31 de julho de 2025

A Geração de 68 no poder

A coluna de Genésio Junior é publicada todos os domingos

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( Brasília-DF) A chegada da senhora Dilma Rousseff à Presidência da República é um marco nacional e mundial. Se de fato existirem extraterrestres, eles devem ter visto o que se deu no Brasil, ontem, com atenção redobrada. 

Desde a criação das grandes democracias uma mulher não chegava ao poder, pelo voto, em um país ocidental.
 
Para nós nordestinos não poderia deixar de sê-lo. No dia em que chegou ao poder uma mulher, ela fez questão de destacar, em sua fala ao poder constituído, no Parlamento - a questão do desenvolvimento regional. Ela tratou da questão tanto como referência antropológica, etnográfica, como no cerne de uma política ampla de desenvolvimento econômico. Foram três vezes.
 
A fala, institucionalmente, pode-se dizer perfeita. A chegada ao poder da chamada Geração 68, a chamada geração X, fez questão de lembrar os exercícios do passado, a busca pelo melhor que a sociedade pode oferecer. Dilma lembrou dos que tombaram na luta pela democracia. É verdade que muitos daquela geração não acreditavam na democracia representativa que vivia a disputa leste-oeste da guerra fria. 
 
Tanto ela como o seu principal opositor nas eleições de outubro/novembro vinham da Geração de 68. A transformação é a cara dessa geração. Lula veio do sindicalismo e da base da sociedade brasileira. Essa formação pessoal gerava um bom negociador e uma pessoa preocupada com a ascensão social – Lula deixou claro em suas recentes entrevistas, que o preconceito o magoava mais que tudo. Não era só uma estratégia política para aquelas horas em que ele preferia mistificar para escapar das bordoadas da dura luta política. Era sua raiz. A geração de 68 tinha uma preocupação transformadora latente, vinha da classe média.
 
No Nordeste, tivemos uma geração de 68 empolgada, migradora e particularíssima. Como a atividade econômica era tênue, com exceção do que existia na região da Zona da Mata, a maioria dos nossos moços e moças acabou saindo da região. O cerne daquele período se dava nos movimentos estudantis. Ir para a Universidade era coisa de bacana, poucos humildes estavam lá. A pequena classe média nordestina tinha dos seus lá, mas nada demais. Tivemos uma moçada que não chegou a mexer com o grande público. O pessoal da cultura, com os baianos e o piauiense Torquato Neto, talvez, chamou mais atenção.
 
Dilma no poder representa este povo. Ela fez questão de salientar os governos passados e sua importância para o Brasil atual. A geração de 68 não acreditava em quem tinha mais de 30 anos. Ela falou em continuidade e mudança. A geração X não acreditava em continuidade, só em mudança, muitas, até! 
 
No momento, talvez, o povo do Nordeste queira o imediato, conter os preços que vem subindo mais no último período, exatamente na região que mais ganhou com o aumento do salário mínimo e com os programas sociais.
 
Para ser frugal, problema para mais de metro!
 
Eis o mistério da fé.
 
Por Genésio Araújo Junior, jornalista
 
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