ESPECIAL DE FIM DE SEMANA Antonio Carlos Valadares diz que governo federal errou ao retardar ajuste fiscal
Para ele, vários atos considerados de “maldade” poderiam ter sido feitos antes das eleições, inclusive avisando a sociedade da real condição da economia do País
(Brasília-DF, 27/02/2015) O ajuste fiscal já deveria ter sido anunciado antes das eleições para Presidência da República. A opinião é do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) e foi externada em entrevista exclusiva para Política Real.
Ao criticar a presidenta Dilma Rousseff, Antonio Carlos Valadares acentuou que parece, à primeira vista, que o governo já sabia das dificuldades que passaria qualquer presidente que fosse eleito. Entre elas as mais impactantes como medidas drásticas contra trabalhadores, promover o aumento de energia e dos combustíveis.
Tudo isso no bojo de um ajuste fiscal, que para ele poderia ter sido administrado de forma paulatina e clara, dando tempo suficiente para a sociedade assimilar. “Enfim, vários atos considerados dentro de um pacote de maldades que poderia ter sido feito um ano antes das eleições avisando a população que o Brasil estava vivenciando uma crise”, arguiu o senador.
Para Antonio Carlos Valadares se esse pacote tivesse sido começado lá pelos idos de 2011, 2012, o impacto sobre as vidas das pessoas teria sido muito menor “Agora o governo federal mandou para o Congresso resolver”, ressaltou.
Oportunidade perdida
Antonio Carlos Valadares foi critic, também, à presidenta Dilma Rousseff no tocante a “uma oportunidade perdida” para corroborar no combate aos custos elevados da máquina federal. A presidenta poderia ter diminuído o número de ministérios após as eleições.
“Mas para contemplar os aliados, garantir a governabilidade teve que se submeter a esse processo. Daí a reforma política, que deve ser feita o quanto antes, ainda este ano”, avaliou o senador.
Reforma enxuta
Na opinião de Antonio Carlos Valadares, é preciso “enxugar” o sistema partidário. Ele citou que no Senado há 81 senadores de 15 partidos. Enquanto na Câmara tem 513 deputados, com 25 legendas. “Isso não dá governabilidade. Isso dá uma balburdia e um crescimento da demanda política para a presidente da República, que ela não pode dar conta”, acrescentou Antonio Carlos Valadares.
Como antídoto a reforma política deve contemplar a cláusula de barreira, proibir a reeleição dos executivos, acomodar os pequenos partidos políticos na federação das legendas maiores. Além de evitar a criação de novos partidos e potencializar a consulta popular para revogação de mandato eletivo como existe nos Estados Unidos.
“Enfim, uma reforma política, que não venha abarcar tudo o que é possível. Mas aquilo que é mais importante. Entre as medidas, ainda, acabar com o financiamento de campanha de empresas privadas e alianças proporcionais. Se conseguirmos umas cinco alterações no sistema eleitoral será um grande começo para futuras mudanças nesse país”, ponderou Antonio Carlos Valadares.
PSB e a crise
A relação da presidenta Dilma Rousseff com partidos, aliados entre eles o PMDB passa por uma dificuldade. A entrada em cena do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um fator que confirmou o desgaste com o já histórico aliado de coalizão.
Antonio Carlos Valadares afirmou à Política Real como é a relação entre o seu partido e a presidenta. “O PSB tem responsabilidade com o país, também com o governo. Nós votamos com a presidenta Dilma (nas eleições), mas temos a responsabilidade com nosso País que precisa entrar nos trilhos do desenvolvimento econômico, do bem estar social, e está se desviando dessa rota, lamentavelmente”, argumentou.
Apontando caminhos
Quanto ao papel do partido em relação à crise econômica, Antonio Carlos Valadares faz uma análise propositiva para dar sua parcela de contribuição na retomada do crescimento econômico do Brasil. O PSB pretende, inclusive, indicar outros caminhos à Presidência da República com a finalidade de não penalizar mais ainda a população, bem como os trabalhadores.
Segundo Antonio Carlos Valadares vários pontos devem ser atacados para superar o momento de mar revolto da economia atual. Ele observara que o custo de vida está aumentando, os investimentos estão sumindo. As empresas quando não estão fechando, diminuirão substancialmente os seus lucros. O consumo sofreu queda drástica a classe média, os servidores públicos assumiram um endividamento tal que não podem mais crescer sob pena de não poder mais pagar.
O PSB entende que medidas amargas tem que ser tomadas, mas critica como estão sendo ministradas pela equipe econômica. Os parlamentares sob o guarda-chuva da legenda manifestam preocupação na condução da política econômica.
No início deste ano, Dilma Rousseff e o PSB se reuniram e foi decidida uma postura de independência na relação com o Palácio do Planalto tanto no Senado, quanto na Câmara. No entanto, Antonio Carlos Valadares acentuou que o partido somente apoiará as medidas provisórias enviadas por Dilma Rousseff ao Congresso Nacional que redundem em benefício do País.
“Votaremos favoravelmente naquelas (medidas provisórisa) que venham contribuir para combater as desigualdades sociais, aumentar o nível de renda da população e o emprego. E, claro, que não venham a sobrecarregar de impostos as classes empresarial e produtoras”, asseverou o senador sergipano.
Antonio Carlos Valadares enfatizou que o compromisso do PSB não é com cargos, nem com prestígio político. “O nosso interesse maior é apontar caminhos, soluções para que o Brasil retome seu desenvolvimento e apoiar todas as matérias que tenham esse objetivo”, resumiu ele.
Petrobras
Antonio Carlos Valadares lembrou que para colaborar como desenvolvimento econômico brasileiro muito se usurpou do impacto das refinarias de petróleo, que acabaram sendo utilizadas com fim eleitoreiro. Mas deveriam ser polos de desenvolvimento econômico regional. Com o escândalo do Petrolão o tiro saiu pela culatra. O que era promessa de criação de empregos acabou por ser um fiasco. Antonio Carlos Valadares se refere à paralisação de projetos e obras de refinarias petrolíferas em estados, a exemplo de Maranhão e Ceará.
“Os partidos que tivessem a bandeira das refinarias de petróleo estiveram em vantagem na disputa dos governos estaduais e pelas vagas no Senado. Inclusive ganhando a simpatia da população. E agora? Como não deu certo por enquanto qual será a reação do eleitorado?”, questionou.
Pelo menos em duas eleições mais recentes o eleitorado acreditou no potencial das refinarias da Petrobras. “Isso virou papel podre, lamentavelmente e as usinas vão desaparecer pelo menos nesses próximos dez anos, infelizmente. Foi uma decepção muito grande nos estados do Maranhão e Ceará”, estimou Antonio Carlos Valadares.
A Petrobras também perdeu, diante da fragilidade da economia nacional, dos escândalos pelos quais está passando, em ações e como consequência tem seu caixa reduzido. “A empresa petrolífera, hoje tem prioridades como a escavação do Pré-sal, de novos campos petrolíferos que dão mais lucro, enquanto isso os estados terão que esperar por muito tempo”, complementou o senador.
É fundamental maior cautela por parte do governo federal no aporte de recursos em projetos de infraestrutura, no sentido de fomentar a retomada da economia. O que se sabe, pelo menos é que a torneira de recursos para os estados já começou a ser fechada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com redução de 23% de recursos, aproximadamente, no PAC 2. A expectativa de gestores estaduais e municipais era de que essa atitude seria a última a ser tomada pela equipe econômica.
(Por Maurício Nogueira, para Agência Política Real, com edição de Genésio Araújo Jr.)