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- Contato Brasil, 21 de dezembro de 2024 13:04:54
(Brasília-DF) O grande Paulo Vanzolim, um dos maiores compositores populares do Brasil no século 20 escreveu o samba-canção “Volta por Cima”, que foi gravado a primeira vê em 1962.
“Dar a volta por cima que eu dei
Quero ver quem dava
Um homem de moral não fica no chão
Nem quer que mulher
Lhe venha dar a mão
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima”.
Diz a parte principal desta música que é a cara o desempenho do time brasileiro nestes primeiros 7 dias nas Olímpiadas de Paris. O maior evento esportivo do planeta nunca é só um evento esportivo.
A realização dos jogos impacta o país sede, mesmo que seja uma potência como a França. A cidade de Paris, um museu a céu aberto, fala profundamente ao mundo ocidental, mas o assunto aqui é o Brasil.
Vivemos um tempo em que a vida pública ficou radicalizada. O outro, mesmo Cristo, sempre está errado, e sujeito da ação sempre está certo. Vivemos um tempo em que a construção coletiva não existe. Na política, o Estado não serve de nada e a liberdade é tudo, ou o contrário.
A maior medalhista olímpica brasileira é uma mulher, negra, filha de empregada doméstica. A mulher que nos deu a vitória de bronze na disputa por equipe do judô, o esporte que nos dá mais medalhas, é além de tudo é negra e homossexual. A mulher que nos deu a primeira medalha de ouro é preta e gorda. Quem dá a volta por cima não é homem, é mulher!
No judô, o atleta aprende que se caiu, levanta e se tenta de novo, de novo, de novo.
No passado, os grandes atletas do Brasil eram os de elite como natação, vela e até do judô, gente branca que fazia estágios fora do país, quase sempre com nomes de ascendência norte-americana ou europeia.
O esporte olímpico brasileiro está cada vez com a cara do Brasil profundo, daquele que aprende que só caindo e levantando, sofrendo com as dificuldades, quase sem saídas se chega lá, bancados quase sempre por programas sociais e que recebem bolsas do Estado. Muitos casos, já ocorria antes, ligados às Forças Armadas. Não é bom esquecer que as patentes baixas nas FA’s sempre tiveram cara de povo.
Muita gente fala que programas sociais como o bolsa família já deram o que tinha que dar, que as pessoas já normalizaram isso como algo que o Estado tem que ofertar e não se faz favor com isso. Depois da pandemia mais ainda.
Os programas sociais, sejam diretamente financiados pelo Estado ou que permitam algum tipo de renúncia fiscal, surgem fortes para consolidar o entendimento de que o esporte de alto rendimento é um grande negócio para a sociedade e economia. Não é um favor.
A decisão do Estado de recepcionar os jogos de apostas eletrônicos como algo legal exige discussão profunda sobre como essa prática, que gera esvaziamento econômico e problemas psicológicos, pode compensar o nosso esporte de alta performance que está mostrando a importância do Brasil profundo e múltiplo.
De fato, jogos olímpicos não são só eventos esportivos.
Por Genésio Araújo Jr, jornalista
e-mail: [email protected]