31 de julho de 2025
Brasil e Poder

Primeira fala de Lula no Brics, sessão Paz e Segurança, Reforma da Governança Global, diz o grupo tem condições de “lançar as bases de uma governança revigorada”

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( Publicada originalmente às 13 h. 01 do dia 06/07/2025) 

(Brasília-DF, 07/07/2025) Na manhã deste domingo, 06, após receber os chefes de Estado e Governo na 15ª Cúpula dos Chefes de Estado dos Brics, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez sua primeira fala na sessão Paz e Segurança, Reforma da Governança Global do BRICS.

Lula defendeu que os Brics montem a nova governança global com a falência atual.

“Se a governança internacional não reflete a nova realidade multipolar do século XXI, cabe ao BRICS contribuir para sua atualização. Sua representatividade e diversidade o torna uma força capaz de promover a paz e de prevenir e mediar conflitos.

Podemos lançar as bases de uma governança revigorada.”, disse.

 

 

Veja a íntegra:

 

Pela quarta vez o Brasil sedia uma Cúpula do BRICS.

 

De todas, esta é a que ocorre em cenário global mais adverso.

 

A ONU completou 80 anos no último dia 26 de junho e presenciamos colapso sem paralelo do multilateralismo.

 

O advento da ONU marcou a derrota do nazi-fascismo e o nascimento de uma esperança coletiva.

 

A grande maioria dos países que hoje integram o BRICS foram seus membros fundadores.

 

Dez anos depois, a Conferência de Bandung refutou a divisão do mundo em zonas de influência e avançou na luta por uma ordem internacional multipolar.

 

O BRICS é herdeiro do Movimento Não-Alinhado.

 

Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está novamente em xeque.

 

Avanços arduamente conquistados, como os regimes de clima e comércio, estão ameaçados.

 

Na esteira da pior crise sanitária em décadas, o sistema de saúde global é alvo de investida sem precedentes.

 

Exigências absurdas sobre propriedade intelectual ainda restringem o acesso a medicamentos.

 

O direito internacional se tornou letra morta, juntamente com a solução pacífica de controvérsias.

 

Nos defrontamos com número inédito de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial.

 

A recente decisão da OTAN alimenta a corrida armamentista.

 

É mais fácil destinar 5% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para Assistência Oficial ao Desenvolvimento.

 

Isso evidencia que os recursos para implementar a Agenda 2030 existem, mas não estão disponíveis por falta de prioridade política.

 

É sempre mais fácil investir na guerra do que na paz.

 

As reuniões do Conselho de Segurança da ONU reproduzem um enredo cujo desfecho todos conhecemos: perda de credibilidade e paralisia.

 

Ultimamente sequer é consultado antes do início de ações bélicas.

 

Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais.

 

Assim como ocorreu no passado com a Organização para a Proibição de Armas Químicas, a instrumentalização dos trabalhos da Agência Internacional de Energia Atômica coloca em jogo a reputação de um órgão fundamental para a paz.

 

O temor de uma catástrofe nuclear voltou ao cotidiano.

 

As violações recorrentes da integridade territorial dos Estados, em detrimento de soluções negociadas, solapam os esforços de não-proliferação de armas atômicas.

 

Sem amparo no direito internacional, o fracasso das ações no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e na Síria tende a se repetir de forma ainda mais grave.

 

Suas consequências para a estabilidade do Oriente Médio e Norte da África, em especial no Sahel, foram desastrosas e até hoje são sentidas.

 

No vazio dessas crises não-solucionadas, o terrorismo encontrou terreno fértil.

 

A ideologia do ódio não pode ser associada a nenhuma religião ou nacionalidade.

 

O Brasil repudiou os atentados na Caxemira.

 

Absolutamente nada justifica as ações terroristas perpetradas pelo Hamas.

 

Mas não podemos permanecer indiferentes ao genocídio praticado por Israel em Gaza e a matança indiscriminada de civis inocentes e o uso da fome como arma de guerra.

 

A solução desse conflito só será possível com o fim da ocupação israelense e com o estabelecimento de um Estado palestino soberano, dentro das fronteiras de 1967.

 

O governo brasileiro denunciou as violações à integridade territorial do Irã, como já havia feito no caso da Ucrânia.

 

É urgente que as partes envolvidas na guerra na Ucrânia aprofundem o diálogo direto com vistas a um cessar-fogo e uma paz duradoura.

 

O Grupo de Amigos para a Paz, criado por China e Brasil e que conta com a participação de países do Sul Global, procura identificar possíveis caminhos para o fim das hostilidades.

 

Gravíssimas crises em outras partes do mundo seguem ignoradas pela comunidade internacional.

 

No Haiti tivemos a MINUSTAH, mas a comunidade internacional abandonou o país antes da hora. O Brasil apoia a ampliação urgente do papel da Missão da ONU no país, que combine ações de segurança e desenvolvimento.

 

Senhoras e senhores,

 

Nas oito décadas de funcionamento das Nações Unidas, nem tudo foi fracasso.

 

A organização foi central no processo de descolonização.

 

A proibição do uso de armas biológicas e químicas é exemplo do que o compromisso com o multilateralismo pode alcançar.

 

O sucesso de missões da ONU no Timor-Leste demonstra que é possível promover a paz e a estabilidade.

 

A América Latina fez a opção, desde 1968, por ser uma Zona Livre de Armas Nucleares.

 

A União Africana também consolida seu protagonismo na prevenção e resolução de conflitos que afligem aquele continente.

 

Se a governança internacional não reflete a nova realidade multipolar do século XXI, cabe ao BRICS contribuir para sua atualização.

 

Sua representatividade e diversidade o torna uma força capaz de promover a paz e de prevenir e mediar conflitos.

 

Podemos lançar as bases de uma governança revigorada.

 

Para superar a crise de confiança que enfrentamos, é preciso transformar profundamente o Conselho de Segurança.

 

Torná-lo mais legítimo, representativo, eficaz e democrático.

 

Incluir novos membros permanentes da Ásia, da África e da América Latina e do Caribe.

 

É mais do que uma questão de justiça.

 

É garantir a própria sobrevivência da ONU.

 

Esse é o espírito do “Chamado à Ação sobre a Reforma da Governança Global” lançado pela presidência brasileira do G20.

 

Adiar esse processo torna o mundo mais instável e perigoso.

 

Cada dia que passamos com uma estrutura internacional arcaica e excludente é um dia perdido para solucionar as graves crises que assolam a humanidade.

 

Muito obrigado.

 

 

 ( da redação com informações de assessoria. Edição: Política Real)