Idos de março sempre impressionante.
A coluna de Genésio Junior é publicada todos os domingos neste espaço
(Brasília-DF) O mundo ocidental tem nos meses de março, agosto e outubro(Morte de César, Noite de São Bartolomeu e Revolução Russa, respectivamente) signos de marcos históricos. No Hemisfério Norte são, respectivamente, os princípios da primavera, do outono e do inverno – no Sul, que até a pouco não tinha muita importância, tínhamos o fim do verão, o final do inverno e o meio da primavera.
Esses idos de março se iniciam cheios do signo do período - o cheiro de sangue, traição e mudança.
A política encrespa com a reforma ministerial, farol das novas relações, a crise federativa da queda dos vetos à nova Lei do Pré-sal, discussões na Câmara, no Senado e no Supremo. Os governadores estarão esta semana na Câmara Federal, a convite do presidente Henrique Alves, para apresentar argumentos de uma pauta mínima para ajudar a destravar toda essa questão - a relação União, Estados e Municípios.
Na economia, é nítido que o avanço da inflação que caminha no sentido de ultrapassar a meta prevista para os 12 meses, não só a do ano, que ainda resta bastante, e a sensação nítida de esgaçamento da política macroeconômica - baseada na trinca superávit primário, câmbio flutuante e metas de inflação - preocupa, pois depois de reconhecer que o Brasil não poderia deixar de crescer, progressivamente, para vencer as desigualdades(marca dos Anos Lula), o Governo dá sinais de que prefere controlar a inflação que cuidar do crescimento. Isso não pode ser dito como definitivo. Temos que esperar um aumento de juros para confirmar nosso temor.
Os analistas econômicos acreditam que existem sinais de que a economia vá começar a ganhar, no final deste semestre, os frutos da intensa política de desonerações. A última foi apresentada na sexta-feira, 08, quando da aparição da Presidenta Dilma saudando as mulheres em seu “Dia Internacional” – agora, ela ataca os custos fiscais federais da cesta básica. Mais virá, se sabe.
Na onda das desonerações, a Presidenta e seus ministros contaram os detalhes e vantagens do Regime Diferenciado de Contratações(RDC) aos prefeitos, no Palácio do Planalto, que será usado nas obras do “PAC Saneamento e Mobilidade” de agora em diante. Ela destrava a economia. Já se sabe que os futuros editais de grandes obras para a iniciativa privada lhes garantirão, aos empreendedores, lucros mais que republicanos.
São muitos acontecimentos e ambientes, políticos e econômicos, se apresentando neste trimestre.
Na questão federativa, a Presidenta Dilma e o Governo Federal vão perder em qualquer cenário. O discurso federativo é um argumento bom e velho do bom e velho Eduardo Campos. No final da semana, ele e seu Estado que ganham muito com a nova divisão dos royalties, reclamou do resultado da disputa, que deveria ter havido mais conversa e que deverá terminar na Justiça. Falou como o gato que come e mia.
Estratégico. Rio, Nordeste e Minas vêm sendo o peso definidor das recentes eleições presidenciais. Os traumas são e serão severos. O imposto inflacionário pesa mais no Nordeste que em qualquer região do país. O crescimento é mais importante no Nordeste que em qualquer região do país.
O que encanta, em qualquer análise, é como é sofisticada e complexa a sociedade brasileira num momento em que o Mundo Ocidental não sabe lidar com dilemas que já tinha lidado e compreendido.
Idos de março: impressionante o velho no novo.
Eis o mistério da fé.
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
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