Maiores bancadas continuarão a ser do PMDB no Senado e do PT na Câmara
Proporção numérica só será abalada, no Senado, pela perda de três importantes lideranças da legenda: José Sarney, Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon
(Brasília-DF, 03/09/2014) Das 27 cadeiras em disputa no Senado ― uma por cada unidade da Federação ― o PMDB deverá conquistar pelo menos sete delas, reafirmando, assim, a posição de maior bancada, que detém há várias legislaturas. Oito peemedebistas lideram as pesquisas, quase todos com folga. A esses sete ou oito se juntarão entre 12 e 14 senadores que ainda detém mais quatro anos de mandato. Na Câmara, a maior bancada ainda será a do PT, que deverá ter de 75 a 85 deputados.
Tal expressão numérica será em alguma proporção abalada pela perda de três nomes de perfil diferenciado, mas que exerceram importante papel na história do partido: o gaúcho Pedro Simon, que dificilmente será reeleito, e o pernambucano Jarbas Vasconcelos, que preferiu retornar à Câmara dos Deputados. Os dois foram combativos oposicionistas durante o período militar e deram demonstrações de independência e mesmo de visão crítica em relação ao governo Dilma.
José Sarney
De índole inversa, mais associado às práticas da velha/nova política ― o governismo rebatizado de governabilidade, a maior perda peemedebista, para os padrões vigentes, é o maranhense José Sarney, que em 1984 trocou o PDS pelo PMDB, para tornar-se vice de Tancredo Neves, e afinal Presidente da República destacando-se, nas três últimas legislaturas, como uma das figuras centrais do condomínio de poder formado pelo PT e PMDB.
O PSDB espera eleger quatro ou cinco senadores e o PT de três a cinco. A casa é composta por 81 representantes ― três por Estado. A maior renovação deverá ocorrer nas eleições de 2018, quando estarão em disputa 54 cadeiras (dois terços do total). O pleito de hoje, de fato ainda não representará a definição absoluta da composição que o Senado terá na próxima legislatura (2015/2019).
Como vários senadores concorrem aos governos dos seus Estados e os suplentes nem sempre pertencem aos seus partidos, algumas alterações poderão ocorrer em eventuais segundos turnos. Exemplos: no Ceará, o líder nas pesquisas, Eunício Oliveira , do PMDB, tem como primeiro suplente o petista Waldemir Catanho. No Distrito Federal, o suplente do candidato favorito, Rodrigo Rollemberg (PSB), é o também petista Hélio José da Silva Lima. Em Mato Grosso, com a possível vitória do pedetista Pedro Taques, sua atual cadeira será ocupada pelo suplente do PPS, José Antonio Medeiros e, no Rio Grande do Sul, se eleita a candidata do PP, Ana Amélia, a vaga ficará com o suplente José Alberto Henzel, do PSDB.
Como fica o PSDB
Do ponto de vista do equilíbrio das forças políticas, cabe uma análise especial sobre o PSDB. Na próxima legislatura, sua bancada deve manter a atual dimensão (12 atuais senadores) , com possível perda de uma vaga, mas com uma presença mais forte no cenário parlamentar, especialmente na hipótese de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Nesse quadro, o partido certamente seria empurrado para uma postura mais nítida de oposição ao governo federal, em contraste com a tibieza demonstrada no atual mandato pela maioria dos tucanos.
Além do favoritismo do ex-presidenciável José Serra em São Paulo, do retorno do ex-presidente nacional do partido, Tasso Jereissatti, e da reeleição do combativo líder Álvaro Dias, um diferencial nesse PSDB que se delineia seria o papel do seu candidato, Aécio Neves, que na oposição tentaria ao menos reconquistar espaços perdidos em Minas ou mesmo credenciar-se para nova disputa presidencial em 2018, com o reforço do seu antecessor no governo mineiro, Antonio Anastasia, outro favorito para a conquista de uma vaga no Senado.
Na hipótese de vitória da candidata do PSB, Marina Silva, não se deve excluir a possibilidade de uma aliança com os tucanos, valendo o mesmo para a hipótese contrária ― a vitória de Aécio, cuja candidatura está em ascensão nas pesquisas. Apesar das críticas que o candidato do PSDB tem dirigido às contradições de Marina, as identidades ideológicas entre os tucanos e forças as econômicas que apoiam a candidata do PSB tenderiam a falar mais alto já no início do seu eventual governo.
Potencial do PT e PSB
Quanto ao PT, um dos dados mais relevantes ― independente até da dimensão da bancada ― pode ser o resultado da eleição em São Paulo, palco de históricos confrontos entre o partido e o PSDB. Além da quase certa vitória do tucano Geraldo Alckmin na disputa pelo governo do Estado, o Partido dos Trabalhadores pode amargar a derrota para Serra do seu candidato ao Senado, Eduardo Suplicy, que assim encerraria uma das mais longevas ― na história recente do país ― participações na chamada Câmara Alta.
O PSB de Marina (?) terá entre cinco e sete senadores. Na atual disputa seus candidatos favoritos estão no Rio de Janeiro (o ex-jogador Romário) e no Piaui (Wilson Martins). O partido também participa de disputas equilibradas em Pernambuco, no Amapá, Rio Grande do Norte e Maranhão.
A provável composição do futuro Senado*:
PMDB................. 19 a 21
PT....................... 12 a 15
PSDB.................... 11 a 12
PDT...................... 5 a 7
PSB...................... 5 a 7
PP........................ 3 a 4
Outros** 16 a 23
*Os números atribuídos a cada bancada correspondem ao potencial de vitória na eleição para o próprio Senado, somados à possibilidade de atuais suplentes se tornarem titulares em vagas que serão deixadas por alguns candidatos a governador, e aos senadores cujas cadeiras não estão em disputa no atual pleito.
** Outros representam a soma de nove pequenos partidos
Câmara pode ter renovação próxima a 50%
A renovação da Câmara dos Deputados, que nas quatro últimas legislaturas tem oscilado entre 42% e 45%, tende a ser ligeiramente maior, com os resultados da eleição deste domingo, 5, podendo até beirar os 50%. O PT e o PMDB ainda serão os maiores partidos, com prováveis perdas em relação aos resultados de 2010, quando os petistas conquistaram 88 cadeiras e o PMDB 78. O PSDB terá uma bancada assemelhada à atual (44, podendo apresentar ligeiro crescimento). O PSD entre 36 e 42; o PSB e o PP em torno de 35; PR e o DEM cerca de 25; e o PTB em torno de 20 deputados. PPS, PCdoB, PDT e PROS devem eleger entre 13 e 16 deputados, cada um deles.
Na realidade, as previsões, que em eleições proporcionais recentes conquistaram certa credibilidade pelo grau de aproximação entre os números previstos e as bancadas eleitas, tornaram-se um penoso exercício na atual disputa.
Vários complicadores que embaralham as avaliações de especialistas de consultorias, da mídia e dos próprios partidos, certamente repercutirão na decisão dos eleitores. Fatores como o desgaste provocado principalmente no PT pelo escândalo do Mensalão, as coligações partidárias cada vez mais contraditórias, as repercussões da disputa presidencial, fortemente dominada pela troca de hostilidades entre os candidatos, pelas graves denúncias que atingem o governo federal, pela exploração, por Dilma e Aécio, de contradições cometidas por Marina, pelas acusações de que Aécio e Marina poderão por fim a programas sociais dos governos petistas, tudo isso num quadro de extrema violência urbana e de temor quanto aos desdobramentos no próximo ano da crise econômica já delineada.
Independentemente do número de cadeiras a serem conquistadas pelos partidos ― questão essencial para a articulação, já a partir do próximo mês, da base de sustentação do futuro governo ― pode-se adiantar que a renovação da Câmara se dará, em proporções nunca antesregistradas , pela eleição de um forte contingente de familiares de líderes políticos regionais ― em âmbito estadual ou municipal ― somando-se a essa familiocracia cerca de 20 ex-deputados federais com reais chances de retornar à Casa depois do intervalo de uma ou mais legislaturas , dezenas de suplentes da atual legislatura, além de ex-governadores, ex-senadores, ex-prefeitos e ex-secretários de Estado.
Os que retornam
Entre os nomes com maiores possibilidades de eleição, que não integram a atual legislatura, figuram os ex-senadores e também ex-deputados Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Marcondes Gadelha (PSC-PB), José Fogaça (PMDB-RS), Inácio Arruda (PCdoB-CE), Ademir Andrade (PB-PA), Heráclito Fortes (PSB-PI) o ex-governador de Alagoas, Ronaldo Lesssa (PDT), a ex-governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, do PSDB, o ex-governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, os ex-governadores do Maranhão, José Reinaldo (PSB) e João Castelo (PSDB), os ex-ministros Patrus Ananias (do Desenvolvimento Social – PT-MG),Brizola Neto (do Trabalho – PDT-RJ), Aguinaldo Ribeiro (das Cidades – PP-PB), e o ex-prefeito de Vitória, Luiz Paulo Velozzo Lucas (PSB). A lista de ex-deputados com reais chances de retorno inclui ainda o ex-líder do PFL, José Carlos Aleluia (DEM-BA), o ex-lider do PTB, Benito Gama (BA), Domingos Leonelli (PSB-BA), Moroni Torgan (DEM-CE), Carlos Mosconi (PSDB-MG)
O cálculo de renovação leva em conta a composição da Câmara no início da atual legislatura
(01.02.2011). Desde então 118 deputados deixaram a Casa por diferentes motivos: 25 porque foram eleitos prefeitos em 2012, oito atingidos por denúncias de corrupção, pelo menos 15 que decidiram permanecer no Ministério (Aldo Rebelo, dos Esportes e Ricardo Berzoini, da Secretaria de Assuntos Institucionais da Presidência) ou Secretarias de Estado e aqueles que transferiram as candidaturas para familiares, por responderem a processos na Justiça ou por motivos de saúde. Entre os que foram eleitos prefeitos figuram os de capitais como Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), o de Belém, Zenaldo Coutinho (PSDB), o de São Luiz, Edivaldo Holanda (PTC), Mauro Nazif, de Porto Velho (PSB), Rui Palmeira, de Maceió (PSDB) e Tereza Zurita, de Boa Vista (PMDB).
Por envolvimento nos mensalões renunciaram ao mandato os ex-presidentes do PT, José Genoíno, e do PL (atual PR), Waldemar Costa Neto, e o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha (PT-SP). Outro que renunciou antecipando-se à decisão da Justiça foi o deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ex-governador de seu Estado.
Os partidos na futura Câmara *
PT 75 a 85
PMDB 62 a 68
PSDB 44 a 48
PSD 36 a 42
PSB 35
PP 35
PR 25
DEM 25
PTB 20
PPS 13 a 16
PC do B 13 a 16
PDT 13 a 16
Outros* 90 a 115
Outros representam a soma do potencial de 17 micros e pequenos partidos
(Por Marcondes Sampaio, especial para Agência Política Real, com edição de Valdeci Rodrigues)