Algo continua muito errado no Nordeste
A coluna de Genésio Araújo Jr é publicada todos os domingos neste espaço
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( Brasília-DF) Terminamos a semana em que ficou definido que a CPI do Cachoeira veio ao mundo com a definição do seu relator - o quase sempre inexpressivo deputado Odair Cunha(PT-MG) -, mas para nós do Nordeste, o que ficou mesmo foi a certeza de que o Nordeste avança, cresce acima da média nacional mas continua com velhos problemas.
Não é nada animador vermos os jornais, sites, blogs, rádios e tevês alertarem em suas manchetes sobre seca, medidas sobre seca e suas muitas variáveis. Nesta semana, cheguei ao plenário do Senado, num daqueles dias em que os senadores aproveitam para discursar sem fim para a Tevê Senado – e perguntei para os assessores de um senador nordestino importante que falava aos borbotões, todos eles não nascidos no Nordeste, sobre o que ele discursava. Um deles, todo irônico e com algum sarcasmo devolveu:
- Seca, sabe?! Aquele problema imprevisível, sabe?! Um sabia que este costuma cuidar de temas nordestinos, mas a outra não.
Ri com eles, a ironia verdadeira mesmo doída merece a solidariedade de um crítico isento que não gosta do tema.
Os nordestinos se reuniram várias vezes nessa semana para falar de seca. Primeiro foi com a Presidenta Dilma Rousseff, lá no Sergipe, depois foi na reunião da Bancada do Nordeste na Câmara, com a posse do deputado José Guimarães(PT-CE), e, finalmente, na reunião do Conselho Deliberativo da Sudene, lá em Recife. Não é bom esquecer que na terça-feira,24, a Política Real questionou vários governadores nordestinos que estiveram no lançamento do PAC Mobilidade Grandes Cidades, no Palácio do Planalto, sobre as medidas anunciadas. No geral, todos os consultados gostaram, acharam que foram satisfatórias.
A Presidenta Dilma, proporcionalmente, liberou mais recursos para a seca e enchentes no Sudeste-Sul do que está liberando para o Nordeste. Diz-se que a seca deste ano é do mesmo estilo da estiagem de 1930-32, no século passado. Tudo isso se dá sob o pano de uma discussão sobre o controle do BNB dos recursos do FNDE, que vem a ser um Fundo de Desenvolvimento do Nordeste, que vinha sido usado há mais de uma década no superávit primário e não era usado pelo Nordeste e seus interesses. Este Fundo passou a ter nova financeirização, o que importa que ele poderá ser usado pela economia real. Bem, diz-se que o BNB poderá perder o controle do FNDE, pois o Ministério da Integração, controlado pelo PSB, que assim deseja - teria condições de usar os recursos se eles fossem operados por outros bancos públicos. O PSB quer os recursos para seus objetivos e não deixar tudo isso na mão do PT, que controla o BNB.
O que fica claro é que a Presidenta Dilma, com todo o seu prestígio junto com a opinião pública, se deixa levar pelo receio de encarar de frente o poder nordestino do PSB - vê o Nordeste como espaço para aumentar renda com o aumento do bolo e não como espaço para grandes negócios. O apelo à questão da seca é uma prova de que somos periféricos.
Muita coisa ainda precisa mudar no Nordeste.
Eis o mistério da fé.
Por Genésio Araújo Junior, jornalista
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