Réfens dos réfens
A coluna de Rangel Cavalcante é publicada todos os domingos aqui e nos "Florida Review" e
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(Brasília-DF) O presidente Lula detesta Sarney que detesta Collor que detesta Lula e Sarney e assim por diante, todo mundo se detestando, mas fingindo amizades de infância, esquecendo os adjetivos impublicáveis com que cada um brindava o outro em tempos não distantes. O problema é que esse pessoal tem que se fazer de amigos, colocando os ódios no freezer para futuro descongelamento. Cada um precisa do outro para sobreviver politicamente. Lula tem que salvar Sarney do naufrágio porque precisa dele para manter o PMDB na folha de pagamento e alimentar o sonho de eleger sua candidata à presidência da República. Uma ingenuidade, pois se ele deixar Sarney afundar o partido de Michel Temer logo se recupera do trauma e continua governista até os ossos, pois não sobrevive sem empregos, cargos, verbas e todas as delícias que só o governo pode oferecer. Collor e Renan também se detestam e andam abraçados pelos mesmos motivos. Precisam do governo para satisfazer suas ambições pessoais. Não devem gratidão a Lula e vice-versa. Cada um está pagando para manter o inimigo do seu lado. É uma política preta, que, como a jabuticaba, só existe no Brasil. Nesse emaranhado de despudor, cada um é refém do outro. Lula faz o que o PMDB manda porque acredita que sem ele não poderá governar e pode até ser derrubado com o foi Collor. E o PMDB faz o que Lula manda porque se romper com ele mata a galinha dos ovos de ouro e morre de inanição. E muita gente pode até ir parar na cadeia. O pessoal da chamada base aliada – ou alinhada – vive como aquelas arvores imensas da Amazônia, com dezenas de metros de altura, que precisam estar escoradas uma das noutras para não serem derrubadas pelo vento. Nesse quadro todos são ao mesmo tempo vitima e algoz. Todo mundo é refém do refém, numa cadeia interminável que destruiu os bons costumes políticos e hoje cobre o país de vergonha e transforma o poder legislativo num valhacouto que envergonha o Brasil e os brasileiros. O lamentável é que nesse mar de lama afundam biografias de homens que até pouco mereciam o respeito e a admiração dos cidadãos mas que não hesitaram em mudar de lado na história,saindo da galeria dos heróis para a dos vilões. E o pior é que o povo perdeu a capacidade de se indignar, como vão mostrar, de novo, as urnas no ano que vem.
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Local certo
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O ministério do Desenvolvimento Agrário não poderia escolher melhor local para realizar a sua VI Feira Nacional de Segurança Familiar e Reforma Agrária, em outubro, no Rio de Janeiro. O evento, que vai custar uma nota preta ao contribuinte, será na sofisticada Marina da Glória, tendo como cenário a baía de Guanabara e os iates dos milionários cariocas.
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Dois pesos
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Estudantes não filiados à UNE chapa-branca são presos e expulsos do Senado Federal por protestarem contra o mar de lama que toma conta da casa. Na véspera, integrantes do MST que invadiram ministérios e provocaram baderna nas ruas de Brasília, devidamente subsidiados com dinheiro publico, são recebidos no Palácio do Planalto para apresentar suas “exigências” ao governo.
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por Rangel Cavalcante
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