FGV-IBRE divulga seu Icomex destacando “o efeito Trump no mês de setembro”; os destaques das exportações foram na Argentina (+22,0%), seguido da China (+15,0%) e a União Europeia (+5,7%)
No Brasil, as exportações aumentaram em valor 7,2% e, em volume, 9,6% na comparação entre setembro de 2024 e 2025
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(Brasília-DF, 14/10/2025). Na manhã desta terça-feira, 14, o FGV-IBRE divulgou o seu Indicador do Comércio Exterior (Icomex) de setembro de 2025.
No primeiro semestre de 2025 o volume de comércio aumentou 4,9%, impulsionado pela antecipação de exportações para os Estados Unidos, condições macroeconômicas favoráveis e o aumento dos fluxos de produtos e serviços relacionado à Inteligência Artificial, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse resultado levou a uma revisão da projeção do crescimento do comércio mundial. Em abril de 2025, após o anúncio do tarifaço no dia 2 de abril (Liberation Day), a OMC havia projetado um aumento de 0,9% no volume do comercio mundial. Em outubro, a projeção passou para 2,4%, um aumento de 1,5 pontos percentuais.
É ressaltado para esse cenário favorável a resiliência da economia dos Estados Unidos, onde a esperada alta inflacionária e desaceleração do crescimento não ocorreram na magnitude esperada. Um dos fatores seriam negociações entre exportadores e importadores que aceitaram reduções na margem de lucro e não incorporação plena do aumento das tarifas. Esse resultado é entendido como temporário, pois a persistência do aumento das tarifas acabará por ser transmitido aos preços finais.
No Brasil, as exportações aumentaram em valor 7,2% e, em volume, 9,6% na comparação entre setembro de 2024 e 2025. Nesse mesmo período, as importações cresceram em valor 17,7% e, em volume, 16,2%. No acumulado de janeiro a setembro, os resultados para a variação dos volumes foram de +3,5% para as exportações e +9,4% para as importações.
Com os resultados dos fluxos comerciais, o superávit da balança comercial em setembro foi de US$ 3,0 bilhões e do acumulado do ano até setembro de US$ 45,5 bilhões, uma queda de US$ 13,2 bilhões em relação ao resultado acumulado de igual período de 2024.
Os efeitos do tarifaço de Trump em agosto
O crescimento do volume das exportações brasileiras em setembro foi liderado pela Argentina (+22,0%), seguido da China (+15,0%) e a União Europeia (+5,7%). Na comparação do acumulado até setembro, o mesmo ocorre, a variação da Argentina em +48,9% e da China em +5,8%. A diferença é que a China explicou 28% das exportações brasileiras e a Argentina 5,9%. Os Estados Unidos, com uma participação de 8,4% em setembro, registraram queda de 19,1% (mensal) no volume e no acumulado até setembro de 0,8%.
Dados mostram a variação no volume exportado para os Estados Unidos, China e União Europeia. Os três somados explicaram 40% das exportações brasileiras em setembro. A trajetória de queda da variação das exportações para os Estados Unidos foi compensada em parte pelo aumento das exportações para a China.
Dados mostram aumentos em volume, a partir de julho, para a Ásia (sem a China), América do Sul (sem a Argentina) e o México, que sugerem ganhos em outros mercados que compensam as perdas nos Estados Unidos. Não destacamos a Argentina, pois as exportações para esse país têm crescido a taxas acima de 40%, desde o início do ano, explicadas pelo desempenho do setor automotivo. Em setembro, foi registrada a menor variação, +22%, o que indicaria uma desaceleração dessa trajetória com a piora das condições econômicas do país.
A balança comercial por principais parceiros na comparação dos acumulados mostra um aumento do déficit dos Estados Unidos de US$ 1,3 bilhões para US$ 5,1 bilhões e uma queda no superávit com a China de US$ 30,1 bilhões para US$ 22,0 bilhões. Além disso, uma piora no saldo com a União Europeia, que passou de um superávit de US$ 91 milhões para um déficit de US$ 1,5 bilhões e uma melhora do saldo com a Argentina, de um déficit de US$ 50 milhões para um superávit de 4,7 bilhões.
A atualização dos efeitos do tarifaço em setembro reproduz a análise feita na edição do mês de setembro do ICOMEX. A Tabela 1 mostra a participação do segmento da CNAE nas exportações para os Estados Unidos em setembro de 2024 e de 2025. Depois a variação entre os meses de agosto e setembro desses mesmos anos. Em agosto, 19 setores registraram queda e, em setembro, 22 setores. Dos 26 segmentos analisados, observa-se que apenas dois passaram de queda no mês de agosto para variação positiva em setembro: transportes e coque.
Chama atenção a reversão da variação da agropecuária de um aumento de 9,5%, na comparação de agosto, para uma queda de 32,3%, em setembro. O mesmo ocorre para o segmento de máquinas e equipamentos, de uma variação positiva de 15,0% para um recuo de 10,9%, e nas exportações de fármacos de um aumento de 15,9% para uma queda de 31,1%.
Tabela foi construída a partir da seleção dos 30 principais produtos exportados em setembro. Depois foram selecionados os produtos que não estão isentos do tarifaço. O objetivo é comparar a variação das exportações para os Estados Unidos com a variação para o resto do mundo (exportações totais menos as exportações para os Estados Unidos). Em adição é feita uma comparação com os resultados obtidos em agosto.
Do que produtos que constavam na tabela de agosto, a direção da variação só mudou para produtos semimanufaturados de ferro e aço, que na comparação de agosto recuaram 6,6% e, em setembro, aumentaram 34,5%. Produtos de carne e o café continuam compensando a perda para o mercado dos Estados Unidos com aumento das vendas para o resto do mundo. Dos produtos que saíram da lista dos 30 principais e que não estão isentos, a queda das exportações permanece e alguns produtos de madeira e fumo registraram aumento para o resto do mundo.
Entre os produtos que entraram, alguns com variações positivas acima de 100%, a base de setembro de 2024 explica esse resultado, pois tinham participações da ordem de 0,1%.
Os efeitos do tarifaço provocam mudanças de mercados e na estrutura da pauta de exportações. A fase ainda é de transição, podendo esse cenário mudar se as negociações entre Brasil e Estados Unidos conseguirem chegar a um desfecho positivo. Em negociação, o desafio é que cada participante quer mostrar ganhos e/ou que as concessões oferecidas são compensadas com benefícios. Dado o grau de assimetria dessa negociação, o maior desafio é para o Brasil.
( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)