Uma mulher de sorte
A coluna de Rangel Cavalcante é publicada todos os domingos aqui e nos "Florida Review" e
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(Brasília-DF) O país recebeu com alegria a noticia divulgada pelo governo: a ministra Dilma Roussef está curada do câncer linfático. Nem precisou submeter-se a todas as sessões de quimioterapia previstas no inicio do tratamento. Mais uma vez a medicina brasileira dá provas de que é uma das mais avançadas no mundo. Ela nem precisou ir para os Estados Unidos. Felizmente, como o senador José Sarney, a mãe do PAC não é uma pessoa comum. Teve o merecido tratamento diferenciado dado aos que desfrutam das regalias do poder. De inicio, atendimento no melhor e mais caro hospital do país, assistida por uma das mais qualificadas equipes médicas do mundo. Teve jatinho da FAB para levá-la a São Paulo, tantas vezes quantas foram necessárias, mesmo quanto tinha apenas uma dor na perna. Dona Dilma não teve que se submeter ao mesmo atendimento dado aos cidadãos comuns neste país. Não enfrentou fila na porta do hospital, não esperou meses por uma consulta a ou por um exame, como centenas de mulheres que esperam há dois anos por uma radiografia num hospital público de Brasília onde 55 tomógrafos e aparelhos de raios-x enferrujam encaixotados nos depósitos, sem uso. Não viveu o drama daquela mulher, exibido pela TV, que fez uma cirurgia de câncer de mama e há um ano não consegue acesso às sessões de radioterapia, sem as quais faltamente vai morrer. Mas, além de não ser uma pessoa comum, como diria o nosso Cara, dona Dilma é uma mulher de sorte. A loteria da vida fez com que ela não tivesse um câncer quando era apenas um dalit, uma simples companheira, nos tempos em que militava nas organizações de resistência à ditadura militar. Não teria sobrevivido. Era, então uma pessoa comum. Ela, que lutou e arriscou a vida para acabar com as desigualdades entre os brasileiros, terminou se tornando numa desigual. Mas isso é típico do poder, como na “A Revolução dos Bichos”, onde todos os animais eram iguais, mas tinha animais que eram mais iguais do que os outros. Vamos torcer para que a cura da nossa candidata presidencial, a dama de ferro do governo, sirva para fazê-la lembrar do imenso contingente de brasileiros que não têm acesso à saúde, publica, muitos morrendo à porta dos hospitais, sem atendimento. Quem sabe, os companheiros poderiam criar uma Bolsa-Saúde, uma Bolsa-Remédio ou coisa parecida? Haveria menos gente comum no Brasil.
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Saúde
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A saúde no Brasil continua melhorando Pelo menos para as finanças dos 95 companheiros que acabam de ser contratados, sem concurso, pelo ministério da Saúde para a prestação dos famosos “serviços técnicos especializados”, que ninguém sabe mesmo o que são. Cada um vai meter no bolso uns R$ 8 mil por mês.
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Pendurou
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Para dedicar-se inteiramente à sua nossa missão, em Portugal, como missionário da igreja Mórmon, o ex-deputado Moroni Bing Torgan pendurou as chuteiras, encerrando a carreira policial. Acaba de ser aposentado como Delegado de Polícia Federal, na Classe Especial, com vencimentos integrais. Deixa também o cargo de confiança na Câmara, que lhe rendia uma boa prebenda.
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Faltam 50
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Pelo menos 250 deputados federais preparam um projeto de emenda constitucional castrando do Tribunal de Contas da União a atribuição de julgar e aplicar punições aos larápios dos dinheiros públicos. Faltam apenas 50 para completar o quorum de picaretas na Casa, que, segundo o presidente Lula, são 300. A senadora que tinha uma funcionária apelidada de Santo Antonio, porque tem o dom da ubiqüidade, morando nos Estados Unidos e trabalhando no Mato Grosso, quer ir mais longe, propondo a extinção de todos os Tribunais de Contas no país.
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Desistiu
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O Banco do Nordeste desistiu de contratar uma empresa de segurança privada para transportar malotes de sua agência em Salvador para uma do Banco do Brasil, que distam apenas 20 metros uma da outra. Motivo: ninguém se apresentou na licitação para a arriscada tarefa.
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Mão aberta
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O governo ainda não deu um tostão para as famílias flageladas pelas enchentes no Nordeste reconstruírem as suas casas destruídas pelas águas. Mas o nosso presidente acaba de liberar R$ 25 milhões para ajudar na reconstrução de habitações na faixa de Gaza, lá no Oriente Médio, onde felizmente não há enchentes.
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Condenado
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José do Carmo da Silva Marinho, ex-prefeito de Caucaia, foi condenado pelo TCU a devolver CR$ 14 milhões que recebeu da FUNASA para a construção de kits sanitários no município e que foram desviados. A conta é ainda de 1964 e será atualizada em reais e acrescida de juros e correção monetária desde março de 1964. E tem mais u’a multa de R$ 5 mil.
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Deboche
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Justamente no dia em que o governo de Brasília anuncia o fechamento das emergências nos postos de saúde do durante a noite, alegando que custa R$ 1 milhão por mês mantê-los abertos, os 24 deputados da inútil e cara Câmara Legislativa do DF aumentaram para R$ 97 mil mensais – mais de R$ 2,3 milhões - a verba de que cada um dispõe para torrar com despesas de gabinete.
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Gastança
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Para quê a Câmara dos Deputados mantém, gastando uma fortuna em manutenção, 432 apartamentos de quatro quartos em Brasília para os deputados morarem de graça se 400 deles se recusam a habitá-los, preferindo meter todos os meses R$ 3 mil no bolso, a título de ”auxílio moradia”.
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Farra
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Os dados são oficiais, do IBGE, segundo revela o deputado Luciano Pizzato em seu livro sobre política ambiental no Brasil. Existem no país cerca de 300 mil ONGs, organizações não-governamentais que vivem à custa das verbas do governo, a maior parte formada por apenas duas ou três pessoas, geralmente da mesma família. E pagam a 1,6 milhão de empregados, com salário médio de R$ 1.500,0o0. Só com pessoal torram quase meio bilhão de reais por mês. Em 2002 havia em média 55 ONGs por município no país.
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por Rangel Cavalcante
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