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  • Contato Brasil, 27 de abril de 2024 13:51:37
Magno Martins
  • 22/03/2021 09h15

    Pajeú, o Estado independente

    O quadro da pandemia no Pajeú é grave, mas ainda sem fila para UTI, como está ocorrendo desde ontem em Petrolina

    Pajeú( foto: Arquivo do colunista)

    (Recife-PE) No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) saiu na frente entre os Estados nordestinos e decretou um lockdown na verdadeira expressão da palavra, ou seja, fechou tudo, inclusive os supermercados, deixando apenas abertos postos de gasolina e farmácias. Em Pernambuco, a expectativa se dava na mesma direção, mas o governador Paulo Câmara (PSB) amarelou e permitiu até lojas de automóveis abrirem.

    Três dias depois, numa reunião por videoconferência, com a presença sem a totalidade dos 17 prefeitos do Sertão do Pajeú, se curvou ao Ministério Público da 3ª Circunscrição, junto com a Associação Municipalista, cujo presidente é o ex-prefeito de Afogados da Ingazeira, José Patriota, e bateu o martelo: adotou com exclusividade para o Pajeú o mesmo lockdown no modelo cearense. A partir da próxima quarta-feira (24) e até o domingo (28), só funcionam postos e farmácias na região.

    O quadro da pandemia no Pajeú é grave, mas ainda sem fila para UTI, como está ocorrendo desde ontem em Petrolina e mesmo assim o São Francisco não radicalizou nas medidas restritivas. Cinco dos 17 prefeitos da 3ª Circunscrição, entre eles Serra Talhada, o maior município da região, não aderiram ao que foi proposto pelo MP e acatado pelo governador, com um agravante: o promotor de Serra ficou ao lado da prefeita Márcia Conrado (PT), o que mostra, na prática, que a medida não tem sequer a unanimidade dos senhores zelosos pela Justiça no Pajeú.

    O que mais intriga nisso tudo é que o Pajeú, que não está diferente da Região Metropolitana do Recife nem de nenhuma região do Estado, parece ter virado um Estado de exceção, uma capitania hereditária, na qual quem dá as normas e rege a economia de mercado é o MP com a Amupe. O resultado dessa decisão, que parece ter mais cheiro do odor da política, é o agravamento do quadro econômico da região.

    Ao mesmo tempo, ao determinar o fechamento de tudo, com o aval do governador, que não teve a mesma coragem de Camilo Santana, o MP do Pajeú está mandando a população fazer estoque de alimentos para não morrer de fome durante os quatro dias. Afinal, não é possível encontrar feijão e carne nas farmácias nem tampouco nos postos de combustíveis. Na extrema necessidade, é de se perguntar ao MP: quem estiver sem estoque de alimentos em Afogados da Ingazeira, por exemplo, poderá comprar em Serra Talhada, que não aderiu?

    Ninguém sabe responder, mas um prefeito, que pediu para não ser identificado, disse que a Polícia vai fazer barreiras nas entradas e saídas das cidades, impedindo a circulação de carros. Nunca se viu na história de Pernambuco algo igual. É como se o Pajeú estivesse dando uma lição ao governador de como fazer um verdadeiro lockdown. Duvido se fosse Eduardo Campos governador esse estado de exceção viesse a vigorar.

    SERRA SEM LOCKDOWN – Ouvida pelo repórter Houldine Nascimento, deste blog, a prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado (PT), explicou que o município não está incluído na 3ª Circunscrição e que também não foi convidada para a reunião online com o governador. “A pandemia é preocupante em Serra Talhada, assim como em todo o país. O município vem intensificando suas ações, vem orientando a população a seguir os protocolos, porém, a solução está na chegada de mais vacinas em um tempo mais hábil e não em outras medidas que afetam muito mais a economia e não resolvem”, afirmou.

    VACINA – Segundo a prefeita de Serra Talhada, o município vai comprar vacinas contra a Covid-19 por meio da Frente Nacional de Prefeitos (FNP): “Já sancionei a lei que autoriza o município a comprar vacinas pelo consórcio.” De acordo a gestora, mais de 5.940 doses foram aplicadas na população até agora, alcançando profissionais de saúde da rede pública e privada, idosos, cuidadores, pacientes da Residência Terapêutica, agentes funerários e coveiros.

    REAÇÃO – Quem tomou as dores pela atitude corajosa da prefeita de Serra Talhada, acatada pelo MP do município, vale a ressalva, foi o secretário de Saúde de São José do Egito, Paulo Jucá. "Esse posicionamento de Serra reforça o discurso negacionista de que, quem for morrer, vai morrer mesmo. A gente está fazendo esse combate e tem um grande inimigo, que é o vírus, e o outro são os negacionistas, que só pensam em eleição e voto, como esse grupo que envolve o presidente da República. Esse argumento atinge a base de quem acha que a terra é plana, que cloroquina resolve, e a gente sofre isso nos municípios. Ficamos preocupados com esse posicionamento de Serra, mas ela (Márcia) não é prefeita da região. Vamos manter (o lockdown) independentemente de Serra”, disparou.

    TABIRA SE REBELA – A Câmara de Diretores Lojistas de Tabira, diferente das demais cidades da região, bateu de frente contra o lockdown do MP do Sertão do Pajeú. “A direção da CDL Tabira deixa claro que não compactua da forma como a decisão foi tomada e principalmente repassada. Estivemos desde segunda-feira fazendo tudo para nos inteirar dos fatos, nos colocando à disposição para conversar e sermos parceiros na luta que é de todos. Porém, não parece ter sido compreendido assim pelas autoridades locais e regionais. As decisões continuam fechadas a um grupo restrito, onde o comércio e outros envolvidos só têm espaço para cumprir, infelizmente. A CDL fará a devida orientação para os associados e comercio local assim que estiver munida dos novos encaminhamentos”, informou, através de uma nota.

    BATENDO DE FRENTE – O presidente Jair Bolsonaro cumprimentou apoiadores, ontem, que foram até o Palácio da Alvorada felicitá-lo pelos seu aniversário de 66 anos. Bolsonaro estava acompanhado da primeira dama, Michelle, que completa, hoje, 39 anos. Os dois usavam máscara. Na conversa, Bolsonaro discursou contra medidas de restrição impostas por governadores por causa do avanço da pandemia. Disse que as decisões tomadas pelos chefes estaduais e municipais impedem as pessoas de trabalhar. “Estão esticando a corda. Faço qualquer coisa pelo meu povo. Essa qualquer coisa é o que está na nossa Constituição, na nossa democracia, no nosso direito de ir e vir”, afirmou.

    CURTAS

    SÓ DEUS – Depois, o presidente acrescentou: "Enquanto eu for presidente, só Deus me tira daqui […]. Não abriremos mão desse poder que vocês nos deram por ocasião das eleições de 2018". Bolsonaro também disse que o governo federal faz o possível para atuar no enfrentamento da covid-19. Citou como maior ação o pagamento do auxílio emergencial.

    PAU EM IBANEIS – Durante o ato em frente ao Palácio da Alvorada, os apoiadores do presidente também bradaram palavras de ordem contra o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). A capital federal está sob toque de recolher das 22h às 5h e com estabelecimentos que prestam serviços não essenciais fechados por causa do avanço da pandemia.

    Perguntar não ofende: Quem manda em Pernambuco é o governador ou o Ministério Público do Pajeú?


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