ESPECIAL DE FIM DE SEMANA: Safra de cacau no Nordeste deve crescer 3,5%
Percentual de aumento é referente à produção de 2013, de acordo com o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE
(Brasília-DF, 12/07/2014) O mais recente Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-LSPA), indica que a safra de cacau do Nordeste neste ano vai avançar em torno de 3,5% sobre a do ano passado. A previsão é de que chegue a 163,5 mil toneladas contra as 158,1 mil toneladas de 2013. Apesar das chuvas, em quantidade maior do que o esperado, que ocorreram em maio deste ano no sul da Bahia.
De acordo com o levantamento, o desempenho foi favorecido pela elevação da produtividade nas regiões produtoras que tiveram ganhos de 3%, passando de 297 quilos para 306 quilos de amêndoas de café por hectare.
Área colhida
Os dados do LSPA também apontam que a área colhida na região Nordeste deve alcançar 534,3 mil hectares, basicamente a mesma do ano passado (533,2 mil hectares). Já, em âmbito nacional, os números apontam para uma produção da ordem de 261,8 mil toneladas, queda de 2,1% sobre a registrada no ano passado.
A área colhida sofreu um ligeiro acréscimo (0,2%), passando de 684,4 mil hectares, em 2013, para 685,5 mil, neste ano. No caso do rendimento, o índice de 374 kg/ha previsto para 2014 ficou abaixo do registrado no ano anterior (383 kg/ha).
Autossuficiência
Segundo informações da Comissão Executiva do Plano de Lavoura Cacaueira (Ceplac) ─ órgão do Ministério da Agricultura que tem representação na Bahia, Espírito Santo, Pará, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, responsável pelo fomento à cultura do cacau ─, a indústria brasileira de chocolate demandará 245 mil toneladas da amêndoa, em 2014. Ou seja, o país voltará a ter autossuficiência na produção de cacau, com um excedente por volta de 16 mil toneladas, caso se concretize a previsão do LSPA.
Produção de cacau no Nordeste
|
Total em 2013 |
Estimativa para 2014 |
Var. (%) |
Área colhida (ha) |
533.249 |
534 299 |
0,2 |
Produção (toneladas) |
158.109 |
163 566 |
3,5 |
Produtividade (Kg/ha) |
297 |
306 |
3,0 |
Fonte: IBGE-LSPA
Ampliação de produtividade
Com o propósito de incentivar a preservação e recuperação ambiental, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), no dia 2 de junho, assinou decreto que regulamenta a gestão das florestas e das demais formas de vegetação da Bahia. O decreto permite intervenções na área da Cabruca, sistema de cultivo de cacau sob árvores da Mata Atlântica.
Estima-se que com o manejo do sistema haja um impulso na economia regional, por meio da comercialização de madeira dentro da Lei Ambiental da Bahia. Pois com a classificação da Cabruca como sistema agrossilvicultural, o produtor poderá realizar o manejo de sombra nas plantações, permitindo maior entrada de luz e, consequentemente, ampliando a produtividade da lavoura cacaueira.
Recursos
Para o superintendente da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira Bahia (Ceplac-BA), Juvenal Maynart, é importante o reconhecimento do sistema, pois a partir de agora será possível pensar em um mercado de serviços ambientais, regulamentados por lei estadual.
“O governador já enviou mensagem à Assembleia nesse sentido. Isso trará, num futuro próximo, um grande aporte de dinheiro à região, proveniente desse novíssimo mercado”, sublinhou Juvenal Maynart.
Ele entende que o decreto abrirá portas para que a região seja beneficiada com ações de compensações de impacto ambiental praticadas por grandes projetos econômicos em áreas fora do Estado. “Isso será possível, desde que o impacto e a compensação ocorram no mesmo bioma, no caso, a Mata Atlântica, não necessariamente no mesmo local. Tudo isso está previsto no novo Código Florestal Brasileiro”, afirma Juvenal Maynart.
Chuvas
No mês de maio deste ano, período que, tradicionalmente, marca o início da colheita temporã (abril a agosto) ─ a safra ocorre em outro período, entre novembro e fevereiro ─ do cacau na Bahia, choveu mais que o previsto e, claro, prejudicando a produção.
No caso do sul da Bahia, o fruto ainda não estava pronto e a safra, que vai de maio a setembro, começou bem abaixo das expectativas dos produtores. O preço da arroba permanece estável, girando em torno dos R$ 105,00, hoje.
Quebra na produção
Na fazenda do produtor José Soares, em Uruçuca, a quebra na produção chegou a 50% em relação ao ano passado. “Em 2013 eu fiz 400 arrobas e neste período ainda não cheguei a 200. Isso deixa a gente fragilizado porque são recursos que se emprega, temos as despesas e bastante dificuldade”, ressaltou ele em entrevista à revista Globo Rural.
As condições climáticas, com tempo nublado e o desequilíbrio entre os períodos de umidade e de sol, acabaram atrasando o amadurecimento do cacau. Frutos que já eram para estarem prontos para ser colhidos, ainda vão precisar de mais três ou quatro semanas.
Excesso de chuva
De acordo com o agrônomo Milton Conceição, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), o cacau precisa de 135 milímetros de chuva no período de frutificação, mas os índices em alguns pontos das áreas produtivas de Ilhéus e região chegaram aos 400 milímetros. “Houve um excesso de chuva e isso faz com que se tenha menos luminosidade, excesso de umidade e a planta fica com as atividades fisiológicas menores”, conta.
O Estado da Bahia produz atualmente cerca de 95% do cacau do Brasil. A produção nacional corresponde a cerca de 5% da mundial. A Costa do Marfim é o maior produtor mundial, com aproximadamente 40% do total.
(Por Maurício Nogueira, especial para Agência Política Real, com edição de Valdeci Rodrigues)