Segundo turno das eleições no Chile entre ultradireitista José Antonio Kast e a comunista Jeannette Jara; Kast lidera nas pesquisa, mas indecisos deixa eleição imprevisível
Um dos fatores de incerteza que marcam esta eleição é qual será o destino dos votos de mais de cinco milhões de chilenos que serão obrigados a votar pela primeira vez
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Com BBC
(Brasília-DF, 13/12/2025) Neste domingo, 14, será realizado o segundo turno das eleições presidenciais no Chile. O ultradireitista José Antonio Kast e a comunista Jeannette Jara se enfrentam nas urnas na primeira vez em que o voto é obrigatório no país.
As últimas pesquisas dão vantagem a Kast por margem superior a dez pontos frente a Jara. Mas não se sabe qual será o comportamento dos indecisos, o que dificulta qualquer prognóstico sobre o resultado da eleição.
Kast parece ter aproveitado a transferência de votos dos candidatos de direita derrotados no primeiro turno. Ele conseguiu o apoio do libertário Johannes Kaiser e da representante da direita tradicional Evelyn Matthei.
Um dos fatores de incerteza que marcam esta eleição é qual será o destino dos votos de mais de cinco milhões de chilenos que serão obrigados a votar pela primeira vez.
Também não se sabe ao certo qual será a preferência dos eleitores que, no primeiro turno, votaram no candidato antissistema Franco Parisi, que conquistou a terceira posição, com quase 20% dos votos.
Em todo este contexto, o advogado José Antonio Kast, líder da ultradireita e fundador do Partido Republicano, disputa a presidência pela terceira vez, com um discurso "linha-dura" baseado nos temas de segurança e imigração, além da redução dos gastos fiscais.
Já a ex-ministra do Trabalho do atual governo, Jeannette Jara, representa uma aliança que reúne todos os setores da esquerda e da centro-esquerda chilena.
Ela venceu o primeiro turno das eleições, com uma mensagem baseada no aumento do acesso às redes de proteção social e medidas para enfrentar os problemas de segurança e de migração, dois temas prioritários para os chilenos.
Os dois candidatos tentaram conseguir o apoio dos eleitores considerados mais próximos do centro em uma eleição histórica, marcada pelo forte antagonismo representado pelos modelos de sociedade defendidos por cada um deles.
Mas como se comparam as propostas mais emblemáticas de Kast e Jara?
'Mais dinheiro no seu bolso'
A candidata comunista de 51 anos defende que, se for eleita, seu governo apostará em representar a visão da esquerda e da centro-esquerda, agrupadas na coalizão política que a apoia.
No setor econômico, Jara propôs a criação de uma "receita vital" de cerca de US$ 800 (cerca de R$ 4,3 mil) por mês, para melhorar a situação financeira das famílias mais vulneráveis. O valor seria coberto gradualmente, com subsídios estatais para pequenas e médias empresas.
"No meu governo, queremos colocar mais dinheiro no seu bolso", declarou a candidata.
Jara prometeu reduzir o preço das contas de luz e fazer com que o Estado forneça apoio econômico para a poupança dos jovens de 25 a 40 anos, para compra de moradia.
Outra de suas propostas é eliminar o uso da Unidade de Fomento (UF) nos setores de saúde e educação, para evitar o aumento "excessivo" dos pagamentos.
A UF é um índice reajustado diariamente, de acordo com a inflação. Ele é usado para indicar o valor da moradia, os empréstimos bancários e o custo dos seguros de saúde.
Ela também propôs a criação de um subsídio unificado ao emprego para as mulheres, jovens e idosos, além da redução da lista de espera para atendimento médico.
Em relação à imigração, diferentemente das deportações em massa prometidas por Kast, Jara propõe a criação de um registro biométrico e uma "regularização limitada" para os estrangeiros sem antecedentes penais, que estejam empregados e mantenham vínculos familiares, além de um registro biométrico dos estrangeiros que moram no país.
Por outro lado, a candidata do governo se comprometeu a fortalecer o controle das fronteiras, com o apoio das Forças Armadas e tecnologia de vigilância.
No campo da segurança, Jara afirma que seu governo atacará as finanças do crime organizado. Para isso, sua proposta é levantar o sigilo bancário, para rastrear o fluxo de dinheiro vinculado ao narcotráfico.
"Não adianta ter mais prisões ou mais policiais, se não enfrentarmos a raiz do crime organizado", afirmou ela.
Paralelamente, a candidata também prometeu fortalecer a polícia do país e aumentar o controle sobre as armas.
No último debate presidencial antes do segundo turno, Jara anunciou que, se for eleita, renunciará à sua militância no Partido Comunista.
Em relação à ameaça de uma possível intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela, Jara defende que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, "sem dúvida, deve deixar o poder". Mas alertou que a proposta de Donald Trump, para ela, "viola o direito internacional".
"Não vou apoiar a invasão de outro país", afirmou ela.
'Um país seguro'
O eixo central da campanha de Kast gira em torno dos temas de segurança e imigração. O ultradireitista articulou seu discurso em torno da ideia de um "governo de emergência", para enfrentar o aumento da criminalidade.
Kast propôs a construção de prisões de segurança máxima, aumento das penas para os infratores da lei, o fim dos "narcofunerais", uma revisão da forma de aplicação de legítima defesa e a criação de uma força especial para recuperar zonas do país dominadas pela criminalidade.
"O Chile voltará a ser um país seguro", declarou o candidato.
Em relação à imigração, ele prometeu deportações em massa de imigrantes em situação irregular, incluindo voos fretados para levá-los de volta aos seus países de origem. O custo deverá ser financiado, em parte, pelos próprios passageiros.
"Iremos fechar as fronteiras em todos os lugares onde houver passagens irregulares", afirmou Kast, como parte do seu Plano Escudo Fronteiriço.
Mas, nos últimos dias, o candidato moderou seu discurso, declarando que as deportações no seu governo não seriam como as dos Estados Unidos.
"Existem diversas formas de convidar as pessoas a sair, mas quem irá pagar? Eu não vou", afirmou ele.
Kast também propõe que a imigração irregular passe a ser considerada crime e que os estrangeiros sem documentos não tenham acesso aos benefícios básicos fornecidos pelo Estado, como educação, saúde ou moradia.
No setor econômico, o candidato prometeu promover a "austeridade", reduzindo os gastos fiscais em US$ 6 bilhões (cerca de R$ 32,4 bilhões) em um prazo de 18 meses.
A viabilidade da aplicação desta medida vem sendo colocada em dúvida, devido à magnitude do corte. Sua concretização implicaria a redução de benefícios sociais para a população.
Mas Kast garantiu ser possível proceder aos cortes sem prejudicar benefícios sociais, como a Pensão Garantida Universal, mas não detalhou como implementaria o ajuste.
No setor tributário, o ex-deputado anunciou que, em seu eventual mandato, irá reduzir o imposto corporativo para grandes e médias empresas, dos atuais 27% para 23%. E prometeu eliminar o imposto de renda de capital na venda de ações, em alguns casos.
Diferentemente do seu discurso nas eleições anteriores, Kast evitou comentar temas como o aborto e o casamento homoafetivo, bem como as violações de direitos humanos durante o regime de Augusto Pinochet (1915-2006). No passado, o candidato defendeu algumas de suas políticas.
O plano de governo de Kast gerou comparações com figuras como o presidente da Argentina, Javier Milei, dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
No plano internacional, Kast declarou, em um dos debates presidenciais, que sua posição frente a uma possível incursão militar dos Estados Unidos na Venezuela está representada na frase inscrita no brasão de armas chileno: "Pela razão ou pela força."
E, sobre o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, pioneiro das políticas linha-dura contra o crime, ele afirmou que, se todos os chilenos tivessem que votar hoje e o nome de Bukele estivesse na cédula, ele seria eleito.
(da redação com informações de BBC. Edição: Política Real)