Após Fundação Palmares excluir Marina Silva da lista de personalidade negra, líderes patidários chamam iniciativa de "estapafúrdia" e "inaceitável"
Presidente da comissão de meio ambiente do Senado, Fabiano Contarato foi outro que lamentou a decisão de Sérgio Camargo, que apesar de negro, é acusado pelo movimento negro de ser uma espécie de capitão do mato do governo Bolsonaro
( Publicada originalmente às 18h 40 do dia 13/10/2020)
(Brasília-DF, 14/10/2.020) Após o polêmico presidente da Fundação Palmares, instituição criada durante o governo do ex-presidente José Sarney para ser um repositório da luta antirracista no país, Sérgio Camargo excluir a ambientalista Marina Silva da lista de personalidade negra adotada pelo órgão, os líderes do Cidadania, senadora Eliziane Gama (MA), e da Rede Sustentabilidade, partido de Marina, Randofe Rodrigues (AP), chamaram a iniciativa de "estapafúrdia" e "inaceitável".
O presidente da comissão de meio ambiente do Senado, senador Fabiano Contarato (Rede-ES), também foi outro parlamentar que lamentou a decisão de Camargo, que apesar de negro, é acusado pelo movimento negro brasileiro de ser uma espécie de capitão do mato do governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido). O senador capixaba classificou o gesto do presidente da Fundação Palmares de "revoltante". Antes de excluir Marina da lista de personalidades negras da instituição, Camargo já tinha feito o mesmo com o nome da deputada Benedita da Silva, em setembro.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) também foi outro parlamentar que criticou a decisão de Sérgio Camargo, afirmando que o controverso dirigente cometeu um "crime". A Fundação Palmares tem como missão promover e preservar os valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira.
"Marina Silva foi excluída da lista de personalidades negras da Fundação Cultural Palmares. Marina não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil. Disputar eleições não é mérito. O ambientalismo dela vem sendo questionado e não é o foco das ações da instituição. Segundo críticos, enquanto o povo da Amazônia definhava, Marina Silva recebia prêmios de sustentabilidade na Europa. A permanência dela na galeria de personalidades negras da Fundação Palmares era insustentável e injustificável", comentou o dirigente da Fundação Palmares em seu perfil no twitter para justificar a decisão.
Demais polêmicas
Ao assumir o posto, Camargo chamou Zumbi dos Palmares, que dá o nome à instituição, de "filho da puta". Ele também já chamou o movimento negro brasileiro de "escória maldita". O presidente da Fundação Palmares é filho Oswaldo Camargo, um dos maiores autores negros, de literatura, do país e que sempre lutou, ao longo da vida, contra o racismo praticado no país: silencioso e institucional.
Em entrevista à Folha de S. Paulo em julho deste ano, Oswaldo Camargo disse que o filho "está usando, a seu modo, e conforme o que ele acha a melhor escolha, a sua liberdade" e que "apenas há à distância de ideias" entre eles.
Repercussão
Veja como se manifestaram alguns políticos sobre o assunto.
"É inaceitável! O negacionismo, o racismo e o ódio que estão entranhados nesse governo não podem ser aceitos nem tampouco institucionalizados! Presto minha solidariedade a querida Marina Silva, mulher negra, seringueira, sobrevivente das lutas e militante pelo meio ambiente e por justiça social. Não apagarão sua história! Esses ataques mostram a pequenez deles, incapazes e ignorantes que não merecem o posto que ocupam!", comentou o líder da Rede Sustentabilidade no Senado, Randolfe Rodrigues.
"Mulher, negra, evangélica, seringueira. Marina Silva q dedicou sua vida a causa ambiental, tem seu nome retirado da lista de personalidades negras da Fundação Palmares. A medida estapafúrdia é de Sérgio Camargo, o mesmo q disse ñ existir racismo no Brasil. Lamentável, revoltante!", complementou a líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama.
"Revoltante e inaceitável! Repudio um governo que nega o racismo e agora age para apagar da história oficial a biografia de Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, negra, seringueira, corajosa, que militou e milita por um país mais justo e igualitário", completou o senador Fabiano Contarato.
"[O] presidente da Fundação Palmares exclui Benedita da Silva e agora Marina Silva das personalidades negras. Isso é crime. O Ministério Público Federal tem que agir!", resumiu a dizer o petista paulista Paulo Teixeira.
"O nome de Marina Silva honra qualquer nação e um dia entrará no nosso Livro dos Heróis da Pátria, de todas raças, mas na Fundação Palmares de hoje seu nome é excluído da lista de personagens negros. Temos paciência histórica. Eles passam, Marina fica", comentou o ex-senador e ex-ministro da Educação, Cristóvam Buarque.
(por Humberto Azevedo, especial para a Agência Política Real, com edição de Genésio Jr.)