ESPECIAL DE FIM DE SEMANA: Edison Lobão não vê o Nordeste discriminado
Senador do PMDB do Maranhão, ex-governador e ex-ministro de Minas e Energia assegura que há limitações no governo federal que também prejudicam outras regiões do país
(Brasília-DF, 02/10/2015) O presidente da Comissão de Assuntos Sociais do Senado, Edison Lobão (PMDB-MA), rebate críticas de senadores de oposição de estados do Nordeste de que o governo federal não envia recursos para região como deveria. Ex-ministro das Minas e Energia durante o segundo mandato do ex-presidente Lula e durante todo o primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff, ele afirma que os nordestinos sofrem as mesmas limitações da administração em Brasília. O senador também já foi governador do Maranhão.
“Vejo que o governo federal não envia aos estados do Nordeste os recursos que o Nordeste merece. Mas também não faz em relação às demais regiões. É que o governo federal tem as suas limitações. Ele não imprime moeda. Porque se imprimisse ― já o fez em momentos anteriores ― nós teríamos hoje uma inflação elevadíssima. Nós começamos a entrevista falando sobre as dificuldades econômicas do governo, do país. Se o governo federal, com abrir os seus cofres e mandar para as regiões brasileiras mais do que pode mandar, ele se atola mais ainda em dívidas”, argumentou, em entrevista a Política Real.
"Antiga realidade"
Edison Lobão salienta que a realidade do Nordeste em relação as demais regiões do país é antiga, vem da época do Império. “Essa situação do Nordeste não ter os recursos que merece para o seu desenvolvimento é crônica, é antiga. Vem do Império ainda. Mas não esquecer que a Constituição federal, nós decidimos enviar do Fundo de Participação muito mais recursos ao Nordeste do que aos demais estados. Ou seja, o Fundo de Participação é dividido pela população inversa da capacidade econômica de cada unidade da federação. Inclusive as prefeituras. Quero com isso dizer, qualquer estado está em condições de receber mais do Fundo de Participação do que o Rio de Janeiro, do que Santa Catarina ou Paraná”, afirmou.
"Brasil sairá mais forte"
Sobre a crise econômica, o senador diz que realmente é grave. Mas minimiza dizendo que o país sairá dela mais forte como já aconteceu. Afirma ainda que as dificuldades econômicas fazem piorar a crise política, e que “uma se realimenta da outra”. “Ela é visível. Ela existe. Já existiram outras crises ao longo da República e até mesmo na época do Império. Mas esta é uma crise que não podemos menosprezar. Ela é profunda e se alimenta uma da outra. É uma crise econômica, é uma crise política. Elas se realimentam entre si. Precisamos dar solução para uma ou para outra para que se chegue ao final delas. Se a crise política for definitivamente resolvida, facilitará muito (resolver) a crise econômica”, argumenta.
Cenário externo
Edison Lobão também não aceita a ideia de que as crises do país sejam resultado exclusivamente de governos do PT. Assegura é exatamente o contrário porque houve crescimento econômico depois que Lula chegou à Presidência da República em 2003 como nunca havia sido registrado antes. Sobre o momento atual, o senador frisa que não se pode esquecer o cenário externo.
Avanços dos governos do PT
“Não é dos governos do PT. Ao contrário. O governo do Lula, por exemplo, fez com que o país avançasse economicamente como nunca o fizera antes. O Brasil era um país, quando o Lula assumiu, que possuía 30 bilhões de dólares de reservas externas. E ele assumiu o governo no bojo de uma crise econômica também. Qual foi o resultado disso? Em pouco tempo, ao sair do governo em seu segundo mandato, o Lula deixou 370 bilhões de dólares de reservas externas. O país cresceu assustadoramente. No primeiro governo Dilma, esse crescimento prosseguiu, com obras sociais de grande porte sendo realizadas”, exemplifica.
Gastos públicos
Ele rechaça ainda a acusação de oposicionistas de que o problema está nos gastos públicos. “Os gastos públicos se elevaram muito, mas eles não terão sido as principais causas e muito menos as únicas. Houve outras causas. Eu mencionei uma. A crise internacional econômica. O fato é que precisamos não esquecer o que aconteceu e fazer direito para consertar”, responde.
Sofrimento
O senador acha que os brasileiros sofrerão muito antes de o governo vencer a crise econômica, principalmente. Mas acredita que, apesar se não haver como sair de situação semelhante em pouco, a situação estará resolvida até o final de 2017. Sobre a citação de seu nome no escândalo da Petrobras, como decorrência da Operação Lava Jato, Edison Lobão responde que exatamente por ter sido citado evita fazer qualquer comentário a respeito.
Leia a integra da entevista
Essa propalada crise econômica e política é realmente aguda ou está sendo ampliada pelos meios de comunicação?
Ela é visível. Ela existe. Já existiram outras crises ao longo da República e até mesmo na época do Império. Mas esta é uma crise que não podemos menosprezar. Ela é profunda e se alimenta uma da outra. É uma crise econômica, é uma crise política. Elas se realimentam entre si. Precisamos dar solução para uma ou para outra para que se chegue ao final delas. Se a crise política for definitivamente resolvida, facilitará muito (resolver) a crise econômica. Por quê? A questão dos vetos (presidenciais), as propostas que o governo está fazendo de ajuste fiscal dependem muito a situação política do governo junto ao Congresso Nacional. Mas já tivemos outras crises e delas saímos. Saímos mais fortes. É claro que durante o período da crise, o povo sofre. E sofre muito. Na situação atual, está sofrendo bastante. Eu espero que se consiga uma solução o mais breve possível.
A crise econômica é resultado exclusivamente de governos do PT ou tem raízes mais profundas no passado?
Não é dos governos do PT. Ao contrário. O governo do Lula, por exemplo, fez com que o país avançasse economicamente como nunca o fizera antes. O Brasil era um país, quando o Lula assumiu, que possuía 30 bilhões de dólares de reservas externas. E ele assumiu o governo no bojo de uma crise econômica também. Qual foi o resultado disso? Em pouco tempo, ao sair do governo em seu segundo mandato, o Lula deixou 370 bilhões de dólares de reservas externas. O país cresceu assustadoramente. No primeiro governo Dilma, esse crescimento prosseguiu, com obras sociais de grande porte sendo realizadas. Mas chegamos agora no governo dela com uma crise que tem seus fundamentos também na crise externa. Não esquecer que a Europa, até recentemente, esteve afogada numa imensa crise econômica. A China começou, recentemente. E tudo isso tem repercussão em países como o Brasil.
O senhor vê como um fator para aumentar a crise gastos públicos em excesso, como diz a oposição?
Os gastos públicos se elevaram muito, mas eles não terão sido as principais causas e muito menos as únicas. Houve outras causas. Eu mencionei uma. A crise internacional econômica. O fato é que precisamos não esquecer o que aconteceu e fazer direito para consertar.
O que o Senado, o Congresso Nacional podem fazer para ajudar?
O Senado, através do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), já deu a sua contribuição recentemente. Apresentou a Agenda Brasil (conjunto de propostas para tira o país da crise) , que o corolário de propostas de boa qualidade para ajudar o governo a debelar sua crise. E o governo se quiser propor objetivamente o que deseja para que o Senado aprecie.
Operação Lava Jato. Já ouvi de alguns senadores aqui que há um excesso de liberdade do Poder Judiciário e até de órgãos da imprensa no que seriam investigações improcedentes. Como o senhor avalia a questão, já que o nome do senhor também chegou a ser citado?
Exatamente. Como cheguei a ser citado, eu não desejo tecer comentários sobre o assunto.
O Nordeste, neste cenário de crise, continua ainda pior do que o restante do Brasil?
O Nordeste tem crescido mais do que a média do crescimento brasileiro. O Nordeste está sofrendo tanto quanto as demais regiões.
Mas há algum aspecto em que no Nordeste continua mais acentuado? O Maranhão, por exemplo, como está?
O nível de pobreza no Nordeste é maior do que no Sul, no Centro-Sul do país. E por isso, o sofrimento atinge, proporcionalmente, uma faixa maior no Nordeste brasileiro.
Eu ouvi de três senadores do Nordeste a reclamação de que não o envio de recursos federais necessários para estados da região. O senhor vê também algum problema de falta de repasse de recursos do governo federal?
Vejo. Vejo que o governo federal não envia aos estados do Nordeste os recursos que o Nordeste merece. Mas também não faz em relação às demais regiões. É que o governo federal tem as suas limitações. Ele não imprime moeda. Porque se imprimisse ― já o fez em momentos anteriores ― nós teríamos hoje uma inflação elevadíssima. Nós começamos a entrevista falando sobre as dificuldades econômicas do governo, do país. Se o governo federal, com abrir os seus cofres e mandar para as regiões brasileiras mais do que pode mandar, ele se atola mais ainda em dívidas. Essa situação do Nordeste não ter os recursos que merece para o seu desenvolvimento é crônica, é antiga. Vem do Império ainda. Mas não esquecer que a Constituição federal, nós decidimos enviar do Fundo de Participação muito mais recursos ao Nordeste do que aos demais estados. Ou seja, o Fundo de Participação é dividido pela população inversa da capacidade econômica de cada unidade da federação. Inclusive as prefeituras. Quero com isso dizer, qualquer estado está em condições de receber mais do Fundo de Participação do que o Rio de Janeiro, do que Santa Catarina ou Paraná.
Começamos falando em crise econômica e terminamos falando em crise na economia. O senhor vê alguma perspectiva imediata de o Brasil sair dessa situação?
Uma crise como essa não se suplanta imediatamente. Nós vamos vencê-la. Mas isso leva um pouco de tempo. É preciso que todos os brasileiros estejam preparados para um sofrimento lamentavelmente. Mas sofrimento que vai durar algum tempo.
O senhor concorda com mais cobrança de tributos, senador?
Isso está sendo examinado e vai ser mais aprofundado.
Em 2016, 2017, senhor acha que a crise estará debelada?
Tenho fundadas esperanças de que sim.
(Valdeci Rodrigues, especial para Política Real. Edição de Valdeci Rodrigues)