Nordeste e Poder

ESPECIAL DE FIM DE SEMANA: Governo sem credibilidade na Região Nordeste

Presidente nacional do DEM, senador José Agripino, afirma que a decepção dos nordestinos é enorme porque promessas não cumpridas e inflação afligem mais os mais pobres

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(Brasília-DF, 11/09/2015) O presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), não usa meias palavras para classificar o governo da presidenta Dilma Rousseff. Para ele, a administração da petista não tem rumo, comando, propósito, programa, nada. Apesar de ainda não ter completado nem um ano no segundo mandato, o senador não enxerga perspectivas de nenhuma possibilidade de reorganização do governo.

No seu entendimento, Dilma Rousseff e o PT fazem parte do mesmo esquema de desgoverno. Ele diz, em entrevista a Política Real, que a falta de coordenação é generalizada, tanto na administração propriamente dita quanto na relação do governo com o Congresso Nacional. “O problema do Brasil é a falta de comando. É uma questão de o governo saber o quer. O governo está perdido do ponto de vista ideológico”, afirma.

Brigas políticas

No caso do Poder Executivo, José Agripino vê “um rumo” do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e outro do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. E aponta as brigas políticas que detonam o administração federal, como as que envolvem o PMDB e o PT, que deveriam ser os pilares de sustentação do governo no Legislativo. “A base do governo no Congresso está esfarinhada”, frisa.

O senador diz que no topo está a presidenta Dilma Rousseff sem saber o que fazer, com os cofres públicos vazios. Para 2016, o orçamento da União prevê, pelos cálculos da equipe econômica, um déficit de R$ 30,5 bilhões. Ele diz que os ministérios não têm recursos e que o maior problema “é falta de comando”, referindo-se ao Palácio do Planalto. “É um governo que não tem nem objetivos nem propósitos visíveis. Como não tem, a confiança da sociedade se foi”, acrescenta.

"Quebra da palavra"

José Agripino afirma que a credibilidade de Dilma Rousseff não existe mais também na Região Nordeste, onde a petista teve maior número de votos. E o motivo, de acordo com ele, é a simples “quebra da palavra”. Prometer benefícios que não vieram. Ele cita como exemplo a energia elétrica, preço dos combustíveis e a volta da inflação para assegurar que também nos nove estados nordestinos a decepção assemelha-se à do restante do país.

“Ela prometeu baixar a conta da energia elétrica que chega na casa de todos os brasileiros no ano passado. Passada a eleição, ao invés de 20% a menos, subiu foi 50%. Então chegou foi uma coisa ruim e mais do que uma coisa ruim, chegou a quebra da palavra. O aumento do preço dos combustíveis e a volta da inflação”, critica. Outra situação marcante dita pelo senador é que o processo inflacionário faz as pessoas perceberem que não se faz a feira da próxima semana com a mesma quantidade de dinheiro.

Seca

No caso da Região Nordeste, José Agripino diz que a situação é pior ainda por causa das “intempéries”, com a seca que castiga e faz sofrer os nordestinos de forma mais acentuada. Há aí uma junção da pobreza com a pura falta d’água para beber, sublinha o senador. Ele afirma que todos os problemas do país são mais intensos para a população do Nordeste, como o desemprego e a inflação.

“Então, você tem problemas muito agudos. Você tem a inflação, tem o desemprego, tem as oportunidades econômicas que são muito menores e tem uma crise hídrica que potencializa tudo. Mas o que mais aflige o nordestino é a perda do poder aquisitivo decorrente da inflação”, assegura o senador. Para exemplificar, ele diz que quem recebe Bolsa Família também sente o impacto da deterioração do poder aquisitivo.

Leia a íntegra da entrevista

O problema do Brasil é Dilma Rousseff ou o PT?

PT e Dilma Rousseff são a mesma coisa. O problema do Brasil é a falta de comando. É uma questão de o governo saber o quer. O governo está perdido do ponto de vista ideológico. Ele tem um rumo por Levy (ministro da Fazenda, Joaquim Levy) e um outro rumo por Nelson Barbosa (ministro do Planejamento). E não tem o comando político porque o PMDB vive às turras com o PT. A base do governo no Congresso está esfarinhada. Os ministérios estão sem recursos, não tem nada o que fazer. É ministro dizendo que ‘pode ir lá fazer a visita, tomar um cafezinho porque recurso ou solução para os problemas não existem. Então, o problema do governo é a falta de comando e a perda de objetivo e de propósitos. É um governo que não tem nem objetivos nem propósitos visíveis. Como não tem, a confiança da sociedade se foi.

Sabemos que Lula e Dilma Rousseff tiveram um grande número de votos no Nordeste. A região ainda dá apoio a Dilma, ao PT?

Basta você ir lá e conversar com as pessoas das classes A, B, C, D, E. E você vai ver que a decepção chegou a todos. Fundamentalmente porque o governo do PT prometeu uma coisa e fez o contrário. E quando você quiser adquirir popularidade você chega na casa das pessoas com uma coisa boa. Ela prometeu baixar a conta da energia elétrica que chega na casa de todos os brasileiros no ano passado. Passada a eleição, ao invés de 20% a menos, subiu foi 50%. Então chegou foi uma coisa ruim e mais do que uma coisa ruim, chegou a quebra da palavra. O aumento do preço dos combustíveis e a volta da inflação. Ninguém mais faz, esse é um processo que já vem de um ano, ninguém mais faz a feira de uma semana e repete a mesma feira na semana seguinte com os mesmos reais. A inflação está de volta e pesada. Então, por esta razão é que o governo perdeu a credibilidade e perdeu o sentido e o respeito da sociedade. No Sul, no Sudeste, no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste. As pessoas, por mais pobres que sejam, inscritas no programa Bolsa Família, as pessoas compram. E o que compram hoje é muito menos do que compravam ontem porque o governo permitiu a volta da inflação.

No Nordeste a situação é pior do que nas outras regiões...

Eu diria que é porque é uma região menos assistida. É uma região completamente aberta a intempéries do tempo. A seca está nesse momento criando dificuldade para as pessoas terem acesso à água de beber. O nível de emprego no Nordeste é muito mais sacrificado do que no resto do país. Então, você tem problemas muito agudos. Você tem a inflação, tem o desemprego, tem as oportunidades econômicas que são muito menores e tem uma crise hídrica que potencializa tudo. Mas o que mais aflige o nordestino é a perda do poder aquisitivo decorrente da inflação.

Rio Grande do Norte, estado do senhor, tem a mesma situação?

Mesma coisa. Não muda nada. O Rio Grande do Norte eu diria que está até pior porque a crise econômica que se abate no Brasil chega ao Rio Grande do Norte. O Rio Grande do Norte está sendo governado por um governador (Robinson Faria, do PSD) que não tem experiência de Poder Executivo. Ele sempre foi do Legislativo. Está no estágio de aprendizado de capacidade de velocidade da máquina e pode ser surpreendido assim como Sartori (José Ivo Sartori, do PMDB) foi surpreendido as finanças públicas deterioradas. Ele pode ser surpreendido a qualquer momento, sem esperar. E aí, vai administrar aquilo que Sartori está administrando, uma espécie de caos. A ausência dos serviços públicos e a inexistência de metas e propósitos.

Apesar de tudo isso, e ouvi de dois senadores Nordeste algo semelhante ao que o senhor está dizendo. Que os recursos não chegam à região. Além da crise ainda há o problema de os recursos não chegarem ao Nordeste?

Se você for ao Ministério da Integração Nacional hoje e for pedir recursos para o atendimento ao colapso d’água no município de Currais Novos, que é um município de 50 mil habitantes, que tem uma fonte d’água, ao Sul de Gargalheiras, que secou. Se você for lá pedir ajuda para levar água de beber para Currais Novos, a sua resposta vai ser zero. Não tem nada. Não tem providência nenhuma. Então esse é o quadro real do governo em relação ao Nordeste.

(Valdeci Rodrigues, especial para Política Real. Edição de Valdeci Rodrigues)