31 de julho de 2025
PARTIDOS POLÍTICOS

Carlos Siqueira, que esteve à frente do PSB, partido que mais cresceu nas eleições municipais no campo da centro-esquerda, diz que a Fundação João Mangabeira vai ajudar o PSB a sair maior em 2026

Confira a longa entrevista

Por Politica Real
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(Brasília-DF, 11/09/2025) O advogado e homem público Carlos Siqueira é conhecido  na vida pública nacional - onde trafega, ora como nos bastidores, ora no palco principal nos últimos 40 anos - pela combinação entre a leveza e a firmeza, viveu nos últimos anos a proeza de fazer muito com pouco. 

Ele esteve à frente de um partido de centro-esquerda no Brasil em meio a uma das maiores polarizações políticas da história nacional aliado a um momento drástico de financiamento da atividade pública.  Carlos Siqueira foi presidente do Partido Socialista Brasileiro(PSB) enquanto os gigantes PT e PL se digladiavam e conseguiu entrar para a história como o chefe político de seu campo que mais cresceu nas eleições municipais de 2023.

Hoje, Siqueira volta a comandar a Fundação João Mangabeira, instituição ligada ao PSB que é encarregada de fortalecer a vida partidária e pensar o presente e futuro do partido que foi refundado pelo amigo e mentor Miguel Arraes.

Falando ao jornalista Genésio Araújo Jr, cearense de Fortaleza, brincou dizendo que “sou Pernambuco, mas dizem que tenho cara de cearense, uma honra pois a duas maiores personalidade de Pernambuco foram Miguel Arraes e bispo do Recife, Dom Hélder Câmara”. Disse com um leve sorriso no rosto, mais como um regalo ao entrevistador, pois se sabe do orgulho dos pernambucanos por seu torrão.

Na longa conversa com a Política Real, Siqueira disse, entre tantas falas, que a Fundação João Mangabeira vai ajudar ao PSB a sair ainda maior nas eleições de 2026.

Veja a íntegra da entrevista:

 

POLÍTICA REAL:  Presidente Siqueira, prazer em conversar com o senhor neste momento importante do país, para a Política real, e os nossos sites institucionais da Bancada do Nordeste, Bancada Sulista e Bancada do Norte.

Eu gostaria que o senhor falasse um pouco sobre este momento da Fundação João Mangabeira, que o senhor assumiu. Acabou de sair da presidência do partido (PSB) e está assumindo a Fundação, que tem a obrigação de pensar o partido.

E eu gostaria também que o senhor, em seguida, fizesse uma avaliação sobre o resultado das eleições municipais, até porque o senhor era presidente do partido naquele momento. Um momento histórico, o partido saiu vitorioso no processo eleitoral, foi o maior partido de centro-esquerda do Brasil em número de prefeitos. E o que é que o senhor mira para 2026? Fique à vontade.

 

Carlos Siqueira:   Olha, a Fundação João Mangabeira, eu sou presidente agora pela segunda vez. Eu fui presidente muitos anos antes, quando eu era, ao mesmo tempo, primeiro secretário nacional do PSB, na gestão de Eduardo Campos. Também, fui na gestão do doutor Miguel Arraes.

E passei 10 anos e 7 meses à frente na presidência nacional do partido. E quando eu resolvi fazer a transição, a transição geracional, eu combinei então com o novo presidente, o prefeito João Campos, e vim para a fundação. Porque eu tenho uma pressa muito grande pelo papel da fundação, que se resume, em geral, em dois objetivos gerais, que se desdobrem em vários outros.

Que é a formação política da militância partidária e de simpatizantes, e a formulação de políticas públicas. Você diz, parece pouca coisa, mas não é tão pouco, porque isso tem desdobramentos enormes e importantes. Na medida que, através da fundação, nós também fizemos a autorreforma do partido.

Assim como fizemos lá atrás, quando eu ainda era presidente, elaboramos o programa de governo da candidatura à presidência da República de Eduardo Campos. Então, tudo isso, a fundação tem esse papel fundamental de, estando mais distante do dia a dia da vida partidária eleitoral e administrativa, ela está voltada para a reflexão política administrativa e da formação política dos membros da direção e da militância partidária. De maneira que, pensar o Brasil, porque esse é um dos objetivos principais de um partido político, é pensar o desenvolvimento político, econômico, social do nosso país.

E hoje, poderia dizer também ambiental, dado que a questão ambiental tornou-se uma questão também econômica e muito importante no caso brasileiro. Então, nós temos essa missão que eu acho fundamental e gosto muitíssimo. Então, não teria melhor lugar para eu voltar na direção partidária do que estar à frente da fundação mais uma vez.

E eu fiz com muita alegria, por duas razões. Porque gosto dessa questão da formulação de políticas públicas e de formação política. E, por outro lado, também tive a alegria de passar o cargo de presidente nacional do partido a um filho de um grande amigo meu, que era Eduardo Campos, bisneto de uma pessoa que eu mais admiro na minha vida política e de uma referência permanente para mim, que era o governador Miguel Arraes, que também foi presidente por 12 anos do nosso partido.

E, portanto, uma pessoa... mas não é só por ser filho e neto de dois amigos, mas é sobretudo porque é um político talentoso, dedicado, responsável, inteligente e que está fazendo uma grande administração à frente da Prefeitura do Recife. Eu estou convencido que será governador de Pernambuco em 2026 e será um grande presidente do partido também. E nisto vai se formando uma nova liderança nacional para o nosso país no futuro, que tanto precisa de novas lideranças.

Que hoje estamos refém dessa polarização que eu acho que não serve ao Brasil, essa polarização. Uma polarização, até, que não serve sequer à democracia, menos ainda ao Brasil. E que nós precisamos, em dado momento, superar isso.

E vamos superar através de quem? Através de novas lideranças, lideranças talentosas e que eu acho que o João se presta muito bem, o prefeito Campos se presta muito bem a esse papel. E nós estamos muito felizes que ele tenha assumido a presidência do partido e possa exercer uma liderança política que o Brasil tanto precisa.

 

POLÍTICA REAL:  Bem, agora nós não podemos deixar de falar de uma coisa que o senhor herdou de dois trabalhos.

O senhor estava como presidente do partido. Estava como presidente do partido e ,agora, está na fundação do partido.

Mas o senhor esteve à frente de um momento marcante que foi o processo eleitoral de 2023.

Porque o partido, sem tantos recursos assim como outros, conseguiu um desempenho marcante. É o partido que elegeu mais prefeitos. E a regra se diz o seguinte, partido que elege prefeito, elege deputado federal.

Como foi isso?

 

Carlos Siqueira:  Bom, você me fala das eleições municipais e foi um momento muito importante porque nós tínhamos tido um reveses, lá atrás, nas eleições parlamentares e que vamos recuperar e já começamos a recuperação nas eleições municipais de 2020. Nós tínhamos pouco recurso.

Para você ter uma ideia, só para se comparar com o nosso campo, o campo de centro-esquerda, PSB, PT, PDT e tudo mais, havia o PT com quase 700 milhões de fundo eleitoral, com muitos parlamentares, com governo federal e tal, muitos senadores, governadores e nós fomos ali, tinha um fundo eleitoral de 147 milhões e tínhamos uma eleição, um desafio extraordinário pela frente. Tivemos 900 candidatos e chegamos à eleição de 312 prefeitos. Fomos o partido do nosso campo de centro-esquerda que mais elegeu prefeitos e que mais elegeu vereadores porque isso me impressionou mais ainda.

Porque sendo o PT um partido tão grande como é, eu não imaginava jamais que nós pudéssemos eleger prefeitos porque fazer chapa de eleição municipal não é brincadeira por município. E elegemos também quase 5 mil vereadores e isso foi muito importante, talvez até tão importante quanto os 312 ou mais do que os 312, porque tem fidelidade aí, no caso dos vereadores, prefeitos. Então foi uma grande satisfação naquele momento.

Eu acho que ali nós passamos a ter uma retomar a nossa posição de estarmos em uma ascensão. E acho que a preparação, o grande desafio agora é a preparação para as eleições, está sendo já, já tinha iniciado quando eu ainda estava lá na presidência e o presidente João Campos está dando curso a isso, a organização das chapas para deputado federal, para senador e para as eleições de governador também. Então acho que o PSB vai ter um resultado também, eu acredito, que surpreendente para deputado federal e para os governos estaduais, mas principalmente para deputado federal.

Então, é muito importante o 2026, a eleição de 2026, nós aqui na fundação iremos fazer o que for possível para colaborar com o partido, com novas ideias, com elaboração de programas de governo, aquilo que for necessário para alavancar o nosso partido. Afinal, a fundação é um braço do partido, a disposição, um braço político administrativo do partido, a disposição do desenvolvimento e do crescimento do PSB.

 

POLÍTICA REAL: Bem, tem um assunto que está chamando atenção muito do mundo político e está começando a chamar atenção da sociedade.

Nos últimos anos, nos últimos seis, sete, oito anos, o número de partidos diminuiu, muitas se fundiram e está surgindo agora esse fato novo das federações. Como é que o PSB se insere aí nessa discussão? O senhor acredita que o partido, nesse status que ele está vivendo agora, ele pode se envolver com algumas fundações? É possível o surgimento de fundações com outros partidos? Gostaria que o senhor nos expusesse aí. Como é que anda isso?

Carlos Siqueira: Veja, a diminuição do número de partidos que no Brasil tem excesso, e tem excesso por um erro gravíssimo do Supremo Tribunal Federal, que em 2002, ao julgar uma ação direta de inconstitucionalidade, considerou aquilo que não é inconstitucional, que é a chamada Cláusula de Desempenho, tanto é que ela está existindo agora.

E a Constituição não mudou nada a respeito. Então, ela está existindo, só que ela está existindo de maneira muito gradativa, que era 5%. Naquele ano, nós fizemos 5,4%.

Ali, se tivesse feito, o Supremo tivesse derrubado essa norma constitucional, nós teríamos desde aquela eleição 5 ou 6 partidos, no máximo 7. E nós estaríamos com um sistema político sólido, com partidos claramente identificáveis, direita, centro-direita, esquerda, centro-esquerda, e não precisa muito mais do que isso. Nós estamos a favorar, portanto, um sistema partidário em que os partidos sejam ideológicos e programáticos, que os eleitores consigam olhar para um partido e saber, se ele for governo, qual é a direção que ele vai levar o país, o município e o Estado. Isso não ocorreu, mas está ocorrendo, a meu ver, tardiamente, essa diminuição através da Clausula de Desempenho.

Porque a cláusula de desempenho, a cada eleição, ela vai aumentando. Era 2%, vai para 2,5%, depois vai para 3%, e exige votação em nove parlamentos, e vários partidos não fizeram essa cláusula de desempenho. Nós fizemos.

Apesar do reflexo que tivemos ali em 2022, nós fizemos a Cláusula de Desempenho e não temos nenhum problema de fazer. Só que vamos, além disso, crescer mais do que a cláusula exige que nós cresçamos. E diminuir, então, o número de partidos é muito importante.

Acho que está acontecendo tarde demais. Porque se nós tivéssemos, lá em 2002, sete partidos, como foram os sete que fizeram mais de 5%, nós não teríamos tido sequer a candidatura de Jair Bolsonaro, pois um grande partido, não daria a legenda a ele. Então, você pode pegar uma legenda dessa pequena, ou quase que se chama o de aluguel e ele foi por uma dessas, que ele foi eleito presidente da República.

Ele tinha eleito dois deputados federais, era a bancada que tinha feito o PSL naquela época. Portanto, agora estamos caminhando para isso e o PSB quer estar entre os partidos que farão a cláusula de desempenho e quer desempenhar o seu papel de protagonista na política republicana do nosso país. E foi criada a questão do Instituto da Federação.

A Federação está permitindo que alguns partidos que não alcançaram a cláusula desempenho, como é o caso do PCdoB e do PV, que estão acoplados numa federação com o PT, e o PSB que está, eu já tinha iniciado essa discussão nos últimos meses da minha administração, uma negociação com o Cidadania, e depois o presidente João Campos retomou essa negociação e ela será concluída, tudo indica, até novembro, essa federação PSB-Cidadania.

De maneira, que é um momento importante, são dois partidos com histórias muito longas na vida republicana nacional e que vão se unir para formar essa federação e contribuir com a renovação democrática do nosso país.

( da redação com textos e edição de Genésio Araújo Jr)