A prostituta, os guerrilheiros, o guarda da esquina e o depois
A coluna de Genésio Araújo Jr é publicada todos os domingos neste espaço
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(Brasília-DF) Vivemos uma semana especial. Foi a primeira vez que a Presidenta Dilma Rousseff se envolveu com o julgamento da Ação Penal 470. O julgamento do “ mensalão”
Não resta dúvida que o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo, que será o presidente do Judiciário Nacional em novembro, provocou a Chefe de Estado - não só a Chefe de Governo. Tudo porque ele disse que a Presidenta teria ficado surpresa com a aprovação do marco regulatório do setor elétrico, no início do primeiro governo Lula. Ela disse que na época ficou surpresa, mas porque todas as forças políticas aprovaram as mudanças.
É inequívoco que este julgamento poderá entrar para a história como uma dura lição aos corruptos, mas poderá ter outras versões. Poderá ser o julgamento da “Prostituta que venceu os Guerrilheiros” ou “ Um país com vergonha da democracia”.
Nesta semana, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, considerado um decano, respeitados por todos que estudam o Brasil, disse numa entrevista no “ Valor Econômico” , quase isolado, que este julgamento era de exceção.
“Estão considerando esse julgamento como um julgamento emblemático, mas é justamente o oposto, é um julgamento de exceção. Isso jamais vai acontecer de novo, nunca mais haverá um julgamento em que se fale sobre flexibilização do uso de provas, sobre transferência do ônus da prova aos réus, não importa o que aconteça. Todo mundo pode ficar tranquilo porque não vai acontecer de novo, é um julgamento de exceção.”
Entre outras coisas, a condução que está sendo feita é de que os senhores juízes da Suprema Corte entendem que a democracia que eles vêm não tem nada a ver com a democracia real. O processo de formação de maioria na política brasileira é do presidencialismo de coalizão. Um partido vence e depois para ter maioria reparte o poder com os que desejam se ajustar a este poder vindo das urnas. Os juízes da Suprema Corte estão esquecendo isso.
Se prevalecer a tese do domínio do fato, poderemos ver , segundo entendimento de muitos, a vitória da prostituta das provas, a testemunha, sobre outras evidências ou ausência de provas. Teme-se que na prevalência dessa tese voltemos ao tempo do poderoso guarda da esquina. Quem garante que o guarda dos poderosos de um local distante do mundo civilizado, sob ordens de uma comunhão entre um juiz e um prefeito amigo, não aplique medidas de “domínio do fato” para cauterizar um adversário do status quo!?
Para quem gosta da política, vai ser triste ver o fim dos guerrilheiros José Genoíno e José Dirceu - serem condenados como tudo caminha para ser. A direita vai festejar e as esquerdas vão ter que se reinventar.
Um das consequências, no PT, será o esfacelamento da tendência “Construindo o Novo Brasil”, CNB, que substituiu o antigo “Campo Majoritário”. O normal seria o fortalecimento da tendência “Mensagem ao Partido” e da tese da Refundação, que foi comandada pelo, hoje, governador gaúcho Tarso Genro. Detalhe: ele e todos os nomes importantes dessa tendência devem sair derrotados nas eleições municipais deste ano.
Muita depressão e muita animação.
Eis o mistério da fé.
Por Genésio Araújo Jr, é jornalista
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