31 de julho de 2025
COP30

Marcha Mundial pelo Clima reúne 70 mil pessoas, em Belém, informam organizadores; houve cobrança por mais demarcação de terras indígenas

Veja mais

Por Politica Real com agências
Publicado em
Manifestante na Marcha Mundial do Clima, em Belém Foto: Agência Brasil

Com agências

(Brasília-DF, 15/11/2025). Neste sábado, 15, em Belém, Marcha Mundial pelo Clima, com a presença do cacique Raoni, máscaras de Chico Mendes, carros de som e alegoria do boitatá reuniu, segundo seus organizadores, 70 mil pessoas que que saiu do Mercado de São Brás, no centro histórico, até a Aldeia Cabana. Um trajeto de aproximadamente 4,5 km feito sob um sol forte de 35°C.

Um ato que teme a falta de decisões efetivas de combate à emergência climática na 30° Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).

A marcha foi organizada por integrantes da Cúpula dos Povos e da COP das Baixadas, e teve a participação de representantes de organizações de todos os continentes, de povos tradicionais e das comunidades paraenses.

“Estamos aqui com todos os povos do mundo e movimentos sociais para um grito de alerta sobre as ameaças e os ataques aos territórios, e contra defensores e defensoras dos direitos humanos e do meio ambiente. Precisamos que órgãos oficiais e a ONU reconheçam que, para ter transição justa, é preciso proteger quem protege a floresta”, disse Darcy Frigo, do Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH) e da comissão política da Cúpula dos Povos.

“Queremos expressar todas as demandas que têm surgido durante a Cúpula dos Povos. Queremos denunciar as falsas soluções para as mudanças climáticas, como fundos de financiamento para florestas. Pedimos para não explorarem petróleo na Amazônia e para não proliferar os combustíveis fósseis em todo o mundo”, disse Eduardo Giesen, coordenador na América Latina da Global Campaign to Demand Climate Justice.

As ministras do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, subiram no carro principal da marcha para manifestar apoio ao ato pelo clima. Marina destacou o caráter mais popular da COP que é realizada no Brasil.

“Depois de outras COPs, em que as manifestações sociais ocorriam apenas dentro de espaços oficiais da ONU, no Brasil, no Sul Global, em uma democracia consolidada, podemos ocupar as ruas. A COP30 permite o encontro das periferias, das águas, das cidades, dos campos, das florestas. Lugares que enfrentam as mudanças do clima. Em que pesem nossos desafios e contradições, temos que fazer um mapa do caminho para transição justa e encerrar a dependência dos combustíveis fósseis”, disse Marina.

Força cultural

Um dos exemplos das tradições locais de cultura e organização social presentes no ato em Belém foi o Arraial do Pavulagem, grupo que divulga a música popular paraense e amazônica, misturando elementos regionais. O coordenador do Pavulagem, Júnior Soares, entende que é impossível falar de tradições culturais urbanas, sem abordar os extremos climáticos.

“Nós temos 38 anos de construção desse grupo e das apresentações de rua na região de Belém. E as condições ambientais do lugar onde a gente vive sempre foram importantes para nós. Estamos na marcha com uma representação dos nossos brincantes, nos somando a essa luta para pedir um olhar especial do mundo pela Amazônia e para os povos que vivem aqui”, disse Soares.

Marciele Albuquerque, indígena Munduruku, ativista e cunhã-poranga do Boi Caprichoso, foi às ruas para defender a demarcação de terras dos povos tradicionais como política climática.

“A marcha é central para as nossas demandas, porque tem povos, vozes e línguas do mundo inteiro. Uma diversidade cultural muito grande para mostrar a nossa força tanto nas ruas como para o mundo. Nós estamos no centro de todas as discussões na COP30 aqui em Belém, defendendo as pessoas que vivenciam a Amazônia e que pagam pelas consequências climáticas das quais não são responsáveis”, disse Marciele.

Na marcha deste sábado, chamou a atenção uma cobra de 30 metros, com a frase: “Financiamento direto para quem cuida da floresta”. A escultura é resultado de um trabalho coletivo de 16 artistas de Santarém, criada em 15 dias de produção, e apoiada pelo movimento Amazônia de Pé. Construída em parceria com a Aliança dos Povos pelo Clima, a obra apoia a campanha “A gente cobra”, que exige o financiamento direto para as populações que vivem na floresta amazônica.\

Movimentos sociais

O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) trouxe a demanda social por moradia, relacionada aos problemas climáticos. Segundo Rud Rafael, coordenador nacional do MTST, a questão ambiental tem ganhado cada vez mais centralidade nas pautas do movimento.

“Não tem como pensar mais a questão da moradia, sem pensar a questão ambiental. A gente teve no Rio Grande do Sul, por exemplo, um evento climático extremo que impactou mais de 600 mil pessoas. Não tem como pensar mais a questão da moradia só pelo déficit habitacional, quando cada evento climático extremo gera milhares e, às vezes, milhões de impactados. A ideia é colocar a periferia no centro das soluções”, disse Rud.

O ato contou com manifestantes de diferentes organizações internacionais. Kwami Kpondzo, de Togo, na África, veio como representante da Global Forest Coalition, e defendeu a união de todos os movimentos populares como forma de lidar com os problemas ambientais globais.

“Estamos aqui para dar apoio às pessoas impactadas pelas mudanças climáticas, pela degradação florestal, pela mineração, pelo desmatamento. Queremos nos posicionar na marcha contra o capitalismo e o colonialismo. Estamos muito felizes porque as pessoas juntas têm poder e são capazes de mudar esse sistema que destrói o nosso planeta”, disse Kpondzo.

Participação na COP30

Maior participação nas áreas de negociações da COP30 foi outra reivindicação feita pelo movimento indígena nos últimos dias. A principal queixa é que, apesar de alguns terem acesso à chamada Zona Azul da conferência, onde ocorrem as negociações, a participação deles neste processo é limitada.

"Os nossos povos, territórios e modos de vida tradicionais fazem parte da solução para combater a crise climática, mas infelizmente a Conferência das Partes não considera oficialmente os povos indígenas como negociadores", disse Dinamam Tuxá, coordenador executivo da Apib, no dia de abertura da COP30.

"Por isso estamos há meses incidindo com eles para que a demarcação de terras indígenas esteja no centro da agenda. Também vamos nos mobilizar nas ruas e mostrar que a mudança precisa acontecer agora", completou Tuxá.

Alessandra Munduruku seguiu a mesma linha de Tuxá.

"A gente precisa ser mais ouvido [...] Eu não posso falar sozinha pelo meu povo. Preciso consultar o meu povo", Alessandra Munduruku.

O governo, por outro lado, defende que a COP de Belém deve ser considerada como um avanço em relação ao número de indígenas credenciados para a Zona Azul.

Segundo a ministra Sônia Guajajara, neste ano, foram credenciados 360 indígenas brasileiros para a Zona Azul. Deste total, 150 seriam oriundos da Amazônia.

"A gente conseguiu ampliar, pela primeira vez na história, a participação indígena. Essa participação nunca houve na história das COPs", afirmou a chefe da pasta.

"Foi um trabalho junto ao Itamaraty, à Presidência [da República], assim como junto ao secretariado da UNFCC para garantir que nesta COP na Amazônia a gente pudesse ter essa presença indígena", disse a ministra.

 

( da redação com Ag. Brasil e BBC. Edição: Política Real)