Dilma: Economia versus Política
A coluna de Genésio Araújo Jr é publicada todos os domingos neste espaço
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( Brasília-DF) Todo mundo que gosta de acompanhar o jogo político da Capital Federal se encanta(ou abomina!) as operações às claras, ou na penumbra, dos áulicos e dos príncipes. Observar a esgrima dos poderosos até parece uma novela ou, nos idos da cultura da celebridade, uma verdadeira gossip. Pois bem, tenho que desagradar os politiqueiros. O assunto é outro.
Faz tempo que a política tradicional, com suas formulações e leis típicas da ciência social mais antiga e complicada do Planeta - vem sendo atropelada pela ciência econômica.
Já escrevi por aqui, alertando sobre os movimentos da Presidenta Dilma sobre as coisas do Nordeste, que a Chefe de Governo por não controlar a cena política e seus agentes como outros governantes com mais experiência política - estava começando a se servir da burocracia e da centralização brasileira, das falhas de nossa federação capenga - ela que é profunda conhecedora da administração federal -, para reduzir, ao máximo, a necessidade de interlocução com a classe política. Dilma, economista que é, a primeira a chefiar o Brasil desde a redemocratização – acredita que fazendo uma boa condução econômica deixará os políticos no chão e estará bem com a população.
No início da semana passa, ao tomar conhecimento das previsões que o mercado fazia para o PIB anual, em torno de 2%, em pleno ano eleitoral, ela se assustou. Ela fez uma mini reforma ministerial para discutir a relação. Viu o que todo mundo já sabia, e não precisa ter alguma formação econômica para entender.
O Estado brasileiro, dependendo da região do Brasil representa, no mínimo, a metade da atividade econômica. Em São Paulo, dependendo do conjunto, um pouco abaixo dos 45%. No Norte e no Nordeste, onde o buraco é mais embaixo, a média é superior a 60% da atividade econômica. O governo federal ao parar de gastar nas transações correntes, enxugamento do orçamento de não investimento, e a desconfiança que ela gerou na burocracia e na classe política, acima da média brasileira recente, fez com que se tivesse medo de assinar até um memorando sem saber o que a Presidenta achava. Claro, os Ministérios com bala na agulha levaram suas munições para o paiol - contrataram gente para olhar para ver se se a coisa não mofava no lugar de temer que ela explodisse! Detalhe: estamos em ano eleitoral e para fazer a coisa andar(investimento) tem que estar tudo empenhado até o dia 30 de junho.
Os movimentos para incrementar a atividade econômica estão empancados não só pelos bancos, mas face a uma disputa que existe dentro do Ministério da Fazenda entre as tendências cíclicas e anti-ciclícas – quem deseja gastar e quem deseja guardar.
Os bancos privados estão confortáveis em sua paralisia, pois os bancos públicos, destacados para colocar mais dinheiro na praça, não conseguem vencer a Fazenda que escala as taxas, realmente reduzidas, com o seu quinhão de impostos, especialmente a IOF. A nova classe média, única que pode fazer a coisa girar em ano eleitoral e de crise mundial, só será destravada se a Presidenta rever seus conceitos, tanto nas transações correntes como na retomada da interlocução.
Nem sempre questões econômicas são difíceis e sem graça. Nem sempre questões políticas são fáceis e encantadoras.
Eis o mistério da fé.
Por Genésio Araújo Junior, jornalista
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