TARIFAÇO: Estudo Icomex da FGV-IBRE avalia os desafios para lidar com o custo do tarifaço
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(Brasília-DF, 14/08/2025). Na manhã desta quinta-feira, 14, o FGV-IBGE divulgou o seu Indicador do Comércio Exterior (Icomex) referente ao mês de julho de 2025. O destaque era a previsível “luta” com o tarifaço de 50% nos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. Veja AQUI os gráficos do estudo.
Veja a íntegra do texto do documento:
O desafio agora é como lidar com os custos do tarifaço
Sumário Executivo
1. A seção sobre o tarifaço Trump em relação às exportações brasileiras mostra que o percentual de produtos que dependem na ordem de 30% ou mais do mercado dos Estados Unidos é 13,3%. No entanto, como mostra a seleção dos 30 principais produtos exportados, alguns registram percentuais ao redor de 80%. Ressaltam-se algumas observações iniciais sobre as medidas de alívio do governo.
2. A Organização Mundial de Comércio reviu a sua estimativa para o crescimento do comércio mundial em volume de 0,2% em abril para 0,9%, no início de agosto. Um dos fatores para explicar essa revisão foi o aumento do volume das importações dos Estados Unidos, em 11%, dada a corrida para evitar os efeitos do tarifaço que começou a vigorar no início de agosto.
3. O mês de julho registrou o maior aumento em volume das exportações na comparação interanual mensal entre 2024 e 2025, 6,9%, superando até a variação das importações que foi de 6,5%. No entanto, como os preços das exportações recuaram em 1,9% e o das importações aumentaram pelo mesmo percentual, a variação no valor importado foi maior do que a das exportações.
4. Na comparação interanual do acumulado, a variação em volume foi liderada pela transformação (+5,7%), seguida da extrativa (+1,2%) e com o recuo da agropecuária em 3,0%.
5. Na comparação do acumulado do ano, a maior variação das importações está associada aos bens de capital (+23,1%), seguida de semiduráveis (+17,4%), bens intermediários (+8,3%), bens não duráveis (+3,3%) e duráveis (+0,4%). O aumento das importações de bens de capital foi explicado pela transformação.
6. Exceto na Argentina, foi registrada piora em todos os saldos comerciais com os principais parceiros. Com a China, o superávit passou de US$ 27 bilhões para US$ 16 bilhões, entre o acumulado do ano de 2024 e 2025. Nos Estados Unidos o déficit aumentou de US$ 283 milhões para US$ 2,3 bilhões. Na União Europeia o superávit de um bilhão passou para um déficit de US$ 698 milhões. Com a Argentina foi registrado um superávit de 3,5 bilhões.
7. As projeções para o superávit da balança comercial em 2025 devem ficar ao redor de US$ 62 bilhões, caso não surjam novas surpresas.
O Tarifaço de Trump continua
O tarifaço de Trump foi iniciado para 94 países no início de agosto e a China ganhou mais 90 dias para continuarem as negociações. Para o Brasil, os canais para iniciar negociações continuam difíceis e o governo lançou um programa voltado em especial para as pequenas e médias empresas. Serão concedidas linhas de crédito de R$ 30 bilhões, aporte para os fundos garantidores de exportações de R$ 4,5 bilhões, diferimento de tributos federais (Reintegra de R$ 5 bilhões, prorrogação de prazos do regime de drawback e compras governamentais). Além disso, o governo continuará empenhado em abrir negociações, procurar mercados, fechar novos acordos comerciais e manter o seu compromisso com o multilateralismo.
Selecionamos os 30 principais produtos exportados para os Estados Unidos que explicaram 65,3% da pauta bilateral de janeiro a julho de 2025. Na pauta total das exportações brasileiras, os 30 produtos explicam 7,8% do total das exportações do Brasil. Desses produtos, 18 não tem isenções e, desses, 14 apresentam percentuais que variam de 29,7% a 96,1%, como parcela das vendas para os Estados Unidos nas suas vendas externas totais. Os produtos siderúrgicos já eram esperados, mas itens de máquinas e equipamentos não elétricos chegam a percentuais de 60%.
Se considerarmos o total da pauta dos produtos não isentos, o percentual com dependência de 30% ou mais do mercado dos Estados Unidos representam 13,3% dessa pauta. Esse não é o único critério para avaliar a vulnerabilidade, pois o grau de dificuldade para diversificar mercados varia entre os setores e produtos.
O auxílio como instrumento temporário é bem-vindo. No entanto, é preciso avaliar caso a caso para que os recursos sejam direcionados para aqueles que estarão mais expostos aos efeitos negativos do tarifaço.
A realização de acordos que promovam a abertura de mercados entre os países para isolarem o ímpeto do tarifaço de Trump seria uma diretriz interessante, mas, ao que parece, a estratégia de Trump de privilegiar acordos bilaterais, divide e dificulta a cooperação de negociações de abertura multilaterais.
Na agenda bilateral Brasil-Estados Unidos, questões políticas são inegociáveis. No entanto, pensar diretrizes de aberturas e concessões comerciais que possam atender os interesses da agenda de aumento da produtividade não deve ser descartada. Para isso, é necessário antes que se construa internamente a identificação dos interesses nacionais levando em conta essa perspectiva.
A Balança Comercial de julho
A Organização Mundial de Comércio reviu a sua estimativa para o crescimento do comércio mundial em volume de 0,2% em abril para 0,9%, no início de agosto. Um dos fatores para explicar essa revisão foi o aumento do volume das importações dos Estados Unidos, em 11%, dada a corrida para evitar os efeitos do tarifaço que começou a vigorar no início de agosto. Em adição, a percepção que as tensões entre Estados Unidos e a China amainaram com as negociações contribuiria para esse resultado.
No Brasil, as estimativas para a balança comercial são consensuais em termos de redução do superávit comercial em 2025 liderada pelo aumento das importações e um baixo dinamismo das exportações. As projeções variam entre US$ 50 bilhões e números ao redor de US$ 65 bilhões. Na divulgação do Relatório Focus de 8 de agosto, a projeção era de US$ 65 bilhões. Consideramos que o cenário ainda está muito incerto para o Brasil, mas não levando em conta possíveis novas sanções comerciais de Trump, algo em torno de US$ 63 bilhões.
Em julho, a balança comercial de julho registrou um superávit de US$ 7,1 bilhões, inferior ao de igual período de 2024, US$ 7,6 bilhões. No acumulado do ano até julho, o superávit foi de US$ 37 bilhões e no mesmo período de 2024, o saldo foi de US$ 49,1 bilhões. A corrente de comércio aumentou seja na comparação mensal, um acréscimo de US$ 3,4 bilhões, seja no acumulado até julho, de US$ 12,5 bilhões.
A piora no saldo acumulado é explicada pelo maior dinamismo das importações em relação às exportações. Na comparação mensal, a variação no valor das importações foi de +8,4% e das exportações de +4,8%. Na comparação entre os acumulados do ano até julho foi de aumento de 8,3% das importações e de 0,1% das exportações.
O mês de julho registrou o maior aumento em volume das exportações na comparação interanual mensal entre 2024 e 2025, 6,9%, superando até a variação das importações que foi de 6,5%. No entanto, como os preços das exportações recuaram em 1,9% e o das importações aumentaram pelo mesmo percentual, a variação no valor importado foi maior do que a das exportações.
Na comparação entre o acumulado do ano até julho de 2024 e 2025, a variação do volume importado, +10,3%, foi superior à das exportações, +2,4%, e os preços de ambos os fluxos declinaram: 2,2% para as exportações e 1,8% para as importações.
A comparação entre o desempenho das exportações, em volume, de commodities e não commodities tem se mantido inalterado ao longo do ano. Esse último grupo registrou aumento de 16,5%, na comparação mensal, e de 10,7% entre os acumulados do ano até julho. As commodities, que explicaram 67% das exportações no acumulado do ano até julho, recuaram 1,1% na comparação com igual período de 2024 e cresceram 2,7% na comparação mensal. Em adição, enquanto os preços das commodities recuaram, o das importações aumentou. Com esses resultados das exportações de commodities, o desempenho total das exportações piorou em relação aos dados de 2024.
A análise por nível de atividade mostra que a participação da agropecuária no acumulado do ano até julho se manteve igual em 2024 e 2025, 22%. A extrativa perdeu participação de 25% para 23% e a transformação ganhou os dois pontos percentuais de perda da extrativa passando para 55%, em 2025. Na comparação interanual do acumulado, a variação em volume foi liderada pela transformação (+5,7%), seguida da extrativa (+1,2%) e com o recuo da agropecuária em 3,0%. Observa-se que em 2024, nesse mesmo período, as vendas externas da transformação eram divididas igualmente entre commodities e não commodities. Em 2025, a participação das não commodities passou para 54%. Em termos de variação do volume, as commodities recuaram em 0,1% e as não commodities em 11,2%. O desempenho da transformação foi liderado pelas exportações de não commodities do setor.
Na comparação entre os meses de julho, o destaque foi o aumento em volume da indústria extrativa em 13,2%, seguido da transformação (+7,9%) e recuo na agropecuária (0,9%). Os preços sobem para a agropecuária (3,9%) nas duas bases de comparação, recuam menos de 2% para a transformação e caem para a extrativa em 10,5% (acumulado) e 8,5% no mensal. A queda nos preços totais das commodities foi puxada, portanto, pela indústria extrativa.
Exceto a indústria extrativa, todos os outros setores continuam a registrar variações positivas no volume importado. Em julho, a liderança foi da agropecuária (+10,3%), seguida da transformação (+8,1%). No acumulado até julho as variações foram: agropecuária (+12,1%); transformação (+12,2%); e extrativa queda de 16,1%. Em todos os setores, os preços caem na comparação do acumulado do ano e, a maior queda foi na extrativa, 14,3%.
O Gráfico 5 mostra a variação em volume por categoria de uso. Na comparação do acumulado do ano, a maior variação está associada aos bens de capital (+23,1%), seguida de semiduráveis (+17,4%), bens intermediários (+8,3%), bens não duráveis (+3,3%) e duráveis (+0,4%). Observa-se a desaceleração das importações de bens duráveis associada às importações de automóveis, que registraram na comparação mensal entre 2024 e 2025 variações positivas de 11,3% e 42,3%, em abril e maio, e depois variações negativas de -14,4% e -11,1%, em junho e julho.
O aumento das importações de bens de capital foi explicado pela transformação, pois as compras de bens de capital da agropecuária recuaram em 3,9%. No caso das importações de bens intermediários, a variação para a transformação (+8,5%) foi superior à da agropecuária (+5,9%).
O Gráfico 6 mostra a variação do volume exportado e importado pelos principais mercados. Em termos de volume exportado, a liderança é da Argentina seja na comparação mensal (+44,8%) ou no acumulado do ano (+56,7%). Para a China as exportações aumentaram em 1,3%, para os Estados Unidos em 4,6 % e para a União Europeia, 7,3%, entre os meses de julho de 2024 e 2025. Nas importações, a liderança no mês de julho foi dos Estados Unidos (+15,9%), seguida da China (+9,4%), União Europeia (+2,5%) e recuo na Argentina. No acumulado do ano, a liderança foi da China (+26,7%), seguida dos Estados Unidos (+14,7%), União Europeia (+1,4%) e recuo da Argentina.
Os dois principais produtos importados dos Estados Unidos com participações acima de 10% foram os mesmos no acumulado até julho e no mês de julho. O primeiro foram os motores e máquinas não elétricas, participação de 15,7% e aumento de 29,6% e óleos combustíveis, participação de 15,4% e aumento de 62,6%. No acumulado até julho, os motores aumentaram em 26,7% e os óleos, em 42,5%.
Exceto na Argentina, foi registrada piora em todos os saldos comerciais com os principais parceiros. Com a China, o superávit passou de US$ 27 bilhões para US$ 16,0 bilhões, entre o acumulado do ano de 2024 e 2025. Nos Estados Unidos o déficit aumentou de US$ 283 milhões para US$ 2,3 bilhões. Na União Europeia o superávit de um bilhão passou para um déficit de US$ 698 milhões. Com a Argentina foi registrado um superávit de 3,5 bilhões (Gráfico 7).
( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)