Sonháticos e Ética na Política
A coluna de Genésio Junior é publicada todos os domingos neste espaço
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(Brasília-DF) Neste final de semana foi lançada, aqui na Capital Federal, as bases da “ Rede Sustentabilidade”, o novo partido político que, gostem ou não seus fomentadores, surge para dar condições políticas para a candidatura presidencial da ex-senadora Marina Silva.
Eles fizeram o evento em Brasília, precisarão colher 500 mil assinaturas em 9 estados e aprovar o processo no TSE até outubro deste ano para entrar na disputa de 2014. Bem, vamos lá: a iniciativa é boa, os partidos políticos vivem em crise no país, a ex-senadora é uma mulher admirável com uma bela história de vida(Nordeste+Amazônia+Ética+ Moderno).
O partido surge com a marca dos “sonháticos”. Isto me fez lembrar, e os jovens que estão atentos a tudo que envolve a imagem de Marina Silva precisam ser lembrados de algo que os jovens dos anos 80 também ouviram como nova verdade.
Naqueles idos se falava de “Ética na Política”. O PT era o principal articulador desta bandeira. Na época, o PT ainda não era poder federal e se arvorava dessa tese para realçar suas diferenças dos partidos centristas e conservadores e, até, mais à esquerda. Na época, o PDT de Brizola, rivalizava com os petistas de Lula e fazia coligações com partidos mais ao centro. “Ética na Política” seria o que hoje seriam os “ Sonháticos” - um tremendo contrassenso, mais que um contraditório: um atentado ao que é a política e democracia moderna.
Não existe “Ética na Política”, existe “Moral na Política”; não existe “Sonho na Política”, existe “ Real Politik”.
A Política é uma construção humana e não uma construção divina. A busca pelo poder que dá dimensão social a ação política exige de seus agentes não pedir licença para chegar, mas tomar posições para assumir. Ninguém dá poder a ninguém que não queria tomá-lo em suas mãos com todos os seus pecados. Dizer que o poder de qualquer forma é válido não se justifica, existe dignidade em conquistá-lo.
Marina encanta pela intensa dignidade que exala, mas a hipocrisia que seus apoiadores institucionais vêm levando adiante e o próprio fato dela ter dito nesse domingo que o partido não é um trampolim a sua busca e que “não é de direita e nem de esquerda” são alguns indicativos de que não temos muito o que comemorar(ou seria sonhar?) e ver na iniciativa uma tábua de salvação de nossas agruras políticas.
Não existe caminho fácil para a atividade política, não existe palavra mágica, não existe saída sem esforço. As pessoas teimam em querer que o poder não contrarie interesses. A maioria real, não a maioria da vez, sempre vai transformar os preteridos em inimigos do jogo democrático.
A velha classe média está em crise com o que conquistou e a nova classe média ainda lida com o que lhe foi permitido.
É interessante, pois a classe média antiga já conhecia no que ações pretenciosas costumavam dar. A nova classe média, naqueles idos, só tentava sobreviver entre a indigência e a extrema pobreza – a política ainda não lhe era grande coisa.
Sonháticos e Ética na Política tudo a ver!
Por Genésio Araújo Junior, jornalista
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