O que é estratégico para Dilma
A coluna de Genésio Araújo Jr é publicada todos os domingos neste espaço
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( Brasília-DF) Tivemos uma semana e tanto aqui em Brasília. Com direito a presença da Presidente Dilma na cidade.
Tivemos os primeiros movimentos da “CPI do Cachoeira”. Ficou evidente que a investigação não está controlada por completo por dois grupos de parlamentares que desejam, claramente, exporem o que é possível e esconder o que ainda é desejável.
Para nós do Nordeste tivemos alguns esclarecimentos, muita clareza. Isto isso serve para o Norte, especialmente, e menos para o Centro-Oeste, que tem um papel estratégico com suas commodities agrícolas, fundamentais para o país. Isto foi impactante, pois o Nordeste e o Norte são regiões fundadoras e bem mais “culturais” para o país que o recém “ descoberto” centro do Brasil.
Nesta semana, para o bem do Brasil, tivemos dois dias dedicados a audiências públicas realizadas pelas Comissões do Congresso Nacional que estão discutindo as Medidas Provisórias do Brasil Maior, a “Política Industrial” do Governo Dilma. Todo mundo que é mundo sabe que um país que pretende ganhar papel estratégico na nova conjuntura mundial precisa dominar o conhecimento, e com isso manter viva uma indústria que fixa capital e ajude a transformar sem tantos débitos tecnológicos.
Essas reuniões só foram possíveis, pois o Supremo Tribunal Federal decidiu que o Congresso tem que constituir comissões para discutir as Medidas Provisórias sob o risco de cometerem inconstitucionalidades. Bem, vamos ao que interessa.
Durante esses encontros vimos ficar claro que o Governo Federal deseja tirar da classe política nordestina o direito, que bem ou mal existe desde a primeira redemocratização, ainda nos anos cinquenta, e que nem a ditadura de 64 conseguiu alijar - de controlar sua vertente, minimamente aceitável, dos grandes projetos a que tem direito numa política industrial. O Plano Brasil Maior deseja tirar dos nordestinos esse poder.
Em tese, não está de todo equivocado que a política industrial de um país seja comandada por sua Federação. No Brasil, temos uma Federação capenga e a União que controla os grandes agentes econômicos, e de desenvolvimento, tem o direito de dar os caminhos. Dilma quer que os grandes projetos fiquem restritos a ação do BNDES e que os bancos de desenvolvimento regional, como o BNB e Basa, sejam periféricos nessa ação estratégica. Apuramos que ela vê como estratégico a questão da segurança hídrica. A Presidenta acredita que mudará a região com a mudança neste perfil e não mantendo com os nordestinos o direito de dizer o que é estratégico.
Na prática, a Presidenta pretende fazer algo impactante e dá sinais disso com pouca sutileza. Dilma dá sinais de que não quer que a classe política nordestina comande as suas questões estratégicas ela dá fortes indicativos de que acha essa turma incompetente - não quer lhes dar o tamanho poder que desejam.
Não se sabe se esse movimento se deva, também, a sua decisão não pronunciada de que ela não quer os nordestinos comandando a Câmara e o Senado nos dois últimos anos deste seu primeiro mandato.
A esse caminho de desprestígio estratégico poderá ser interrompido se dois nordestinos ficarem à frente do Congresso no ano que vem. Bem, se isso de fato é estratégico para nós da região, pois é sabido, também, que por muitos anos tivemos líderes nordestinos mandando e desmandando e nada acrescentando, a não ser para seus próprios interesses.
Eis o mistério da fé.
Por Genésio Araújo Jr, é jornalista
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