31 de julho de 2025
CIÊNCIA

Revista Nature inclui o pesquisador brasileiro Luciano Moreira como um dos dez nomes que mais influenciaram a ciência em 2025

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Por Politica Real com agências
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Imagem do pesquisador brasileiro trabalhando em Curitiba Foto: Gabriela Portilho for Nature

(Brasília-DF, 08/11/2025). Nesta segunda-feira, 08, a renomada revista científica Nature divulgou a sua lista global de nomes que marcaram a ciência em 2025.  O pesquisador brasileiro Luciano Moreira foi eleito um dos dez nomes que mais influenciaram a ciência em 2025.  A publicação destaca sua contribuição decisiva para o enfrentamento da dengue, da zika e da chikungunya, doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.

Após 17 anos de estudos, sua equipe desenvolveu uma linhagem do Aedes com a bactéria Wolbachia, que impede o vírus de se replicar dentro do mosquito e quebra o ciclo de transmissão. O projeto já demonstra impacto direto na redução das doenças e tem como meta eliminá-las.

"Eu fiquei muito emocionado, quase não acreditei. Acho muito importante, no Brasil, a gente conseguir fazer pesquisas de ponta. E o que mais me dá satisfação é ver que estamos conseguindo reduzir o sofrimento e as mortes no país. Estamos mostrando como a ciência consegue ajudar tantas pessoas", diz o pesquisador.

Veja um trecho traduzido da revista

Revista

Este cientista está criando bilhões de mosquitos para combater doenças no Brasil.

Luciano Moreira faz parte da lista Nature's 10, uma seleção de pessoas que moldaram a ciência em 2025.

Dentro de uma enorme fábrica no distrito industrial de Curitiba, no Brasil, milhões de mosquitos Aedes aegypti se reproduzem em uma sala climatizada repleta de gaiolas de tela. A cada semana, a instalação produz mais de 80 milhões de ovos de mosquito.

No centro desse esforço está Luciano Moreira, um engenheiro agrônomo e entomologista de fala mansa, que inaugurou a fábrica em julho como parte de uma iniciativa para combater doenças transmitidas por mosquitos no país.

Na instalação de Curitiba, os mosquitos são infectados com uma bactéria chamada Wolbachia, que inibe a transmissão de patógenos humanos nocivos. Seus descendentes são liberados em cidades brasileiras para ajudar no controle da dengue, uma doença viral mortal transmitida principalmente pelo A. aegypti.

Até recentemente, mosquitos portadores de Wolbachia eram liberados apenas como parte de projetos de pesquisa de pequena escala. A nova fábrica marca uma mudança rumo à adoção em todo o país do método, após o governo federal brasileiro reconhecê-lo como uma medida oficial de saúde pública para combater a dengue e outras doenças transmitidas por mosquitos. O mérito de defender essa prática é atribuído a Moreira. “Ele não só conseguiu realizar o trabalho acadêmico, conduzindo experimentos para demonstrar a eficácia do modelo, como também convenceu os tomadores de decisão política a implementar a tecnologia”, afirma Pedro Lagerblad de Oliveira, entomologista molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Essa é uma habilidade que nem todos os cientistas possuem.”

O interesse de Moreira por mosquitos começou no final da década de 1990, quando ele era pós-doutorando no laboratório do entomologista molecular Marcelo Jacobs-Lorena, então na Case Western Reserve University, em Cleveland, Ohio. Lá, Moreira contribuiu para o desenvolvimento do primeiro mosquito geneticamente modificado para bloquear a transmissão da malária.

Vários anos depois, ele se juntou ao laboratório do entomologista Scott O’Neill, na Universidade Monash, em Melbourne, Austrália, como pesquisador visitante. A equipe de O’Neill havia conseguido infectar o Aedes aegypti com Wolbachia, uma bactéria relativamente inofensiva que infecta células reprodutivas em muitas espécies de artrópodes. Moreira decidiu testar se a Wolbachia afetava a capacidade dos insetos de transmitir patógenos humanos.

E afetou. Mosquitos portadores da Wolbachia apresentaram menor probabilidade de contrair dengue por meio de sangue contaminado com o vírus do que os não infectados (L. A. Moreira et al. Cell 139, 1268–1278; 2009). Os cientistas ainda não compreendem o mecanismo, mas a bactéria pode estar competindo com o vírus por recursos ou estimulando a produção de proteínas antivirais. Os pesquisadores descobriram que ela também tinha o mesmo efeito protetor contra outros vírus.

O’Neill iniciou os testes de campo com os mosquitos na Austrália, e Moreira retornou ao Brasil para assumir um cargo de pesquisador na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Belo Horizonte, um instituto científico vinculado ao Ministério da Saúde. Ele reuniu uma pequena equipe para iniciar os testes no Brasil.

“Os mosquitos foram produzidos inicialmente de forma artesanal, em uma pequena sala aquecida, usando pipetas e processos manuais”, conta Moreira. Mas convencer as autoridades de saúde pública a liberar milhões de mosquitos nas cidades foi uma tarefa árdua.

“Isso nunca vai funcionar”, lembra Moreira de um funcionário da saúde em Niterói ter dito. Mas, depois que ele explicou que a estratégia já havia controlado a dengue em outros locais, o funcionário mudou de ideia. E a decisão valeu a pena. A incidência de dengue em Niterói caiu 89% desde a introdução dos mosquitos.

( com Revista Nature. Edição: Google Tradutor e Política Real)