Dilma, Zé Dirceu e o Guia Eleitoral
A coluna de Genésio Araújo Jr é publicada todos os domingos neste espaço
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(Brasília-DF) O julgamento do caso conhecido como “Mensalão”, que o Supremo chama de “Ação Penal 470”, está saindo do ambiente dos jornais e das revistas semanais para o horário eleitoral.
Na semana passada, neste espaço alertava para o fato de que as eleições no Nordeste começavam sob a marca de 6 entre 9 capitais apontarem que tenderiam a votar, majoritariamente, em candidatos de oposição aberta não só ao PT, mas ao Lulismo e ao Governo Federal. Alertava para o fato de que com a ausência da Presidenta Dilma no processo eleitoral do Nordeste, e com a onipresença de Lula nos pleitos onde o PT tem candidatos em cidades com mais de 150 mil eleitores - corria-se o risco de um(a) vencedor(a) ou perdedor(a), claro(a), ao final de tudo.
Não é bom esquecer, que tem gente que aconselha a Presidenta que a eleição municipal não tem relação com a eleição presidencial de 2014. Em tese sim, mas dependendo de outras coisas não!
A Ação Penal 470 terminou a última semana sob a marca do “contraponto” do senhor ministro Ricardo Lewandowski, relator revisor, ao voto do ministro Joaquim Barbosa, relator. Ele, Lewandowski, criou dúvidas claras sobre os argumentos tanto de Barbosa como do procurador geral da República, o cearense Roberto Gurgel. É verdade que é tudo muito técnico. Os argumentos, quando observados com a minudência que esse tema exige, são muito fortes. Lewandowski gerou o que se diz no direito a dúvida razoável, a disjunção da norma.
Não sabemos, ainda, como o cidadão comum vai reagir a sequência dos fatos. No horário eleitoral alguns poderão arriscar que a corrupção corre o risco de ficar sem punição, depois do ex-Presidente Lula ter reconhecido, no auge dos acontecimentos, que o seu partido tinha errado. Os petistas vão argumentar que a sociedade já inocentou os efeitos de tudo isso ao reeleger Lula, em 2006. Os oposicionistas vão dizer que a Justiça dos homens ainda precisa ser feita, não só a político-eleitoral, que depende de outros fatores.
Argumenta-se, faz duas semanas, que o ex-ministro José Dirceu vai escapar do pior. Uns argumentam que ele escapa chamuscado e outros que escapa bem, mas escapa. José Dirceu teria mandado dizer que não voltará a buscar mandatos eletivos e que não quer retomar o comando do partido.
Nesta semana, a ministra Rosa Weber, indicada pela Presidenta Dilma Rousseff vai votar no caso, dentro da lógica de voto fatiado, inaugurado por Joaquim Barbosa. Ela é a ministra indicada por Dilma, não é conhecedora profunda do Direito Penal. Ela vem de muitos anos de militância no Direito do Trabalho. Isso não é pecado, o ministro Marco Aurélio veio do Direito do Trabalho e chegou a inaugurar uma escola na Suprema Corte.
Há quem diga que para a Presidenta Dilma, que vem tendo dificuldades com o PT, ter que lidar com José Dirceu, ativo e voltando a mandar no PT, não seria ajuizado, seria uma loucura.
Seria uma ousadia imaginar que Dilma mandaria seus indicados no Supremo atropelarem Dirceu. Uma leviandade jornalística, apesar da sociedade nos pagar para darmos alertas - alguns, até, exagerados.
Tudo isso e um pouco mais poderá chegar no horário eleitoral, mesmo de forma menor ou travestida!? Acho difícil, mas não custa nada ficar alerta.
Eis o mistério da fé.
Por Genésio Araújo Jr é jornalista
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