31 de julho de 2025

Nordeste e a Crise Política.

Membros da Frente Parlamentar Brasil-Cuba reagem a matéria da revista Veja; Deputado Jackson Barreto(PTB-SE) e Luiz Alberto(PT-BA) rebatem acusações.

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(Brasília-DF, 31/10/2005)  O deputado Jackson Barreto(PTB-SE), membro da Frente Parlamentar Brasil-Cuba fez pronunciamento nesta tarde em que rebateu as acusações feitas pela revista “Veja” sobre o caso de financiamento externo à campanha do  presidente Lula, em 2002, com recursos do Governo de Cuba.

 

 

O deputado sergipano foi aparteado cinco vezes. Destaque para o aparte do deputado Luiz Alberto (PT-BA) que também critica a matéria da revista.

 

 

Veja a íntegra da fala de Barreto e o aparte do deputado baiano.

 

 

 

 

“ Sr. Presidente, Sras. Deputadas, Srs. Deputados, o nosso pronunciamento na tarde de hoje discute a questão da liberdade de imprensa no meu Estado e o comportamento do Governador de Sergipe de buscar por meio de expedientes quebrar a imunidade parlamentar de um Deputado Estadual, ferindo de morte o instituto da imunidade consagrado na nossa Constituição.

 

 

Mas antes de entrar no assunto que me trouxe à tribuna na tarde de hoje, eu quero também deixar aqui o meu registro e a minha estranheza a essa matéria publicada pela imprensa nacional com relação a essa questão de recursos para a campanha do PT. Não sou do PT, não sou porta-voz do PT, não sou membro do PT, mas acho um absurdo o tipo da matéria que é feita levando em consideração o testemunho de alguém que já morreu. Sr. Presidente, são muitos graves essas declarações.

 

 

Ano passado esta Casa foi tomada por diversas denúncias aqui alegando-se que as FARC, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, tinham financiado a campanha do Presidente Lula. O meu partido participou da campanha do Presidente Lula. Em meu Estado, o Estado de Sergipe, nós votamos no Presidente Lula. Por diversas vezes e por diversas maneiras tentou-se colocar na imprensa brasileira que aquela campanha recebeu recursos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e, mais ainda, admitindo até a participação do narcotráfico da Colômbia na campanha do Presidente Lula. Eu acho tudo isso uma odiosidade que não tem forma de explicação.

 

 

Agora, é dinheiro que veio de Cuba.

 

 

Não posso entender como um país pobre, vivendo a experiência de um bloqueio fascista do governo americano, por meio de sucessivos presidentes, passando as dificuldades que Cuba está passando, preocupa-se em mandar recursos para a campanha do Presidente Lula em nosso País.

 

 

 

 

 

 

Lembro que esta Casa precisa rememorar 2002. No Congresso Nacional, particularmente na Câmara dos Deputados, há diversas Frentes Parlamentares, com diversos países amigos, países irmãos.Participo da Frente Parlamentar Brasil-Cuba. É bom que esta Casa se lembre que em 2002, época da campanha eleitoral, se não me falha a memória, era Presidente da Frente Parlamentar Brasil-Cuba o nobre, competente, honrado e democrata Deputado Aloysio Nunes, do PSDB de São Paulo. Homem sereno, correto, cuja história deve ser respeitada neste País.Como pode um país ter relações diplomáticas com outro país e com ele uma frente parlamentar de amizade, o Presidente da Frente Parlamentar ser do PSDB e esse País mandar recursos para a campanha do PT? Parece conto da carochinha. Acima de tudo, porém, o mais grave nessa denúncia é colocar o testemunho do Sr. Barquete, falecido em 2004, a quem prestamos homenagem.Por outro lado, quem faz a afirmação? É justamente o Buratti, que quer se prevalecer daquilo que o Direito chama de delação premiada.Por um lado, quem denuncia quer receber o benefício da delação premiada, por outro lado, a testemunha do fato já faleceu.Sr. Presidente, a mim me parece querer colocar neste momento na crise brasileira a participação da CIA e do governo americano. Parece-me muito estranho que às vésperas da visita do Presidente Bush ao País a imprensa nacional saia com essa matéria para confundir a opinião pública.Deixo registrada minha estranheza e, acima de tudo, minha decepção por entender que o papel da imprensa não é fazer esse tipo de acusação, afirmação, baseado no depoimento de alguém que hoje não tem mais condições de estar nesta Casa, em qualquer CPI, para fazer alguma afirmação, porque está morto.Feitas essas referências, gostaria também de fazer a leitura do trecho de um documento lido pelo Embaixador de Cuba em nosso País, Sr. Pedro Nuñez Mosquera:

 

 

Para eles, os que orquestram essa campanha de mentiras contra Cuba e o Governo brasileiro, buscam afetar as relações bilaterais entre os dois países caracterizadas pelo diálogo fraternal, o respeito mútuo e a não interferência em assuntos internos de nossas nações. Acredito piamente nesse depoimento. Registro nosso desconforto e estranheza por essa matéria que tenta mais uma vez confundir a opinião pública nacional e o desrespeito à figura do Presidente da República.Ouço, com prazer, o Deputado Luiz Couto

 

O SR. JACKSON BARRETO - Agradeço a V.Exa. o aparte e o insiro no meu pronunciamento. Lembro a V.Exa., nobre Deputado, que cheguei a esta Casa em 1979, fui reeleito em 1982, depois retornei ao meu Estado. Lembro-me muito bem, no segundo mandato, do que foi a luta dos democratas nesta Casa para reatar as relações diplomáticas entre Brasil e Cuba, já que a ditadura militar fascista tinha excluído Cuba de nossas relações. Fiz parte do comitê pró-reatamento das relações diplomáticas entre Brasil e Cuba, por entender que não poderíamos dar as costas a uma nação irmã, como Cuba, inserida em nosso continente, e deixar de ter com esse país relações bilaterais normais — comerciais, econômicas, de saúde e de educação. Essa matéria deixa-me realmente constrangido, porque sabemos perfeitamente a quem interessa aprofundar a crise brasileira e, acima de tudo, satisfazer os interesses do capital norte-americano.

 

 

O Sr. Luiz Alberto - Deputado Jackson Barreto, quero congratular V.Exa. pelo pronunciamento. Também sou membro da Frente Parlamentar Brasil-Cuba. Considero que a matéria que a revista Veja traz nesta semana é uma tentativa, por parte dos setores que querem desestabilizar o Governo Lula, de esticar a corda da crise, pois já dava sinais de esgotamento o debate que se iniciou com as diversas denúncias, algumas procedentes outras totalmente improcedentes. Sabemos das dificuldades por que passa aquele país, a ilha de Cuba. E mesmo com todas as suas as dificuldades, o Brasil e outros países sabem da contribuição que Cuba tem dado na área de saúde, inclusive ao nosso País.Nobre Deputado, com essa denúncia, a revista Veja, tentando esticar a crise, sabe, em primeiro lugar, que não pode convocar um morto para testemunhar; em segundo lugar, que as diversas CPIs não têm poderes para convocar o Partido Comunista de Cuba para vir aqui testemunhar, tampouco para chamar o Presidente Fidel Castro a depor. Trata-se, portanto, de uma tentativa de esticar a crise, e nós sabemos qual é o objetivo desse processo de desestabilização que, há muito, a elite tenta desenvolver contra o Governo Lula. Parabenizo V.Exa. pelo pronunciamento, acreditando que a atitude de V.Exa. é a da maioria dos democratas desta Casa e do País.

 

 

Muito obrigado.”

 

 

( da redação com informações da taquigrafia da Câmara Federal)