31 de julho de 2025
Brasil e Poder

Lula, em Lyon, firma na sede da Interpol, comandada por brasileiro, ato de colaboração para combater o crime internacional; um dos focos é o combate ao crime organizado

Lula disse que é uma honra para o Brasil e para a PF ter o brasileiro no cargo mais alto da Interpol, fruto da credibilidade do país no combate ao crime organizado

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( Publicada originalmente às 11 h 45 do dia 09/06/2025) 

Com agências

(Brasília-DF, 10/05/2025). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva após participar pela manhã do evento 3ª Conferência das Nações Unidas dos Oceanos, em Nice, no sul da França, seguiu para histórica cidade de Lyon, onde fez uma visita a a Interpol, organização policial internacional,  com o objetivo de firmar um ato de declaração de intenções entre Brasil e Interpol com a intenção para ampliar as possibilidades de colaboração e viabilizar novas operações conjuntas.

“Uma das consequências perversas da globalização é a articulação de grupos criminosos para além das fronteiras nacionais. A criminalidade está evoluindo a uma velocidade sem precedentes, exigindo ações multilaterais urgentes e coordenadas”, disse Lula, afirmando que a cooperação policial permanecerá como prioridade da política externa brasileira.

“Para combater o crime de forma efetiva é preciso asfixiar seus mecanismos de financiamento, em especial a lavagem de dinheiro. Nenhum país isoladamente conseguirá debelar a criminalidade transnacional”, acrescentou, ao destacar políticas adotadas pelo governo atual no combate a esses crimes.

A declaração de intenções com a Interpol tem o intuito de:

ampliar a cooperação por meio de iniciativas que visam reforçar a cooperação internacional para enfrentamento do crime organizado;

desarticular organizações criminosas transnacionais e suas redes de apoio;

apoiar a modernização tecnológica e institucional dos órgãos de segurança pública no Brasil e na América Latina; e

promover a proteção de grupos vulneráveis e os direitos humanos na atuação policial.

 

A Interpol, desde novembro de 2024, é comandada pelo delegado da Polícia Federal (PF), Valdecy Urquiza, que foi eleito como novo Secretário-Geral da instituição que reúne 196 nações. É o primeiro representante de um país em desenvolvimento a ocupar esse cargo nos 100 anos de existência da Interpol.

Lula disse que é uma honra para o Brasil e para a PF ter o brasileiro no cargo mais alto da Interpol, fruto da credibilidade do país no combate ao crime organizado. O presidente elogiou o trabalho e a dedicação de Urquiza. Para ele, o papel da polícia, na atualidade, está mais complicado do que em qualquer outro momento da história.

“O crime organizado, você não enfrenta uma simples quadrilha, você não enfrenta os simples grupos; são verdadeiras empresas multinacionais que estão envolvidas dentro das empresas, na política, no judiciário, no futebol, em toda parte da cultura. É como se fosse um polvo de muitos tentáculos tentando tomar conta de tudo que é errado no mundo”, alertou Lula.

Para Urquiza, o acordo com o Brasil servirá de inspiração para que outros países aprofundem a integração com a comunidade internacional. Ele também anunciou a criação de nova força tarefa internacional, fruto do diálogo com chefes de polícia da América do Sul em encontro realizado em Brasília, no mês passado.

O foco será o enfrentamento de organizações criminosas transnacionais atuantes na região.

“A força integrada reunirá especialistas, dados de inteligência e recursos tecnológicos da Interpol para apoiar países da região, na realização de operações conjuntas. Nosso objetivo é claro, enfraquecer as estruturas de comando dessas organizações, interromper seus fluxos financeiros e responsabilizar judicialmente seus principais articuladores”, explicou o delegado.

Lula condecora Urquiza

Para Urquiza, são crimes sem precedentes praticados por organizações poderosas.

“Esses crimes impactam profundamente nossas comunidades, nossas economias, nossas instituições. E nenhum país está imune, nenhum setor está a salvo. Mais do que nunca, torna-se inegociável a necessidade de uma resposta global, coordenada e eficaz”, disse Urquiza, destacando que a defesa do presidente Lula pelo multilateralismo também reflete o espírito que norteia o trabalho da Interpol.

“Por meio da nossa plataforma, países discutem as principais ameaças criminais, compartilham informações de forma segura e planejam operações conjuntas em todo o globo. Apenas no último ano, nossos 19 bancos de dados foram consultados mais de 8 bilhões de vezes por agências de segurança ao redor do mundo”, afirmou.

Ele contou ainda que, na área de combate à exploração sexual infantil, por exemplo, nos últimos anos, a instituição resgatou mais de 48 mil vítimas e identificou mais de 18 mil criminosos ao redor do mundo.

Durante o evento, a Interpol concedeu a Lula medalha que reconhece sua excelência e empenho no combate ao crime transnacional. Por sua vez, Lula condecorou Valdecy Urquiza com a Ordem de Rio Branco no grau de Grande Oficial. A honraria foi instituída em 1963 para distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas, além de estimular a prática de ações e feitos dignos de menção honrosa.

Veja a íntegra do discurso de Lula na Interpol:

Vocês estão percebendo que a minha voz está muito rouca. Eu quero dizer ao companheiro Urquiza [Valdecy Urquiza, secretário-geral da INTERPOL] que eu ia voltar para o Brasil ontem à noite. Mas eu fui provocado pelo Andrei [Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal] e pela minha delegação, porque não é comum um presidente da República visitar a INTERPOL. Então, eu deveria fazer todo o sacrifício para estar aqui. Então eu estou aqui Valdecy.

Estou aqui porque é honroso para o Brasil, é honroso para mim, é honroso para a nossa Polícia Federal, que é um modelo de polícia que serve para muitos países no mundo, e é honroso ter um delegado brasileiro dirigindo, possivelmente, a mais antiga organização policial do mundo.

Portanto, todos nós merecemos apoio, mas você deve se sentir muito orgulhoso, porque a tua indicação é pela tua carreira, pelo teu trabalho e pelo que você conseguiu mostrar às pessoas que iam votar em você, que tipo de delegado que você é.

Parabéns, querido. Faça disso uma profissão de fé. Faça com que a INTERPOL saia mais forte quando você sair do que você a encontrou.

Que Deus te acompanhe nessa empreitada que é muito importante para você e para o Brasil.

É uma honra visitar a mais antiga organização policial do mundo, que reúne mais países-membros do que a própria Organização das Nações Unidas.

Esta é a primeira vez que um presidente brasileiro visita a sede da INTERPOL.

É motivo de grande orgulho ser recebido por outro brasileiro que chegou ao cargo mais alto da organização.

A eeição de Valdecy Urquiza como secretário-geral da INTERPOL é o reconhecimento do papel de destaque do Brasil no combate ao crime transnacional.

Esta organização atua na busca e apreensão de alguns dos criminosos mais perigosos do planeta, combate o terrorismo, resgata vítimas de tráfico e de exploração sexual, e protege o meio ambiente.

Uma das consequências perversas da globalização é a articulação de grupos criminosos para além das fronteiras nacionais.

A criminalidade está evoluindo a uma velocidade sem precedentes, exigindo ações multilaterais urgentes e coordenadas.

Lula com ministros, delegado do PF e gestores da Interpol na frente da entidade em Lyon

Cada vez mais impulsionado pela tecnologia digital e pela conectividade, o crime organizado tornou-se uma questão global.

A Declaração de Intenções que firmamos hoje ampliará nossa cooperação por meio de iniciativas que visam:

i) Reforçar a cooperação internacional para enfrentamento do crime organizado

ii) Desarticular organizações criminosas transnacionais e suas redes de apoio

iii) Apoiar a modernização tecnológica e institucional dos órgãos de segurança publica no Brasil e na América Latina

iv) Promover a proteção de grupos vulneráveis e os direitos humanos na atuação policial

 

Várias outras medidas que tomamos recentemente vão na mesma direção para tornar o Brasil e o mundo mais seguros.

 

Ampliamos nossa rede de adidâncias da Polícia Federal para 34 postos nos cinco continentes.

 

Agora estamos presentes em todos os países da América do Sul.

 

A criação do Centro de Cooperação Internacional da Amazônia reúne as autoridades de segurança pública dos nove países com os quais compartilhamos esse bioma.

 

Na Tríplice Fronteira com a Argentina e o Paraguai, estabelecemos plataforma permanente de cooperação para combater crimes financeiros e o tráfico de drogas, de armas e de pessoas.

Fortalecer a segurança pública também significa proteger a natureza.

Meu compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030 passa por atuar na repressão a todo tipo de ilícito ambiental.

No ano passado, a polícia brasileira apreendeu mais de 250 milhões de dólares em bens de acusados de praticar crimes contra o meio ambiente.

Inutilizamos 60 milhões de dólares em maquinário de garimpos ilegais, como dragas, tratores, retroescavadeiras e aeronaves.

Com o Programa Ouro Alvo, os governos do Brasil e França estão harmonizando os esforços transfronteiriços contra a extração ilegal e as rotas de comércio ilícito de ouro e mercúrio.

Essas operações têm sido fundamentais para a desintrusão de terras indígenas e para reduzir o desmatamento.

A Diretoria de Combate a Crimes Cibernéticos, criada neste meu governo, vem tratando com prioridade os delitos de alta tecnologia, fraudes bancárias eletrônicas e, principalmente, de abuso sexual contra crianças e adolescentes pela internet.

Para combater o crime de forma efetiva é preciso asfixiar seus mecanismos de financiamento, em especial a lavagem de dinheiro.

Nenhum país isoladamente conseguirá debelar a criminalidade transnacional.

Assim como outros desafios da atualidade que exigem ação coletiva, como a mudança do clima e a governança do espaço digital, a cooperação policial permanecerá como prioridade da política externa brasileira.

Meu caro Valdecy, um último recado para você: o papel da polícia no mundo inteiro hoje talvez seja mais complicado do que em qualquer outro momento da história da existência de polícias.

O crime organizado você não enfrenta uma simples quadrilha. Você não enfrenta uns simples grupos. São verdadeiras empresas multinacionais que estão envolvidas dentro das empresas, estão envolvidas na política, estão envolvidas no judiciário, estão envolvidas no futebol, estão envolvidas em toda parte da cultura.

É como se fosse um polvo de muitos tentáculos tentando tomar conta de tudo o que é errado no mundo. Por isso eu estou muito, muito feliz com a tua eleição para secretário-geral da INTERPOL.

Quando o nosso querido companheiro Ahmed [Ahmed Naser Al-Raisi, presidente do Comitê Executivo da INTERPOL] foi ao Brasil conversar comigo, eu fiquei otimista, mas eu achava que era difícil um brasileiro chegar a ser o secretário-geral da INTERPOL. E a tua eleição me confirmou uma coisa em que eu acredito: não existe nada impossível quando a gente trabalha, quando a gente acredita e quando a gente quer.

Por isso, parabéns de coração à INTERPOL por ter escolhido o companheiro Valdecy como secretário-geral.

( da redação com Ag. Basil. Edição: Política Real)