31 de julho de 2025

ESPECIAL DE FIM DE SEMANA.

Cientistas políticos avaliam decisão de Lula em apostar no PMDB como aliado preferencial neste momento de crise política ; Parlamentares peemedebistas comentam movimento do presidente Lula.

Publicado em

(Brasília – DF, 27/06/2005) Em meio à crise por que passa o Governo Federal com as denúncias de corrupção nos Correios e do “mensalão”, uma das ações mais esperadas da próxima semana é reforma ministerial. O presidente chegou a cancelar a viagem que faria à Colômbia e à Venezuela entre domingo e terça-feira para se dedicar às articulações políticas. 

 

 

A Política Real ouviu dois cientistas políticos a respeito do tema, Leonardo Silva Andrada, professor pesquisador do Núcleo de Estudos do Empresariado, Instituições e Capitalismo (NEIC), do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e Leonardo Barreto, professor titular do Centro Universitário do Distrito Federal. Para os cientistas, a reforma ministerial representa consolidação da base política do Governo e também fortalecimento das articulações para as próximas eleições. Os peemedebistas ouvidos ligaram a reforma ministerial às denúncias de corrupção no Governo.

 

 

Renata Peña – Como será a reforma política promovida pelo presidente Lula no momento de crise por que passa o governo?

 

 

Leonardo Barreto – Essa é uma incógnita. No Brasil, a reforma ministerial é uma distribuição de cargos promovida essencialmente para consolidar a base política do Governo na Câmara e no Senado. Lula deverá otimizar essa relação construindo um maior apoio no Congresso.

 

 

Renata Peña – Como então Lula poderia otimizar essa relação?

 

 

Leonardo Barreto – Apostando no PMDB para compor sua base política. O PMDB é o único partido que tem condições de ser o grande aliado do Governo. Não há outro: o PFL é oposição, o PSDB tem interesse nas próximas eleições e outros não são representativos. Não podemos prever, mas pode ser que nas próximas eleições PT e PMDB estejam juntos. O PMDB indicando na chapa o vice-presidente. A reforma ministerial seria um meio de articulação para esse propósito. Por outro lado, o presidente deve ter em conta que o PMDB é um partido fragmentado, há peemedebistas de esquerda e de direita, portando o Governo só conseguirá controlar os parlamentares ligados à facção do ministro indicado.

 

 

Renata Peña –  O senhor apostaria em alguém?

 

 

Leonardo Barreto – Eu não apostaria em desconhecidos. Acho que o presidente deve indicar nomes de peso. A indicação de Dilma Rousseff para a Casa Civil mostra a vontade do presidente de trazer para o Governo os militantes históricos do PT, com a intenção de resgatar a credibilidade e ética perdidas. Com a saída de José Dirceu, o Governo ficou acéfalo. Quem tomará esse lugar?  

 

 

Renata Peña – Como o senhor vê a reforma ministerial que o presidente Lula deverá promover?

 

 

Leonardo Andrada – Há pouco tempo, o governo navegava em águas tranqüilas. Com as denúncias de corrupção nos Correios e no Legislativo, a calmaria acabou. A turbulência política pôs a nu a fragilidade da coalizão governista, chamando a atenção da cúpula de articulação política para a necessidade de reestabelecer os laços entre os partidos aliados, em bases mais sólidas. Para os projetos de reeleição, é fundamental. A base já foi alargada até o limite, e acredito que a idéia do governo é fortalecer os laços com os setores que possam dar coesão, especialmente para reverter as perdas que vem sofrendo no Congresso. A reforma ministerial é retomada agora dentro dessa perspectiva de redefinição da base. Mas não acredito que ela seja definida de imediato, por dois motivos. Primeiramente, por que o próprio PT deverá ser o grande perdedor com essa reforma; o número de ministérios que possui, é muito superior a sua representação parlamentar, o que é um dos pontos de instabilidade. O outro fator que deve arrastar a reforma no tempo, é o turbilhão político causado pelas denúncias recentes. Excetuado o caso da Casa Civil (cuja mudança imediata está mais ligada ao envolvimento pessoal do Ministro José Dirceu com as denúnicas), os demais ministérios devem passar por mudanças quando a poeira baixar, e a atenção da mídia não esteja completamente voltada para o assunto.

 

 

Renata Peña – Como Lula promoverá a reforma ministerial? Qual é a estratégia do presidente?

 

 

Leonardo Andrada – Acho que fará uma reforma que atenda minimamente à

demanda dos partidos aliados de aumentar sua representação no primeiro escalão do governo. Esses partidos se sentem "sub-representados", e para atender a essa demanda, será preciso reduzir o número de Ministérios sob comando do PT. Com essa transformação na composição, poderá buscar maior homogeneidade dentro da coalizão e evitar abalos até o final do mandato, e posteriormente entrar na campanha eleitoral mais coesa e fortalecida. Em termos de manutenção da governabilidade e garantia de um ambiente mais estável para a atuação do governo, acho que é isso mesmo que deve fazer - aliás, é o que deveria ter feito há algum tempo, e talvez fosse evitada essa pedra no sapato que é a falta de coordenação em sua própria base, e seus efeitos negativos, como a eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara.

 

 

Renata Peña – Quem são os mais cotados?

 

 

Leonardo Andrada – Acredito que um dos partidos que será beneficiado é o

PMDB. A reeleição, que até bem pouco tempo era tida como favas contadas, agora é dúvida; e o PMDB pode ser o "voto de Minerva", se as negociações conseguirem neutralizar a ala do partido contrária ao governo. Os prováveis nomes, portanto, seriam as lideranças do partido que fossem mais identificadas com o governo.

 

 

 

 

Veja o que alguns deputados peemedebistas comentaram com exclusividade à Política Real sobre o tema:

 

 

Gastão Vieira (PMDB-MA):

 

“A reforma ministerial que o presidente Lula quer fazer é válida somente se for para reorganizar a base política do Governo. Espero que Lula encerre a nomeação de técnicos para constituir sua base política e aja mais politicamente”.

 

 

 

 

Pastor Pedro Ribeiro (PMDB-CE):

 

 

“Vivemos profunda crise política e portanto acredito que Lula deve escolher pessoas com uma vida limpa, que tenham capacidade e competência para trabalhar de forma honesta. Um ministro deve ter histórico de boa conduta para que não haja futuros escândalos”.

 

 

 

 

Ann Pontes (PMDB-PA)

 

 

“O momento de crise é extremamente propício para que haja crescimento e mudança na atuação política do Governo e do Legislativo. Lula deve escolher ministros que não tenham pretensões políticas e que tenham sim interesse em implementar ações. É preciso sair do discurso e vir para a ação. Os ministros devem ser técnicos, devem ter conhecimento da área em que atuam. O Governo não pode ter medo de mudanças profundas. E esse é o melhor momento para isso”.

 

 

 

 

( Com a coordenação de Genésio Araújo Junior)