31 de julho de 2025

O Mensalão e os poderosos nordestinos

A coluna de Genésio Araújo Jr é publicada todos os domingos neste espaço

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 ( Brasília-DF) Começou o julgamento do caso que ficou conhecido como “ Mensalão”.

 

Nos primeiros dias ficou claro que será um julgamento longo, onde teremos, certamente, muitas emoções, avanços e recuos.
 
Semana passada, destaquei nesse comentário semanal que o Supremo teria dificuldades para fazer um julgamento técnico e que os nordestinos não teriam papel destacado nessa coisa toda.
 
Nada como os fatos para fazer aparentes convicções caírem por terra. Os fatos são senhores das verdades jornalísticas e quando eles acontecem podemos aceitar a revisão de entendimentos de bom grado.
 
A ausência de pessoas nas ruas, a inexistência de vigílias, a desconecção entre o que colocam setores importantes da imprensa e a sociedade, e isto ficou claro nas redes sociais, é uma prova que os senhores e senhoras julgadores poderão fazer um juízo técnico, sim senhor. Ficou claro que este poderá ser o julgamento mais longo do Supremo, mas não é o maior julgamento deste país.
 
Os nordestinos seriam periféricos, pois a corrupção neste país é feita, em grande conta, pelos ricos e a riqueza econômica e financeira não está no Nordeste, infelizmente. Se o Mensalão era um escândalo financiado pelos ricos os nordestinos não poderiam ser protagonistas. Neste início de julgamento vimos que os nordestinos importantes neste caso, o julgador Ayres Brito e o acusado Roberto Gurgel serão, sim, protagonistas.
 
Gurgel pediu a condenação de 36 e prisão imediata. Gurgel disse em suas razões que o crime de José Dirceu foi cometido entre quatro paredes. Ayres Brito terá que entrar em campo várias vezes para conter os desentendimentos entre os ministros que serão provocados pelas ações dos senhores advogados, extremamente preparados e que ganham muitas vezes mais que os senhores julgadores.  Como não há protagonismo exponencial nisso tudo!?
 
Dos sete crimes que a maioria dos 36 são acusados, Zé Dirceu não é acusado do único que as quatro paredes não o isenta, a lavagem de dinheiro. Roberto Gurgel sabe que corre esse risco, ele sabe que sem comoção nacional não vai conseguir condenar Dirceu. Ayres Brito terá que exercer seus dotes para domar uma cena que nem eles sabem no que vai dar.  A maioria dos julgadores não tem grande experiência em julgamentos criminais, muito menos que a maioria dos advogados - notórios especialistas.
 
Os julgadores no Supremo devem ser especialistas em julgamentos constitucionais – eles sabem lidar com a sofisticação dos recursos judiciais, mas julgamentos criminais!?
 
Tive que rever entendimentos, mas uma coisa não muda nos rol de algumas convicções deste analista.
 
Este julgamento é uma busca, uma luta, entre novos e velhos poderosos que buscam caminhos num novo jogo onde temos uma elite em confusão, face a uma notória crise econômica internacional, e uma Presidenta da República que as pessoas ainda não conhecem, pois ela não tem percurso político-eleitoral suficiente para nos gerar mínimas certezas.
 
Eis o mistério da fé.
 
Por Genésio Araújo Jr, é jornalista