, foi o ex-presidente Jair Bolsonaro.

É a primeira vez que Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes, que antagonizaram por anos, ficam frente a frente e diante das câmeras. A TV Justiça transmite ao vivo a sessão, com reprodução da Política Real e boa parte da imprensa.

No princípio do interrogatório, Bolsonaro pediu desculpas ao ministro do STF por ter insinuado que ele e outros ministros da Corte teriam recebido milhões de dólares de forma ilegal durante o processo eleitoral de 2022. E chamou a fala de "desabafo".

O pedido de desculpas aconteceu após Moraes questioná-lo sobre o tema.

"Quais eram os indícios que o senhor tinha de que nós estaríamos levando US$ 50 milhões, US$ 30 milhões?", questionou o magistrado.

"Não tenho indício nenhum, senhor ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada. Era um desabafo, uma retórica que usei", respondeu.

"Se fossem outros três ocupando, eu teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe. Não tinha essa intenção de acusar de qualquer desvio de conduta dos senhores três", respondeu Bolsonaro.

As insinuações de Bolsonaro sobre o suposto recebimento ilegal de dólares pelos ministros aconteceu durante uma reunião ministerial em 5 de julho de 2022, quando Bolsonaro e outros ministros discutiram o cenário eleitoral daquele ano.

Alexandre de Moraes faz perguntas para Jair Bolsonaro

"Os caras não têm limite. Eu não vou falar que o [Edson] Fachin tá levando US$ 30 milhões. Não vou falar isso aí. Que o [Luis Roberto] Barroso tá levando US$ 30 milhões. Não vou falar isso aí. Que o Alexandre de Moraes tá levando US$ 50 milhões. Não vou falar isso aí. Não vou levar para esse lado. Não tenho prova, pô! Mas algo esquisito está acontecendo", disse Bolsonaro na ocasião.

A troca aconteceu quando Moraes o questionava, entre outros pontos, sobre o discurso de Bolsonaro contra o sistema de urnas eletrônicas, que ele criticava, sem provas, dizendo que era vulnerável a fraudes.

'Golpe é uma coisa abominável', diz Bolsonaro

Ao longo do depoimento, Bolsonaro voltou a defender que os atos golpistas de 8 de janeiro não teriam sido uma tentativa de golpe de Estado e negou ter planejado uma trama golpista, como consta na denúncia da PGR.

"Eu fico até arrepiado quando se fala que o 8 de janeiro foi um golpe. Eram 1,5 mil pessoas, pobres coitados [...] cem ônibus, chegaram na região do setor militar urbano na madrugada de domingo e esse pessoal foi embora logo depois da baderna e sobrou para quem estava acampado aqui. Quem realmente fez foi embora. Agora, aquilo não é golpe", disse.

Em outro trecho do seu depoimento, Bolsonaro afirmou que, durante seu governo, ele não teria cogitado um golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022.

"Só tenho uma coisa a afirmar a vossa excelência: de minha parte, por parte de comandantes militares, nunca se falou em golpe. Golpe é uma coisa abominável. O golpe até seria fácil começar, o after day é que é simplesmente imprevisível e danoso para todo mundo. O Brasil não poderia passar essa experiência dessas e não foi sequer cogitado essa hipótese de golpe no meu governo", disse.

Questionado sobre minuta golpista, Bolsonaro reconheceu reunião para discutir 'alternativas na Constituição', mas negou ter 'enxugado' documento.

Segundo ele, a busca de "alternativas" ocorreu após o TSE estabelecer uma multa de R$ 22 milhões ao seu partido, o PL, quando a legenda apresentou uma petição apontando uma suposta fraude na eleição presidencial de 2022, sem apontar provas disso.

Ainda respondendo à primeira pergunta do Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, Bolsonaro disse que nunca fez "ataques" ao sistema eleitoral, mas sim "críticas". "A desconfiança [em relação às urnas] não começou comigo, começou com Brizola lá nos anos 90, depois passou pro Flávio Dino", afirmou.

Em seguida, Bolsonaro classificou a si mesmo como "carta fora do baralho" ao cobrar providências em relação ao sistema.

"Acredito que nós... os senhores, né, no caso? Eu sou carta fora do baralho... tem que tomar uma providência pra restabelecer a confiança da população no sistema eleitoral nosso"

O ex-presidente disse que não é o único que desconfia das urnas eletrônicas. E afirmou que o agora ministro do STF, Flavio Dino, um aliado de Lula, questionou a credibilidade do sistema de votação em 2010, quando perdeu a eleição para o governo do Maranhão.

Bolsonaro quis mostrar um vídeo com essa declaração de Dino, mas Moraes proibiu a exibição de conteúdos que já não estejam nos autos do processo.

"Eu joguei dentro das quatro linhas [da Constituição] o tempo todo. Muitas vezes eu me revoltava, falava palavrão. Mas, no meu entender, fiz o que devia ser feito", respondeu.

"A intenção minha não é desacreditar [a urna eletrônica], sempre foi alertar para aprimorar", disse o ex-presidente, exaltando o sistema de votação eletrônico com voto impresso usado em países como Paraguai e Venezuela.

"Se tivesse um voto semelhante ao do Paraguai ou das urnas agora da Venezuela, nenhum de nós estaríamos nesse momento, para mim bastante desagradável, de estar perante a vossa excelência nessa circunstância."

Bolsonaro e os demais réus estão sendo ouvidos em depoimento como réus no processo que os avusa de integrar o "núcleo crucial" que teria liderado uma suposta tentativa de golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder após sua derrota nas últimas eleições.

Todos negam as acusações, e o ex-presidente se diz vítima de perseguição política.

( da redação com informações da TV Justiça e BBC. Edição: Política Real)