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Consultoria divulga avaliação do tarifaço de Donald Trump e aposta que Brasil não reagirá com retaliação; veja os 15 pontos destacados

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Donald Trump e seu tarifaço

(Brasília-DF, 22/07/2025) A Política Real recebeu na redação um perguntas e respostas apresentados pela Warren Investimentos e seu núcleo Warren Política  com destaque para as implicações do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciado em carta dirigida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas redes sociais.

A Warren diz que o relatório consiste em 15 perguntas e respostas realizadas com base em nossas análises da atual conjuntura política. O temas são : Tarifaço Trump: fatores comerciais e políticos. Possível desfecho. Impactos políticos sobre a agenda econômica, que tramita no Congresso.

 

Qual é a análise do time de Warren Política sobre a decisão do presidente Trump em implementar o tarifaço?

 

Acreditamos que esse tema tem que ser dividido em dois fatores: os comerciais e os políticos. Sobre os aspectos comerciais. Não consideramos que haverá uma retaliação por parte do Brasil. E acreditamos na evolução das negociações em torno do tarifaço de 50%.

 

Por que?

 

Porque se pegarmos alguns elementos empíricos e o recente histórico dessa discussão, vamos ver que o atual governo brasileiro não tem adotado ações de represálias. Isso não ocorreu quando o presidente Trump anunciou em abril tarifas recíprocas prevendo a taxação de 10% para países da América Latina, o que incluíram o Brasil. Além disso, a postura diplomática do governo Lula tem sido respaldada por diferentes atores internos. Em abril, assim como na atual conjuntura, houve uma reação por parte de representante da cadeia produtiva nacional, por parte dos setores organizados da sociedade e por parte do Congresso, no sentido de incentivar o diálogo e a busca por uma saída diplomática para o tarifaço.

 

Mas neste meio tempo foi aprovada a Lei de Reciprocidade no Congresso?

 

É verdade. Esse tipo de iniciativa aconteceu não apenas no Brasil. Mas no nosso caso, ela tem servido mais como uma carta na manga de contrapressão, na mesa de negociações. Como mostramos na resposta anterior, não há dentro do mundo empresarial, setores da sociedade e do mundo político um clamor e um entendimento de que aplicar a reciprocidade tarifária é o melhor caminho.

 

Dificilmente, o governo Lula vai se chocar com esse entendimento que tem permeado a sociedade como um todo. Um outro ponto importante de destacar é que, no mapeamento dos discursos que realizamos, identificamos que, mesmo nos últimos pronunciamento de Lula, por mais que ele adote um tom mais duro, ele tem sempre deixado a porta aberta para negociações. A máxima que o presidente tem usado é a de que “não há vencedores em guerras tarifárias”.

 

Acreditam que diante dos últimos fatos políticos envolvendo o ex-presidente Bolsonaro poderá haver uma escalada por parte do presidente Trump, até o dia 1 de agosto?

 

Não, pelo contrário. Dentro das questões comerciais, acreditamos que há espaço para a ampliação das negociações, uma possível flexibilização nas tarifas previstas por Trump ou até um novo adiamento da aplicação das novas taxas. De uma forma geral, o comportamento do atual presidente norte-americano tem sido recorrente, desde que ele assumiu a cadeira em 20 de janeiro. Ele primeiro estica a corda ao máximo, às vezes até dá alguns sinais de manutenção do tensionamento, mas depois recua, não que seja parcialmente.

 

Um exemplo prático. No último dia 8 de abril, Trump anunciou a redução, por 90 dias, das pesadas tarifas impostas sobre 56 países e a União Europeia (UE). A decisão foi comunicada cerca de 13 horas após a entrada em vigor das novas taxas. Outro exemplo explícito de ajustes são as tratativas de Trump junto à China. É válido destacar que, hoje, os chineses são considerados o principal adversário de Trump no campo geopolítico e econômico. Mesmo no caso da China houve flexibilização e revisão tarifária. Em 12 de abril, o governo norte-americano anunciou que os eletrônicos importados para os EUA estavam isentos do tarifaço. A medida beneficiou empresas como a Apple, que fabrica iPhones e outros produtos na China. No mês seguinte, em maio, EUA e China chegaram a um acordo em que as tarifas sobre as importações chinesas caíram de 145% para 30%. Já as taxas da China sobre os produtos americanos seriam reduzidas de 125% para 10%.

 

Mais recentemente, no último domingo (13), a presidente da União Europeia, Ursula Von Der Leyen, anunciou que recebeu uma carta do governo americano informando que as medidas de taxação dos EUA (30%) sobre os países da zona do Euro entrariam em vigor, a menos que uma solução negociada seja alcançada.

 

Vocês têm dividido a questão do tarifaço em dois fatores. Qual é o segundo?

 

Político.

 

Sob a ótica de estratégia eleitoral, consideramos com um grande erro político, o fato de o presidente Trump ter associado o tarifaço às questões judiciais, enfrentadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, no Brasil.

 

É preciso ter em mente que até aqui o atual governo vinha procurando um mote, um discurso, uma bandeira, para chamar de seu. A estratégia do governo Lula, antes do episódio Trump, focava em ações relacionadas à justiça tarifaria. Dentro desse contexto temos o episódio do IOF que trouxe à baila posicionamentos públicos de representantes do atual governo, que defendiam a taxação “do andar de cima”, um discurso embalado numa retórica de divisão de classes e de polarização.

 

A carta de Trump, associando o tarifaço às questões judiciais de Bolsonaro, serviu como um gatilho para unir vários setores da sociedade, que não são apoiadores do atual governo, contra a taxação. Essa união ocorreu dentro do mundo empresarial, político e social. Temos hoje empresários do campo liberal pedindo ajuda para o Executivo. E lideranças políticas que representam setores do Agro e partidos de oposição indo aos EUA tentar construir um acordo.

 

Esse enorme erro político deu oxigênio ao governo Lula, que automaticamente cresceu nas pesquisas de opinião. No meio disso tudo, Lula ainda conseguiu trazer para o seu lado um pouco do sentimento de patriotismo e nacionalismo que há muito se concentrava no campo da extrema direita.

 

É válido destacar que, dentro do contexto político, situação similar ocorreu no Canadá. Considerado fora do páreo nas eleições canadenses o primeiro ministro Mark Carney, do Partido Liberal, venceu a disputa em abril embalado pelas declarações de anexação de Trump (“Adoraria ver o Canadá ser o 51 estado” dos EUA) e pelo tarifaço. Assim como Lula tem feito agora, Carney conseguiu deflagrar um sentimento de nacionalismo, que o ajudou a fortalecê-lo junto aos eleitores.

 

É possível o bolsonarismo recuperar o espaço esse perdido?

 

Acredito que dê para recuperar. Na política não há nada definitivo. Para isso, Bolsonaro terá que encontrar uma forma de tirar dele e da família dele o carimbo de que a taxação de 50% tem como principal motivo, a situação junto à Justiça brasileira.

 

Tratando apenas sob a ótica de estratégia política, sem entrar no mérito ideológico. Como dissemos acima, com base em elementos empíricos, a tendência é de que haja uma flexibilização do tarifaço de Trump.

 

Levando-se em conta esse cenário, se amanhã, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, que está nos EUA, conseguir construir uma saída e conseguir puxar para ele e o pai a autoria de uma solução, acredito que o jogo político/eleitoral e a guerra retórica ficam empatados ou minimamente embaralhados. Porque neste momento, o governo Lula tem sido muito hábil em surfar sobre os erros dos adversários.

 

Qual é a visão da Warren Política sobre a decisão do STF de impor medidas cautelares contra Bolsonaro e o que isso pode influenciar as eleições de 2026?

 

As medidas cautelares têm relação com as investigações da Polícia Federal que apontam que Bolsonaro estaria atuando junto com o filho Eduardo para tentar obter medidas do governo americano contra o Brasil. Neste episódio, chamou muito a atenção o fato de não ter havido nenhuma comoção pública, em defesa do ex-presidente, entre as principais lideranças dos partidos de Centro. Mesmo entre aqueles que um dia estiveram na equipe dele.

 

Em Brasília e no mundo político de uma forma geral, há uma grande expectativa de que Bolsonaro seja preso, mas em razão do julgamento do STF sobre o episódio do dia 8 de janeiro. A falta de uma reação pública dos representantes do Centrão, na decisão do STF dessa última semana, revela aquilo que temos ouvido por aqui. Há um entendimento de que Bolsonaro não vai disputar a próxima eleição de 2026. E há também um sentimento de que, diante dessas circunstâncias, é preciso pressioná-lo a tomar uma decisão, ainda neste ano, de apoiar algum candidato de centro direita. Acredito que daqui para o final do ano, essa pressão aumenta. Dentro desse contexto, podemos considerar que uma possível discussão sobre anistia é algo que não vai avançar, no Congresso.

 

Acreditam que Bolsonaro deve anunciar o apoio a algum candidato até dezembro?

 

Até dezembro tem muita coisa para acontecer no tabuleiro político eleitoral. Hoje, ninguém sabe o que passa na cabeça do ex-presidente e qual vai ser a estratégia. Diante do histórico dele, quem disser que sabe, é mero chute.

 

Olhando para o Congresso, como a atual conjuntura política pode afetar a agenda econômica do ministro Fernando Haddad (Fazenda), nas duas Casas?

 

Entramos no recesso Legislativo em meio a um clima pesado, em meio a um clima de muita desconfiança e quebra de acordo entre o Executivo e Congresso. Do lado do Palácio do Planalto, houve todo o debate em torno do IOF, a instauração do discurso “Ricos Vs Pobre”, que pegou o Congresso no contrapé. Nesta lista também temos o veto do número de deputados.

 

Do lado, da Câmara e do Senado, vimos propostas avançarem sem o aval do Executivo, como foi o caso do PDL que derrubava o decreto do IOF, o projeto que aprova a renegociação da dívida dos produtores rurais, o PL do licenciamento ambiental e a derrubada de vários vetos, entre eles o das eólicas offshore. Terminamos o semestre com um distanciamento claro entre a cúpula do Congresso e do Executivo. Vejo esses movimentos como um prenúncio de um desembarque da turma do Centrão, que pode ocorrer no final de outubro, início de novembro.

 

O governo ainda consegue aprovar algo até lá, se de fato isso ocorrer?

 

O governo tem até o final de outubro para aprovar os projetos de interesse dele.

 

Não por acaso, o senador Renan Calheiros (MDB/AL), presidente da Comissão da MP 1303/25 (compensação do IOF), quer que a votação do relatório ocorra até o final de agosto. Ele sabe que a ampulheta do governo no campo da governabilidade está se esvaziando.

 

Qual é a expectativa do time da Warren Política em relação à MP 1303 (Compensação do IOF)?

 

Acreditamos que ela vai ser votada, mas vai ser bastante desidratada. Deve haver mudanças na taxação do LCA, LCI e debentures. Há um movimento forte para isso dentro do Congresso. Por outro lado, acredito que a previsão de taxação das fintechs (equiparando aos grandes bancos) e bets deve permanecer.

 

Sobre a Reforma da Renda?

 

O relator do texto, deputado Arthur Lira (AL/PP), já sinalizou que vai fazer novos ajustes, até o projeto ser votado no plenário da Câmara, em agosto. De qualquer forma, sem dúvida o projeto vai ser aprovado nas duas Casas, até o final do ano. Ele tem um forte apelo eleitoral. Além disso, serve de vacina para os congressistas em relação ao discurso que o governo vem adotando de “ricos vs pobres”.

 

Sobre a PEC 66/23, que trata dos precatórios?

 

Resta apenas um turno no Senado para que ela seja promulgada. Esse projeto foi elaborado pela Confederação Nacional dos Municípios e há um forte apelo por parte dos prefeitos, que fazem parte do reduto eleitoral dos congressistas. Vai ser aprovada em agosto, após a retomada das atividades no Legislativo.

 

Em relação ao Projeto de Lei Complementar (PLP 128/25) que prevê a redução dos benefícios tributários em 10%.

 

O autor do projeto, deputado Mauro Benevides (PDT/CE), tem se movimentado para tentar avançar com o tema na Casa. No último dia 8, foi aprovado o regime de urgência. Isso significa que o presidente Hugo Motta (Rep/PB) pode puxar o projeto para votação, no plenário, quando achar conveniente. A questão é que, com base nas nossas conversas da última semana, a equipe econômica ainda não se posicionou sobre a proposta, ficou de enviar sugestões, no segundo semestre. Entendo que, se fosse algo urgente para o Executivo, essas sugestões já estavam na mesa de negociações. Vamos aguardar os próximos capítulos.

 

E sobre a Reforma Administrativa?

 

Temos dúvidas se entrará como prioridade das duas Casas no pouco tempo que o Congresso terá para avançar com temas estruturantes, até que o ambiente fique totalmente contaminado pelas eleições de 2026.

 

Vamos acompanhando.

 

 

( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)